terça-feira, 27 de maio de 2014

EMAIL PARA ALBERTO CAEIRO

Bem me dizias tu, amigo Alberto Caeiro, que o mundo não estaria todo na internet, como não já não estava nos enciclopedistas. Concordo em absoluto que temos que reaver um ficheiro apagado: o da vivência da natureza como «espanto» como nos ensinaram os nossos irmãos do tempo de Clístenes e de Péricles. Esse pasmo que, com os pés na areia, e frente ao mar nos faz ouvir a voz sem nome, que vem não sei de onde, e que parece dizer: não tenhas medo, nem te defendas, ainda que o amor avance e queime pela brisa que passa...
Eduardo Aroso, 27-5-2014

sábado, 24 de maio de 2014

 ANICLUD

Foi sempre a serenidade do teu rosto
Que no tempo perplexo
Me fez absolutizar.
Deste-me a tua mão para atravessar o rio
Na ponte ou chão de maresia
Do arco único do sonho.

 
24-5-2014
Eduardo Aroso



 

sábado, 17 de maio de 2014

A CIDADE

Não te agites
Apenas
Nas bocas que gritam
Uma vez por ano
O mesmo lema.

Faz-te de novo, Minerva
Do pensar e sentir frenéticos,
Trazendo todos os portais
E sítios cibernéticos
Às praças e alamedas
Onde Zéfiro sopra
Para a tese e antítese,
Pois até a pobre dialéctica
Já muito nos sobra…

Dança, cidade,
As notas de cada compasso,
Apaixonada e entregue
Como se fosse a última valsa,
Canta já o prelúdio ansioso
De outra alvorada!

Eduardo Aroso ©
Maio, 2014

 
CAUSA-EFEITO ©

A inteireza da vida
Consente a clausura da noite
Para de manhã ser voz
No canto do primeiro pássaro
E haver liturgia solar.
Mas tu passas veloz,
Corres num voar de sonho.

Eduardo Aroso ©
17-5-2014



quarta-feira, 14 de maio de 2014

SENHOR DA SERRA ©

 
Sopra o vento
Alerta alto do ventre da terra.
Quase faz esquecer o sorriso das maias,
A seiva dos pinheiros,
Como a certeza que escorre de um beijo.
Passa...
Para nos torcer ainda mais  
No desassossego deste tempo.

 
Eduardo Aroso
Senhor da Serra, 14-5-2014

sábado, 10 de maio de 2014


SINTOMAS  ©

 
Chove em pleno Maio,
No peito rosado da primavera.
É de pétalas
E a chuva vem da terra!

 
Eduardo Aroso, 5-5-2014

sexta-feira, 9 de maio de 2014

AFORISMOS DE IMANÊNCIA (20)

 Para uma visão de largueza, na janela manuelina, há que passar a porta que ninguém abre por outro.  A porta é a mesma e cada qual tem uma chave diferente. Este é o paradoxo legítimo que  está também à porta do que (ainda) não se compreende!
Eduardo Aroso
9-5-2014

domingo, 4 de maio de 2014


TESTAMENTO VITAL ©

Um dia,
Murchas as pétalas,
Cairão todas no recinto sagrado
Do coração.
Aí se arquiva a eternidade.
Em qualquer dos casos
Os pássaros cantam sempre
Num tom materno de claridade.

Eduardo Aroso
4-5-2014