domingo, 17 de fevereiro de 2013

Bucólica de poetas
 
Todo o possível alimenta o sonho
Que se doira pela tarde no eirado.
A coroação das raízes
Faz-se ao sol quando a palavra aquece.
Todo o fruto amadurece
E a doçura faz dele uma varanda.
As nuvens içam-nos para o alto
A outra luminosa terra, verde prado,
Onde as próprias cabras
Pastam no telhado.
 
Eduardo Aroso

15-2-2013

Publicado em 15-2-2013, pela 1ª vez em

http://circuloantoniotelmo.wordpress.com/2013/02/15/um-poema-inedito-de-eduardo-aroso-6/

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013


AMAR PORTUGAL (4) Da Compulsão Religiosa do Português   ©
Nietzsche disse lapidarmente que o jornal diário veio substituir a missa da manhã. Esvaziada hoje por obscuros e labirínticos corredores, quando não por nítida perversão do sentido informativo, esta espécie de “missa laica” desfolhada em páginas da imprensa em papel, parecer ter passado para o facebook e para o telemóvel, sem que esteja a salvo a sua permanência desta maneira.
Há assim uma deslocação para a busca diária de algo onde também somos convidados pelo constante e pendular movimento de rotação da Terra. Querer saber notícias (estabelecer pontes entre o mundo do outro e nós próprios), é também outra inquietação de religiosidade, seja religare a terra com o céu, ou o homem de fora com o seu céu interior, a que alguns chamam alma. Tudo isto independentemente da igreja a que pertença ou não pertença. Esta compulsão interior, amortecida de várias maneiras, instintivamente quer acompanhar um outro ritual que é o do alvorecer, da saudação ao sol como palavra (sinal) de esperança e de conforto, dados pelo mais visível rosto da Vida.
No caso português junta-se uma outra possibilidade da continuidade do ritual, seja no quintal, seja na praia, não apagando assim de todo peculiares e ancestrais vivências pagãs. Sempre que tem folga, o português elege a natureza como intermediária entre o fastidioso e cada vez mais complexo mundo do trabalho e a sua compulsiva divindade, que vê e sente nas ondas, nos ventos e até na indecisão das dunas onde inconscientemente pode confundir um D. Sebastião com um pescador ou uma sereia! Hoje, o português toma a natureza não como altar voluntariamente preparado, não por dentro ao modo de Frei Agostinho da Cruz ou de Pascoaes, mas pela dádiva da ondulação à vista, a conversa ao lado do farnel e as gaivotas sobre a areia e alguns biquínis. É assim neste templo natural e instintivo, que fica a meia distância de outros de arquitectura antiga ou contemporânea. E, se não quer estar parado, prefere ser caminheiro a uma romaria ou a um santuário, tendo o melhor exemplo o de Fátima. No português habita a sensação – preguiçosa e espreguiçada ao sol – de ser filho do céu, o que amolece e lhe completa mais o perfil dos «brandos costumes». Religiosidade, ora grácil ora amortecida, que tende a diluir-se na vibração. Colectivamente, o seu sentimento religioso nunca foi confrontado com a tese da mística castelhana de um Juan de la Cruz, a da noite escura da alma, quando Deus «oculta a Sua face». Nem nos sessenta anos de domínio filipino, nem paradoxalmente em face dos horrores elementais do Adamastor. Dir-se-ia que, para o português, a natureza o consola, ao mesmo tempo que lhe amortece a sua inquietude religiosa própria, forjando assim a sua brandura de costumes, ao invés de interpelar Deus com algum furor como o faz, por exemplo, o germânico, cujos resultados da indagação chegam por canais de outra ordem nem sempre benignos.
Amar Portugal é criar espaços portugueses dentro dos espaços indiferenciados.
Amar Portugal é não lhe desfigurar mais o rosto, denunciando a vil inestética que grassa tocada pelo vil metal.
Amar Portugal é tornar português tudo o que nasce aqui filho dos sem-pátria e sem sentimentos que não sejam os de rapina, isto é, do que se manda vir de fora para a nossa escravização, em vez da realização plena como foi prometida, há séculos, em Ourique.
Eduardo Aroso
13- 02-2013 (efeméride de nascimento de Agostinho da Silva)

terça-feira, 12 de fevereiro de 2013


REENCONTRO

A terra veste-se de vários modos consoante a época do ano.
Mas não põe máscaras.
Hoje tomei-lhe a epiderme.
E na seiva da raiz dos limoeiros
Que me deu através das minhas mãos,
Senti que era a maneira mais autêntica de me beijar.

Rio de Vide, 12-2-2013
Eduardo Aroso

domingo, 10 de fevereiro de 2013



CELEBRAÇÃO

      À Maria Toscano,
      de poeta a poeta

Arde-nos o sol nas mãos
Quando a palavra se lavra,
Consentida.
Sabemos da relação natural
De giestas e neurónios;
Do suor oculto da humanidade
Na busca da perene ideologia.
Comungamos do sem cansaço de estar de pé,
Do primeiro vómito criador da terra
Na memória antiga dos silêncios contidos
Com um timbre de voz
Que se derrama por todos os sentidos.

No Café Montanha (Coimbra),  em 29-1-2013

Eduardo Aroso

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013



AQUI

Todos os dias uma rosa se dispõe
A beijar a cidade.
De noite vigiou-se no escuro
Para ser Lua e Sol
De brancura e claridade.
Mas ninguém vê quando as pétalas
Caem no puro chão.
Ninguém olha as nuvens de melodia
Que tornam apetecível
O mais estranho pão.




Coimbra (Santa Clara, 30-05-04)



Publicado pela 1ª vez em 2006 em
 http://triplov.com/espirito/aroso/2006/Rainha-Santa.htm










terça-feira, 5 de fevereiro de 2013


«Poemas do Arquétipo»

O meu segundo livro, apresentado no Auditório Municipal da Figueira da Foz, em Julho de 1990. Iniciou a Colecção Ponte (Poesia) do GRESFOZ (Grupo de Estudos Figueira da Foz) do qual sou um dos fundadores. Perante o auditório repleto, teve a presença dos colegas poetas, Raul Traveira (que apresentou um estudo numerológico-pitagórico dos poemas), Julião Bernardes e Manuela de Azevedo, bem como  da saudosa amiga Maria de Lurdes Ribeiro. Houve ainda a participação da Academica de Música Monteverdi (Coimbra) e da Tertúlia do Fado de Coimbra, grupos dos quais também sou co-fundador.



                                                              TOMAR

                                                              Ainda hoje
                                                              As constelações
                                                              São em ti esplendor,
                                                              Ponto vivo
                                                              De energia e de amor.

                                                              Quando batem as horas
                                                              No bronze alquímico,
                                                              Os cavaleiros vigiam
                                                              No altíssimo segredo
                                                              O nosso inteiro destino.

                                                              Tomar,
                                                              Onde a neblina,
                                                              Quando se forma,
                                                              É uma esfera armilar.


                                                              Eduardo Aroso
                                                              Poemas do Arquétipo

domingo, 3 de fevereiro de 2013



SAUDAÇÃO

Limpamos as manhãs quando dizemos bom-dia!
Então o azul aproxima-se de nós.


Eduardo Aroso, 2-2-2013