UMBILICAL
A expressão corrente e pouco agradável de ouvir «não sair do
seu umbigo» ou estar apenas no seu umbigo» é, no plano qualitativo,
diametralmente oposta ao sentido tradicional do que representa este ponto
nevrálgico do nosso corpo e da nossa psique, aparentemente como toca do
egoísmo. René Guénon diz ser o «omphalos», relacionado com o Centro do Mundo,
sob o ponto de vista iniciático e espiritual. Também o umbigo humano é o
assento físico do chacra esplénico, a que os antigos chamavam o “segundo sol”.
Hoje mesmo, constitui um ponto de concentração em certas práticas de meditação.
Nesta perspectiva, se a ideia de Eu Superior tem algum acento físico-energético,
é no plexo solar na zona do umbigo, e que, aliás, fica sensivelmente no meio do
corpo.
Umberto Eco chamou a Tomar «o umbigo do mundo», coisa que
muito antes alguns já sabiam, ou seja, haver um “chacra” templário a meio de
Portugal, nesse local que, ligado a mais dois pontos, se denominou «triângulo
místico» português». O acto de cortar o cordão umbilical implica uma cisão. Ora,
o sentido dessa cisão não impede de continuar a haver uma profunda relação (tal
é o caso da mãe-filho) resultante desse centro ou útero de onde se nasce. Mas
também pode dar origem a uma perda irremediável. Não o será se o que se separa mantiver,
de certo modo, alguma continuidade nem que seja apenas por uma vaga memória. Não haverá cisão se esse Centro do Mundo ou
umbigo for como uma espécie de sol, que verdadeiramente oculto (o tal “segundo
sol” mas como também o Papa oculto) irradiando em todas as direcções. Aí pode
ser uma imponderável Rosa-dos-Ventos.
29-3-2017
Eduardo Aroso
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