domingo, 30 de outubro de 2016

Avenida D. Manuel I
(Alcochete) ©

Paira ainda sobre o Tejo
O seu olhar fixo de estátua
Feita de matéria escura.
Venturoso foi o seu olhar primeiro.
Hoje mais que névoa ou nevoeiro
É a janela estreita
E a frouxidão do longe
A nossa desventura.

Eduardo Aroso ©

Alcochete, 30-10-2016


quarta-feira, 26 de outubro de 2016

AFORISMOS (41)


Dar de caras com a poesia.
Sem prefácios nem apresentações de figurões. Dar de caras, pode assustar ou não pela beleza súbita. O imprevisto não requer uma espécie de legítima defesa, mas permite ver, por algo que nos atravessa, se tal poesia é um sol que abrasa e absorve, ou se apenas é um planeta caído no fragmento de um asteróide, que há muito deixou de ser habitado.

Eduardo Aroso
Outubro, 26-10-2016

segunda-feira, 17 de outubro de 2016

CRIANÇAS ©

No Lago do Gana
Muito se chora
Muito se engana

No Lago do Gana
Vive o silêncio
E ninguém chama

Estranha geografia
De que mundo afinal
Presente no mapa
Sem voz fraternal

Crianças passam
No lago maior
De muitas águas
E pouco amor.

No Lago do Gana
As águas são negras
E muito se engana.


16-10-2016
Eduardo Aroso ©


sábado, 8 de outubro de 2016


PARÁBOLA DE CIRCUNSTÂNCIA

Portugal, nos dias de hoje, é um resto de vindima. Alguns ainda voltam atrás, vão ali e acolá, andam à volta de alguma cepa, para ver se ficou algum cacho luzidio que outros não viram. Quanto à limpeza do lagar, há gente que tem o cuidado de deixar limpo o cesto das suas uvas; outros não se importam com isso, e, mais atafulhados, pegam em qualquer cesto ainda cheio de uvas, pois querem o (muito) vinho: depressa e bem. Da próxima colheita nada se sabe. Ma é de esperar que o Senhor da vinha, seja de que modo for, comece a pedir contas da vindima.

Eduardo Aroso

8-10-2016