quinta-feira, 8 de março de 2018


DA ESCRITA DE  RISOLETA C. PINTO PEDRO SOBRE ANTÓNIO TELMO

Há quem leia nas mãos, outros nos olhos, e há muito menos gente a ler o Portugal oculto, muito embora, em alguns contornos, seja visível em pormenores monumentais, na pintura, no pensamento português e na literatura. Risoleta C. Pinto Pedro deu à estampa a sua mais recente obra «António Telmo, Literatura Ɛ Iniciação», que nos chega como um ânimo atento e consciente da leitura de um dos maiores pensadores portugueses do século XX, árduo labor a que poucos se lançam, ou não fosse este um Getsmani perante o “literariamente correcto”! Aventura difícil que só a alma pode ter como regozijo compensador para quem percorre a verdadeira Tradição, quantas vezes labiríntica, mas que, apesar disso, é a única prova real de que há labirinto, enigma que não se pode anular, mas resolver-se (Pessoa diria «cumprir-se») pela única entrada e saída.
Não seria atrevimento, sobretudo pelos últimos escritos de Risoleta, dizer que esta também persiste em não quebrar o subtil fio de Ariadne, na esteira da via sibilina e serviçal que, por exemplo, uma Dalila Pereira da Costa também percorreu, por certo em tempos e contextos de vida diferentes, mas sempre no único e mor contexto que designa de Portugal, e para alguns de Porto Graal.
O facto da capa de «António Telmo, Literatura Ɛ Iniciação» constar de uma foto, onde vemos o olhar perscrutador de António Telmo, qual radiografia pensante sobre a pedra do Mosteiro dos Jerónimos, sendo um pormenor da obra em causa é contudo algo que não está alheio ao conteúdo do livro. Da sua leitura, ficamos com a serena convicção da autora desta obra nos poder esclarecer - melhor dizendo, aproximar - o leitor do legado de António Telmo. Como se apresentasse, face a face, o leitor ao filósofo e disso resultasse uma atmosfera mais propícia e apetecível para percorrer a sua obra, começando logo pela linguagem cristalina, muito própria de Risoleta. Esta não cai na tentação do que muitas vezes acontece: pretender dizer o que o autor estudado nunca diria, e nós vemos que os corredores académicos estão cheios disso. O que a autora, serenamente, vai operando em cada página, é trazer o que porventura escape ao leitor numa leitura que não capte com mais facilidade todo o manancial télmico. Uma coisa é certa: Risoleta C. Pinto Pedro move-se (e move-nos), não enjeitando a mesma atmosfera anímico-espiritual e na linha fulcral de pensamento do autor de «História Secreta de Portugal». A afeição a essa atmosfera é como um horizonte para além do qual se adivinha não uma mas várias Índias ou a caverna da palavra que ainda nos pode devolver o «pensamento que pensa», o mesmo é dizer para nós que acreditamos que há ainda uma casa ou pátria física e/ou anímica onde se repousa e ganha força para a batalha da vida.
Quanto a essa atmosfera onde Risoleta C. Pinto Pedro se move (e nos move), aí reside o essencial, mas convém dizer que estar no tom, como bem sabem os músicos, não é necessariamente repetir as mesmas frases musicais nota a nota, pois que por variante se pode entender continuar na mesma tonalidade. E se modulação houver, trata-se de dar continuidade ao que não tem deve ter cisão.

Eduardo Aroso
8-3-2018

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