domingo, 9 de abril de 2017

Domingo de Ramos (in ilo tempore) ©

Dias antes já era uma azáfama, um louvar a Deus de preocupações e alegrias. O corte do loureiro e enfeitá-lo não era menos preocupação para os rapazes do que o lavar das casas para as mulheres. «A limpeza Deus a armou» diziam as mais velhas, e assim teria que ser para dali a dias receber o Senhor. Escova de aço nas mãos, sabão azul e os joelhos em penitência a lavar o sobrado. Os aspiradores eram naquele tempo ficção científica.
A maior altura do loureiro que os rapazes levavam era o record a alcançar. Mas quanto mais alto, mais peso, por isso os mais velhitos tinham vantagem. À porta da igreja tinham que os baixar para entrarem convenientemente; o entusiasmo era maior do que a altura! Estava ali a representação bíblica, à maneira da aldeia, de gente simples mas autêntica. Era a nossa entrada triunfal em Jerusalém. Lá dentro, alguns loureiros roçavam o tecto da igreja perante alguma preocupação do padre que começava a celebrar a missa, não fosse a pontareca de algum ramo  bater no azeite das lamparinas. Depois a água benta chegava a todo o lado no momento próprio. Quanto às mulheres, não tinham problemas, pois os raminhos que levavam quase cabiam debaixo das mantilhas.
À saída o entusiasmo não era menor do que aquele que tinha entrado uma hora antes. É que para o Domingo de Páscoa faltava uma semana e já se pensava no junco e no rosmaninho.

Eduardo Aroso ©

Domingo de Ramos, 2017

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