quarta-feira, 22 de junho de 2022

 

A Isaura F. E.

(na memória atravessando

a matéria e o tempo)

 

Até quando na ocidental praia

respiramos ainda o sonho rarefeito

pelo zimbório aberto da aventura?

Oh, triste contentamento descansar

tão-só na tatuagem das algas,

pois nada pode ser demanda

pela descarbonização das areias.

 

Eduardo Aroso ©

Solstício de Verão

Junho 2022

 

domingo, 12 de junho de 2022

 

 

A FAKE-NEW DA MORTE DE FERNANDO PESSOA

 

Dizem que foi em Novembro no ano 35.

Sem televisão, anunciaram-na nos jornais.

Mais tarde levaram os ossos para os Jerónimos

Ou… talvez de um anónimo entre os mortais.

 

Anos depois vieram as cátedras pomposas

Como se fossem metódicos anatomistas

Dissecando do poeta as múltiplas personalidades

Quando era apenas uma grande alma de largas vistas.

 

O Fernando, antes de tudo, uma excelente Pessoa,

Que sabia inglês para dar, emprestar ou vender,

Disse-me aqui ao ouvido que isso da sua morte

Foi quando as fake-news começaram a aparecer…

 

Eduardo Aroso©

Véspera de 13-6-2022

 

quinta-feira, 9 de junho de 2022

 

LUÍS DE CAMÕES – ENTRE A FORÇA DA GRAVIDADE E A FORÇA CELESTE

 

«E aqueles que por obras valerosas

Se vão da lei da Morte libertando»

(Os Lusíadas, Canto I)

 

A gravidade é uma das leis da física que mais facilmente entendemos desde os bancos da escola. A invenção do avião, não podendo anular essa lei, trouxe contudo a possibilidade de nós escaparmos, por mais ou menos tempo, a essa força que nos puxa para baixo. Segundo a ficção científica – que lentamente sempre se vai tornando realidade – é possível viver cada vez mais tempo no espaço.

Quando Camões se referiu à libertação da lei da Morte, apontava a possibilidade do glorioso caminho que, num futuro talvez distante, toda a humanidade pode trilhar. É evidente que não se trata de viver eternamente no corpo, mas da construção por cada um de uma espécie de “corpo vital de memória”. Construção ou libertação ultrapassando a não-memória ou a má-memória. Milhares de seres humanos morrem diariamente ainda nestas condições não realizadas. Raros se elevam, no tempo, nesse corpo ou auréola. Há também os que fazem batota, ou seja, os Ícaros que julgam ter asas (ou as compram na contrafação), que logo caem no chão derretidas pelo sol da verdade, no julgamento da História. Nestes últimos tempos, nas comemorações do 10 de Junho da velha Casa Lusitana, muitos Ícaros têm exibido a sua lapela, mas, ao invés dos aviões, não criaram propulsão. Ícaro caiu no mar Egeu; os nossos caem na costa atlântica ou mesmo em terra. As medalhas podem ficar. As asas, por serem de cera, é que se vão derretendo…

 10 de Junho

Eduardo Aroso ©