domingo, 21 de abril de 2013


NA MEIA JANELA DA LIBERDADE SÓ UM COMBOIO PASSA
Trinta e nove anos para abrir a meia janela da liberdade. Há migalhas no parapeito, junto às cortinas rasgadas, onde se dá de comer às aves do céu… E vêm muitas. Passam horas, dias, e a febre sobe, sobe, fazendo rebentar as flores (e talvez as veias) desta primavera. Os comboios não passam, a não ser o «comboio descendente» de Pessoa, onde «riem todos à gargalhada». É o comboio em queda livre. A liberdade é um quisto de que não se cuida. Nem do pão que a alimenta, do suor do rosto justo e responsável.
Já sabemos de que lado nasce a noite: do farol fundido, junto à torre maior da freguesia; e mais a norte no mapa do continente que engana quem não lhe conhece a cronologia. Já sabemos como a noite nos envolve no silêncio réptil da volta seguinte ser sempre mais apertada. Falta encontrar a chave para esconder de vez o papão lá ao fundo, no quarto das inutilidades.
«E depois do adeus…» longa é a espera. Valha-nos Deus!
Escrito por Eduardo Aroso em 21-4-2013

quarta-feira, 17 de abril de 2013



POEMA DA FACA

(Em jeito de posfácio ao posfácio
de António Cândido Franco a Contramina de Ruy Ventura)

Em todo o caso ela divide a força
Corte dissonante chamando o ser,
Antítese além-sangue
Para mais ver.
Impossível é separar a alegria
Chispa do momento,
A circulação maior que ninguém corta
Nas artérias intocáveis do vento…

A faca ressurgiu, Fénix primeira,
Existindo para cortar a rima do mundo
Separando de abundância a poesia!
A verdade da voz que há na faca
É maior que o seu tamanho:
Antes do punho e da ponta
É o modo como corta ou fala.

Eduardo Aroso

(Coimbra, 16-4-2013
Apresentação de Contramina de Ruy Ventura na Casa da Escrita)

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