A DISTÂNCIA, O TEMPO E A «VERDADE DO AMOR»
DE SOLOVIEV
Sobretudo nas últimas décadas, vencida
relativamente a distância pelos meios que estão à vista, bem mais difícil se
torna vencer o tempo, já que este, ao contrário da primeira, parece ser o
efeito de uma metamorfose da matéria. O corpo humano desgasta-se mais no tempo
do que uma rocha e do que o próprio sistema solar que permanecerá ainda milhões
de anos!
Mas a busca para vencer o tempo continua,
porque, em boa verdade, já há muito sabemos que existe um tempo objectivo
(Cronos) e um tempo subjectivo (que pode ser atribuído a Urano). É bem
conhecida a imagem clássica da sensação de tempo tão diferente que decorre
quando dois namorados passeiam agradavelmente ou a de um condenado numa prisão.
O domínio do tempo – inquestionavelmente uma ambição máxima do homem – parece estar
relacionado com o mergulho num ponto central, de onde tudo emana, na imagem da
circunferência com o ponto. O Tao diz-nos algo sobre isso bem como a filosofia
rosacruz (dada por Max Heindel) que na sua Cosmogonia refere que (ao contrário
de um “light new age”) os mundos não são
paralelos, mas concêntricos. Neles a sensação de tempo depende da vibração
desses mundos: quanto mais denso (o caso do nosso mundo físico) mais sensação
de tempo.
Mas é nele que estamos. Nicolau Berdiaeff
(1874-1948) em «Cinco Meditações sobre a Existência» examinou habilmente – e de um modo nem sempre
fácil para o leitor – a velha e nova questão do tempo. Mas já que falei num
ponto central, há que falar também de V. Soloviev (1853-1900), quando trata o
tema do amor. No fundo, é ele que tudo regenera, e diria que regenera todos os
tempos nas clássicas formas passado presente e futuro, porque, assim, até este
último se constrói melhor. E o que pode parecer mais estranho - mas não tanto!
- é que o Amor é algo sempre existente, não dependendo da acção humana, para
começar ou acabar; apenas nos momentos mais fatais pode ser interrompido ou
modulado.
É claro que não se trata do sentimento da
grosseira expressão “fazer amor”, que tomou conta de nós numa das maiores
ilusões do relacionamento entre pessoas. ©
Eduardo Aroso, 9-11-2013