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Mãe, a Terra é redonda?
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É, meu filho.
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Onde é que é mais redonda?
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Na Esfera Armilar!
Eduardo
Aroso©
26-1-2023
Portugal universal; não o efémero que nos amarra como única realidade nos cárceres escuros onde mataram o Sonho. Poemas e textos, alguns publicados em livros e revistas impressos, outros em blogues e os dados a conhecer aqui, para o domínio público, seguindo o rumo da Criação: a obra nunca está definitivamente acabada.
ADVENTUS
V
Ao artista Jorge Ulisses
Dezembro 2022
«TALENT DE BIEN FAIRE»
Agosto 2022
A TERCEIRA (E ÚLTIMA) MORTE DE MIGUEL TORGA
No meu texto intitulado «A Segunda Morte de Miguel Torga»,
aqui publicado há cerca de dois anos, estava eu longe de imaginar que não seria
a última! No mundo onírico o poeta (que deixara o seu corpo físico em 17 de
janeiro de 1995) surgia-me triste por certos acontecimentos, mas com alguma
esperança. Mas desta vez não foi assim. Na noite anterior ao corte dos plátanos
do parque - por acaso ou não – tudo foi mais simples. Houve uma sintonia quase
imediata no encontro, pois da última vez não estávamos bem cientes da difícil
movimentação no mundo onírico.
Agora, o escritor foi directo: - Olhe amigo, não volto a descer de mais acima para ver cenas e figuras tristes. Fiquei sem respiração e disse: - mas, estimado poeta, agora que o seu rosto consta nos autocarros, que existe a Casa-Museu com seu nome, enfim… Deixei-o continuar: - Sabe uma coisa? As melhores recordações que trouxe para este mundo são aquelas vividas para lá do Marão e outras, é claro, de outras terras onde o povo ainda mantém alguma coisa de si, mas não se sabe até quando. E se em Portugal as cidades são labirintos e conflitos, as terras mais pequenas são desertos de abandono. É grande a diferença de uma camisa suada de alguém que anda de sol a sol, seja na terra ou em cima de um andaime, e a desses que só assinam decretos. Interrompi-o, com algum receio, dizendo que gostava do seu livro «Portugal», uma verdadeira geografia literária do país. O escritor, que nunca foi muito de risadas, manteve as faces imperturbáveis. Mas eu pude ler nos seus olhos o gosto que sentiu quando lhe falei nessa obra. Perguntei-lhe que imagem tem da cidade de Coimbra. - Olhe, é tal e qual o mito de Sísifo: quando alguém empurra algo para cima, logo outros deixam cair ou empurram mesmo para baixo! E não se passa disto. Por isso a cidade está como está.
Fizemos alguns segundos de puro silêncio. Despedi-me, dizendo que quer o poeta
acreditasse ou não em anjos, neste mundo os seus leitores seriam uma espécie de
anjos que guardariam a sua memória e a sua obra; os leitores, sim, e não tanto
os que pegam nalgumas palavras da obra que nunca leram para as bandeiras das
suas conveniências. Agora o poeta poderia assim partir definitivamente em paz
para os reinos celestiais.
Eduardo Aroso©
Equinócio de Outono, 2022
Passo na rua principal da urbe onde o Rei fundador da nacionalidade quis viver e ser sepultado. Cruzo a cidade que se fez pela vetusta universidade que tem as suas irmãs em Oxford, Pádua ou Salamanca. Passo junto às montras com exposições de cortiça; das lojas dos preços de um euro. Entro nas livrarias cheias de best-sellers geralmente de jornalistas americanos, de atraentes livros de gastronomia, ou de tácticas militares à mistura com os programas salvíficos de economia.
Passo pela Ferreira Borges como cão por vinha vindimada, mas
também sobre o inconsciente citadino que parece esperar por certa movimentação
de placas tectónicas de energias estagnadas. Atravesso a ponte e vou respirar
lá para os lados de Santa Clara. Onde estais vós ó filhos e filhas da Lusa Minerva
para acudir à cidade?!
Eduardo Aroso
GOSTO DOS POETAS
Agosto 2022
A RAINHA SANTA ISABEL E A MENSAGEM DE FERNANDO PESSOA
A Rainha Santa Isabel e Inês de Castro, duas
figuras femininas que, apesar de tão marcantes e representarem arquétipos
diferentes se tornaram míticas no verdadeiro sentido da palavra (pelas razões
que conhecemos) não constam na Mensagem pessoana. As razões cabem apenas ao
poeta, que não as explicitou (não tendo que o fazer), pelo que somente as podemos
conjecturar. Todavia, o poeta glosa D. Tareja (Teresa) mãe de D. Afonso
Henriques e D. Filipa de Lencastre mãe da Ínclita Geração. Ambas estão
respectivamente na raiz da 1ª e da 2ª dinastias, do Portugal-matriz,
interrompido em Alcácer-Quibir, logo dominado por Espanha e depois entrando numa
espécie de “clandestinidade” sobretudo na segunda metade da 4ª dinastia e na
subsequente república.
Seja como for tudo isto, as devidas honras (e devoção) que prestamos à Rainha Santa que instituiu oficialmente o Culto do Espírito Santo em Portugal, que transformou rosas em moedas de oiro para pagar aos operários da Igreja de Alenquer, não deixa de estar num admirável contraponto com a (feliz) iniciativa de, neste dias, haver uma Guarda de Honra no Panteão Nacional, Igreja Santa Cruz de Coimbra. Quanto à Guarda de Honra, que existe todo o ano na Igreja de Santa Clara, é feita por Anjos.
4-7-2022
Festas da Padroeira da Cidade de Coimbra