terça-feira, 30 de dezembro de 2014


AS CIDADES E A VIA

                          A Edmundo Teixeira, in memoriam

 
Oh, Babilónia, Oh, Jerusalém!
Irmãs desencontradas, não conheceis
A verdade da vossa natureza
Na luta que há tanto se mantém?
Pois não ouvis a voz do Alto
Que mostra Reino de maior grandeza?!

Em ti, Babilónia, se ergue a perdição
Nos degraus que subimos de egoísmo
Quisemos a torre funesta da confusão
Crescendo de caos e materialismo.

E vós, Jerusalém, ruas ainda desertas,
Futuras searas e vinhas do Senhor.
Quando se levantam almas despertas
Nas madrugadas voluntárias do amor?!

Eduardo Aroso ©
Natal de 2014

segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

A CHAMA E A DISTÂNCIA

 
Dava-te o fogo mais fogo
E só poderia ser
O que em mim acendeste.
Em labaredas vivas
Eu percorria
O longe que se fez inevitável.
Na planura do deserto e no íngreme da montanha
A minha ânsia seria um corcel alado.
Tudo
Para estares comigo
À fogueira neste dia.

 
Eduardo Aroso ©
22-12-2014

domingo, 21 de dezembro de 2014

AFORISMOS DE IMANÊNCIA (27)

Não duvides: a resposta para a tua pergunta está na interrogação seguinte.

Eduardo Aroso
20-12-2014

quinta-feira, 11 de dezembro de 2014


                                       A PALAVRA (SEMPRE) UMBILICAL

 Substituir, no possível, a informática anarquizante e às vezes obscura, pela informática de proximidade, mesmo que possa bloquear pela respiração e transpiração das pessoas.

Mudar o barrete vermelho e branco – que se cola ou coca-cola - pela dignidade da palavra.

Converter a guloseima feita do acidificante açúcar industrial pela broa sem milho transgénico.

Provar (ainda) o silêncio da chama da lareira, ou apenas desse levíssimo rumor de memórias, na difícil pausa que interroga e depois responde.

Com ou sem fumo da chaminé, a voz como línguas de fogo, iniciando o calendário da esperança na primeira folha que se abre no escuro mais longo do solstício.

A reverberação da palavra no alpendre, à entrada de tudo, no pátio ou no café, ou no espaço maior de todos nós, filhos deste tempo, porque dele somos todos sem-abrigo.

Plasmar o verbo na noite contraída por tanta lembrança e, olhando o horizonte nocturno, no propósito de nunca pronunciar em vão o presente do indicativo do verbo Amar.

 

Eduardo Aroso ©

Natal, 2014

quarta-feira, 3 de dezembro de 2014


TRÊS POEMAS DE NATAL 
 
À memória de José Ledesma Criado e em amizade com outros dois poetas: António Salvado e
Alfredo Pérez Alencart.
 

               1

Renovar a carne
Para que não seja sempre
A mesma limitação.
Quero-a ágil
E que me responda como o vento.
Todo o momento é frágil
Até que as pedras sejam todas luz.
Renovar a carne
É escutar pela noite dentro
A esperança das velhas profecias
E o vigor de semear hossanas,
Boa-nova das madrugadas,
Salmo dos dias.

            2

 
Há um berço universal
No frio carinhoso do solstício de Dezembro.
Astros e estrelas: pirilampos da Criação!
E nem as trombetas dissonantes
Que apupam este mundo imundo,
Os podem assustar.
A obstetrícia rodeia incessante
A gestação divina que ultrapassa
Além das nove luas
Aquele que nasce – sempre disposto a nascer –
Dissipando a morte, libertando mais
Que a abolição da escravatura.

             3

 
Deus não desce,
Pois nós é que temos de subir…
E o deserto existe
Para que a água sacramentada
Na areia seja salvação.
Sei que alguém gostaria
De ter estrelas na mão
E livrar-se
Do exercício benéfico do longínquo.
A sapiência enrola-se à maneira do caduceu
No bordão do peregrino.

 
Eduardo Aroso ©
Natal, 2014