quarta-feira, 27 de outubro de 2021

Os gritos de silêncio da paisagem social portuguesa, em alguns ferem-lhes mais a alma do que os ouvidos. Cripto-sonoridades porém inaudíveis aos alimentadores da “cavalgada do tigre”, aos imparáveis que se desvincularam completamente das melodias ternas e dos cantos vitais, marchas de forças telúricas e anímicas da nação. Ao contrário da grande arte que é a música, os silêncios forçados do Portugal de hoje não encontram a sua simetria na construção lúcida e duradoura como arquétipo, ou no arquétipo. Encontram, isso sim, como ruído (uma espécie de “travesti”) o que deveria ser, como queria Pascoaes, uma «Arte de Ser Português». Ruído feito das mais estranhas atonalidades político-sociais, de ritmos esquizopenetrantes de atitudes desfocadas dos responsáveis do país e da nação. Enfim, uma triste obra acabada do que se poderia chamar «desportugalização».

Eduardo Aroso ©

27-10-2021

(dia dos fumos da República)  

sábado, 16 de outubro de 2021

 

Estou saturado de sons electrificados, torcidos e distorcidos, farto de sons digitais e outros artificiais. Anseio pelo som acústico, esse quase aroma que nos envolve e que parece até transpirar quando a melodia se torna madura… Seduzem-me as «paisagens sonoras» de Murray Schafer, filtradas do ruído, para que num mundo que é hipnotizado pelo visual, haja centralidade no que deriva do Verbo como criação. Paisagem sonora que nos limpe da quase exclusividade do binário e nos devolva ou inspire o ternário. Tudo isto com uma pitada das arcadas sonoras renascentistas.

Eduardo Aroso©

16-10-2021