MARGINALIDADE – o que te fizeram!
Como quase tudo actualmente,
seguiu ela também a tendência de a nivelarem pelo mais baixo. O que caracteriza
a saudável marginalidade do ser humano são - ao contrário do rio que tem apenas a
margem esquerda e a margem direita – múltiplas formas de criar em desejada originalidade
e de se expandir, em face de um clima sócio-cultural oficial ou oficializado,
que faz sempre os seus prosélitos, que, com o passar do tempo, vicia e degenera
quantas vezes sem atingir a verdadeira ortodoxia ou incisão histórica.
Na sociedade portuguesa parece
existir apenas um modelo legítimo, por isso aglutinador, dos que discordam do
nítido mal-estar, do não pensar, do mau governar. Curiosamente, é esse modelo
que em certos momentos, um pouco à semelhança de certa rotatividade
democrática, colhe frutos ocasionais e aprecia muito recebê-los!...
No nosso panorama cultural, quer
antes quer depois de Abril, os que tentaram arduamente fugir desse paradigma
não têm sido aceites da mesma maneira que os referidos de certa rotatividade. O
chamado grupo da «Filosofia Portuguesa», marginal desde sempre, está entre
esses. Quem conhece a sua génese, o caminho percorrido, verá que, à parte uma
ou duas figuras que a alguns “dá jeito pôr na lapela” nunca são tidos para nada, nem
para reforçar outros marginais ao sistema - e muito menos os seus textos são
estudados nas universidades.
Mas a condição humana de
marginalidade não é a mesma do rio com as suas duas margens.
Eduardo Aroso, 14-4-2014