sábado, 26 de janeiro de 2019


SÃO ALTAS ©

Estas árvores são altas!
Nelas correm todos os sentidos
Que há na seiva do tempo.
As metáforas desabam em cascatas
Viçosas algumas respiram juventude.
Parágrafos viscerais e palpitantes
Ébrias de olhos que as vejam
Geografias do espanto e distantes
Companheiras de Magalhães
Para darem ao volta ao mundo.
A imaginação é além de redonda
Geradora de todos os nascimentos
O verbo fecundo que foi dado às mães.

São altas estas árvores antigas
Colunas de Hércules cujo vigor
Abala a primeira morte
Que é o esquecimento.
Elas permitem refazer do pó
O que foi duro mineral ou acto de amor.
Abraçar estas árvores
Oh, estranhos cruzamentos de biologia
E quando tudo pulsa às vezes acontece
Que a verdade da natureza fala pela voz da poesia.

Eduardo Aroso©
25-1-2019

domingo, 20 de janeiro de 2019


A BEM DA NAÇÃO, O BEM DA NAÇÃO, OU O MELHOR DA NAÇÃO?

Nos tempos em que o melhor (ou grande parte) da nação era silenciado com a conhecida fórmula de encerramento dos documentos oficias “A Bem da Nação”, na verdade isso sufocava o que não podia existir autorizado e que era muito bem da nação. A frase lapidar ficou como enganadora, porque o rótulo não correspondia ao conteúdo, na visão difusa de Portugal do homem que, sendo monárquico nos ossos e na alma, todavia na sua sede de poder não podia exercer essa condição por estarmos numa república.
 Depois veio a esperança para o melhor da nação. Seria até interessante que agora se contrapusesse com a fórmula “Para o Bem da Nação” ou “Para o Melhor da Nação”,o que afirmaria a tal política patriótica. Mas seja como for, ninguém de boa consciência, pode fugir à pergunta se vivemos hoje o melhor da Nação. A questão dos nacionalismos (confundidos com muitos ismos) tem sido assunto mal esclarecido,  porque há que distinguir o trigo do joio. Até o insuspeito  Chomsky, que não se deixou baralhar porque é um pensador, numa entrevista ao EL PAIS (Março de 2018), perante a pergunta «teme o nacionalismo?», respondeu: «Depende, si significa estar interessado en tu cultura local, es bueno. Pero si es un arma contra otros, sabemos a donde puede conducir, lo hemos visto y experimentado».
 Numa simples leitura se vê que a palavra interNACIONALISMO (outro conceito ou ideia sujeita a baralhações), só tem sentido quando há NAÇÃO. Havendo sempre pátria e mátria no que se herda dos antepassados, país na geografia e nas leis que se fazem e desfazem, a nação, embora mudando em lenta estratificação, perdura como rosto ou tatuagem anímica e psíquica de estabilidade, nomeadamente pelo idioma e costumes, pelo que deve preservar a sua autonomia. Por outras palavras, um país que não afirma a sua condição de nação e  espera subsídios para viver, importa ideias desajustadas à sua condição, é pouco mais que uma colónia perante quem subsidia. Talvez se entenda que não se avance com a fórmula final nos documentos oficiais «Para o Melhor da Nação», pois, ainda que no actual sistema democrático de alternância do poder (ainda bem), o que muitos desses gostariam era a velha falsa despedida «A Bem da Nação».

Eduardo Aroso
 20-1-2019
  

terça-feira, 15 de janeiro de 2019


CONSUMMATUM EST
(25-12-1929/12-1-2019)

Um dia as mães regressam ao oriente
Ao rasgo de luz de todas as nascentes,
Etérea placenta dos reencontros.
Lá se confundem mimos com flores,
Choros de infância são cantos de pássaros.
Não falo do pão e do leite que se deixam
Assim é o nosso andar de caminhantes.
Digo dos frutos de amor incandescentes,
Regozijos de alma, os melhores timbres.
Um dia as mães regressam como se nascessem
Outra vez e de outro modo sem idade.
Por enquanto ficamos a embalar o tempo
Criança delicada que se chama saudade.

Eduardo Aroso
12-1-2019