sexta-feira, 14 de janeiro de 2022

 

 OS DEBATES TELEVISIVOS E A QUESTÃO QUE FALTA:

                        PORTUGAL DEVERIA MUDAR DE NOME?!

 

Na esfera dos artistas, é frequente estes mudarem de nome, isto é, sentem necessidade de adoptarem um outro mais ajustado ao que são. Num outro âmbito, a questão poder-se-ia colocar para o nosso país. Já não somos o Portugal do rei Fundador que, num gesto pioneiro de verdadeiro ecumenismo, fazia pactos com chefes muçulmanos na perspectiva do lema «viver e deixar viver»; nem do país do Rei-Lavrador que laborou mais pela Língua Portuguesa do que qualquer governo dos últimos cem anos; porque também já não somos o Portugal da Ínclita Geração, à qual têm sucedido algumas ímpias gerações; ou mesmo do Portugal que ao fim de  sessenta anos resolveu não querer mais o jugo castelhano, gente do Interregno à qual sucederam gerações que lá conseguiram resistir ao mapa cor-de-rosa e posteriormente outras que se prestam a cobaias de manobras internacionalistas, ao mesmo tempo que se envergonham do melhor da nossa gesta histórica, enquanto alguns de fora a têm estudado com afinco. Pode-se dizer que uma das últimas notáveis gerações foi a da Renascença Portuguesa (uma verdadeira elite cultural que hoje é mal vista no mundo académico) bem como do nosso Modernismo. Sufocados por cerca de um século de positivismo e nihilismo do Círculo de Viena (1922-36) que instituiu o paradigma hoje vigente em toda a Europa, por cá, hoje nos debates televisivos, chegámos à usurpação total dos nomes «Portugal» e «portugueses», como se fossem peças mecânicas de substituição rápida, onde a palavra educação nem uma vez é mencionada no debate dos dirigentes dos dois maiores partidos políticos.

Por tudo isto e do muito mais que se poderia dizer, é caso para perguntar se, em abono da verdade, Portugal não deveria mudar de nome. Há quem não goste de termos como «enigmático» ou «misterioso», admitindo que só a visibilidade pelo sensorial pode explicar tudo. Contudo existe algo de profundo e subtil que não sendo irracional também se furta a certo racionalismo, a deduções de causas meramente eficientes e funcionais (termos tão gratos a políticos e economistas do “mainstream”). O que há, firmado na lenta estratificação histórica, é um nome do qual é difícil dar-se uma cisão total: Portus Cale ou Porto do Graal.

 

Eduardo Aroso

14-1-2022 

 

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