quarta-feira, 2 de outubro de 2019


APRENDIZES DE GAMAS, MAGALHÃES E CABRAIS©

Sem carteira profissional e com bússolas avariadas (embora com gps muito pessoais) correm numa agitação de quem anda a fazer estágio para comandante de embarcações. Bebem um copo ali e outro acolá, e dão dois dedos de conversa. O seu lugar deveria ser nos estaleiros da nação, porque também aí se despacha correspondência e se desempenham outras tarefas. Trabalho de fundo seria mesmo ver se o casco do navio não deixa entrar água. Mas a obsessão pelo estibordo e bombordo (direita e esquerda da embarcação) leva-os a estados maníacos, e cada qual dizendo que um dos lados do navio é o mais importante, querendo fazer dele proa! Isto não fica bem numa classe profissional, ainda por cima de estagiários, que praguejam ainda antes do navio zarpar! Cada qual quer ter a façanha de chegar à Índia, isto é, quer a Índia para si: dispensando a canela e o marfim, pretendem apenas o ouro e, claro, para os familiares, o lugar de contador-mor nas alfândegas. Esquecem-se que a Índia já não é a do mapa, mas a que se pode construir no chão de cá, onde, tantas vezes, se fazem estranhos consentimentos.
Este fim-de-semana vão desfilar na “passerelle”, e ainda bem, pois se não houvesse passerelle seria muito pior…  Não deixe ao menos de dizer quem é que é vai mais bem vestido e quem, em caso de naufrágio, pode impedir de entrar água no navio.

Eduardo Aroso ©
(em dias de Interregno)
2-10-2019

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