terça-feira, 21 de outubro de 2014


«Somente desembarcando na Ilha somos forçados a reconhecê-la como realidade»
(Desembarque dos Maniqueus na Ilha de Camões, de António Telmo)

 
Desembarca para saberes
Que a terra é terra
E entre ela
E para além
O céu é céu.

Chegar, seja em que tempo for
No oceano ou no ápice do ar,
Para saberes que existe Ilha
Ou o que seja ela toda,
A Terra florida e armilar.

Desembarca e chega
Para conheceres
O que é haver onde a alma for
Para tocares a árvore da vida:
Folhas, raízes do chão;
Raízes, frutos de amor.

Desembarca para corrigir
O reflexo da realidade,
Separando o chumbo do tempo
Que há entre esquecimento e saudade.

 
Eduardo Aroso
(Santa Clara-a-Velha, 21-10-2014)

segunda-feira, 13 de outubro de 2014


«SER OU NÃO SER [CEGO], EIS A QUESTÃO»

 Ao contrário do que se diz, não creio que a justiça e o amor tenham que ser cegos. A primeira, se alguma coisa tem de cega, não pode enxergar bem a razão toda, restando ainda saber até onde vai essa cegueira: se apenas física, ou se toca noutros “neurónios”.

Quanto à cegueira do amor, não contrario Pascal. No entanto, talvez não se tenha ele lembrado de outra palavra quando fala das «razões que a razão desconhece». Mas isso – no fundo, um engano verdadeiro! - valeu-lhe a celebridade da frase, pelo jogo linguístico.

Bom, mas nesta matéria deixo isso para os especialistas, isto é, para os oftalmologistas do coração, o que complica as coisas, porque diz-se que os olhos são o espelho da alma, a menos então que esta tenha uma ligação directa ao coração! Mas que menosprezo pelas estrias das mãos que são flores de carinho, quando estão junto de nós e são o centro do mundo, hastes de segurança; bandeiras de esperança, quando nos acenam de longe.

Eduardo Aroso

sexta-feira, 10 de outubro de 2014


OS PLANOS E OS DANOS

Condenai-me pelo ar que respiro,
Ó vós que tendes a gestão planeada
Dos planos de sustentabilidade
E daquilo que a crise rende.
Até quando a misericórdia do universo
Vos escuta e vos consente?!
Um vírus terrível entrou no conceito
De crescimento, ainda que a entropia
Nos dane a todos com o seu jeito.
Mas nem Deus vos condena
Nem Cristo a Maria Madalena.
É o vosso acto que um dia
Vos mostrará a lei de causa-efeito.

Eduardo Aroso
Outubro, 2014