sábado, 19 de novembro de 2016

AFORISMOS (42)

Quanto ao Destino somos pouco mais que autómatos, ainda que esse superior desenho da pátria necessite de consciências despertas. Se no mundo das aparências Portugal foi abandonado por Deus, isso quer dizer que na esfera do espírito nos podemos suster sem o invisível amparo que têm as nações ainda na sua idade juvenil – hoje no deslumbramento da ideia de progresso como produção. A prova da solidão, isto é, do caminhar sozinho entre os outros, só tem lugar nas almas evoluídas, bem como nas nações que aspiram a um epílogo que, findo também o seu calvário, seja de redenção. O mar como sentimento - «ó mar salgado» - perto e ao mesmo tempo abrangente, anseia também por uma razão maior que é o céu. Toda a verdadeira metáfora aspira a ser símbolo.

Portugal, 19-11-2016

Eduardo Aroso  

sexta-feira, 11 de novembro de 2016


URBANIDADES
E A MORTE DE INÊS©


Entre meridianos de saudade
Sopra uma aragem
De voltas e retornos.
Escrevem-se as sebentas
Nos átrios idos e presentes.
Orçamentos são equações e silogismos
Difíceis de ler com detalhes ausentes.

Um delírio-sonho
Com que a cidade se veste.
E se a verdade do Mondego
For hoje o rio Lethes?!

Resignadas laringes
No tempo abstracto cantando.
Ferido o coração de Inês,
É o mesmo punhal
No ventre da urbe,
Silêncios arfando,
Lâmina de rua,
Artéria fatal.


Eduardo Aroso ©
Coimbra, 11-11-2016