quinta-feira, 25 de outubro de 2018


ODE AO BRASIL
(EM ACENTO AGUDO)©


De que lado é oriente, despertar,
No país do sul e vigor ocidental,
Do nervo de sol desfazendo ganga,
E agora de que lado vai soprar
O novo grito de Ipiranga?
Mexe no chão, mexe Brasil,
No grande rio que não desiste
Guarda-mor de tantas gerações,
No ar há sonhos que circulam
Sem que ninguém os agarre
E olha que há no povo vulcões
De lava saindo no lado errado
Não caias nos momentos antes
De acabar a grande maratona
Onde esperam bater palmas
Resistentes e répteis mutantes.
Vai além do meio tom cantado
Não te fiques no gesto de ancas
E rosto de meias-tintas consentidas
Avança no dia seja ou não impossível
Na hora que é tempo exacto
Das soberanas coordenadas tropicais:
Niemeyer ainda traça o teu perfil
E Betânia e Caetano, um de cada lado.
Metade samba e metade fado.

©Eduardo Aroso
23-10-2018


sábado, 20 de outubro de 2018


BRASIL – É A HORA

O filósofo português José Marinho (1904-1975) disse de Portugal ser «o país do extremo erro e do extremo acerto». Medular afirmação que, neste momento crítico, parece ser comungada pelo Brasil: se sobre o «extremo erro» não restam dúvidas - como também por cá às vezes tem acontecido – a esperança e a possibilidade é do «extremo acerto». Mas não se veja nesta última expressão qualquer forma de radicalismo ideológico ou partidário, antes, porém, uma mobilização quiçá do inconsciente brasileiro, “in extremis”, para o extremo acerto (e quem o sabe?) ao que outro pensador português António Quadros (1923-1993) poderia chamar mitologismo ou providencialismo histórico. E, verdade seja dita, a maior nação da América do Sul tem não só a potência como apetência para tal, tiradas as máscaras da propaganda e da alienação pelos mídia. Se o acordar do pesadelo não traz mais realidade dos que se imbuíram nele, ou seja, os actores são os que são e não outros, resta a esperança de que deste estranho despertar um desses actores bata com a cabeça e, afinal, algumas ideias sofram mutação posterior. Seja como for, o problema universal permanece, terapia para o qual seria bom desligar as televisões por uma semana. Haja alguém que diga no país do Cruzeiro do Sul do «extremo erro e do extremo acerto» nessa Língua de todos nós, mas que lá se pronuncia «com açúcar», como escreveu Agostinho da Silva (1906-1994), fundador da Universidade de Brasília.

Eduardo Aroso,
 19-10-2018

quinta-feira, 18 de outubro de 2018

AFORISMO (46)

Milhões de pessoas estão rapidamente a perder a visão: quando olham para um arco-íris só vêem três cores: gosto, comentar e partilhar.

terça-feira, 9 de outubro de 2018

NA CASA DE JEANNE D'ARC ©

«Estranha forma de vida»
Quando o coração
Sobe mais alto que o sonho!
Guerreira da libertação
Semeadora de Viriatos,
De padeiras de Aljubarrota;
Protectora de Marias da Fonte
Madrinha de todos os heróis sem nome.
Ruiva como o nascer do sol
Pronta a ser parto da nação.
Dentro tinha outra luz
Um coro de vozes
Movendo o metal da espada.
Estranha forma de força
Quando o destino a comandava.

Eduardo Aroso
7-10-2018
Domrémy-la-Pucelle, Loraine, França