quarta-feira, 3 de dezembro de 2014


TRÊS POEMAS DE NATAL 
 
À memória de José Ledesma Criado e em amizade com outros dois poetas: António Salvado e
Alfredo Pérez Alencart.
 

               1

Renovar a carne
Para que não seja sempre
A mesma limitação.
Quero-a ágil
E que me responda como o vento.
Todo o momento é frágil
Até que as pedras sejam todas luz.
Renovar a carne
É escutar pela noite dentro
A esperança das velhas profecias
E o vigor de semear hossanas,
Boa-nova das madrugadas,
Salmo dos dias.

            2

 
Há um berço universal
No frio carinhoso do solstício de Dezembro.
Astros e estrelas: pirilampos da Criação!
E nem as trombetas dissonantes
Que apupam este mundo imundo,
Os podem assustar.
A obstetrícia rodeia incessante
A gestação divina que ultrapassa
Além das nove luas
Aquele que nasce – sempre disposto a nascer –
Dissipando a morte, libertando mais
Que a abolição da escravatura.

             3

 
Deus não desce,
Pois nós é que temos de subir…
E o deserto existe
Para que a água sacramentada
Na areia seja salvação.
Sei que alguém gostaria
De ter estrelas na mão
E livrar-se
Do exercício benéfico do longínquo.
A sapiência enrola-se à maneira do caduceu
No bordão do peregrino.

 
Eduardo Aroso ©
Natal, 2014

 

 

 

 

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