Os gritos de silêncio da paisagem social portuguesa, em alguns ferem-lhes mais a alma do que os ouvidos. Cripto-sonoridades porém inaudíveis aos alimentadores da “cavalgada do tigre”, aos imparáveis que se desvincularam completamente das melodias ternas e dos cantos vitais, marchas de forças telúricas e anímicas da nação. Ao contrário da grande arte que é a música, os silêncios forçados do Portugal de hoje não encontram a sua simetria na construção lúcida e duradoura como arquétipo, ou no arquétipo. Encontram, isso sim, como ruído (uma espécie de “travesti”) o que deveria ser, como queria Pascoaes, uma «Arte de Ser Português». Ruído feito das mais estranhas atonalidades político-sociais, de ritmos esquizopenetrantes de atitudes desfocadas dos responsáveis do país e da nação. Enfim, uma triste obra acabada do que se poderia chamar «desportugalização».
Eduardo Aroso ©
27-10-2021
(dia dos fumos da República)