PORTUGAL – QUE SENTIDO?
José Marinho afirmou que «em Alcácer-Quibir Portugal salta para fora
do tempo». Terá esta sentença alguma relação com o nosso presente ou um
não-presente? Isto é, o tempo que vivemos é medular do nosso sentido de ser
Portugal, ou há um interregno histórico inapreensível ao «que mais importa»? É
claro que há presente, porque é inegável que, e pese tanto cienticismo actual,
para além do enigma que ainda preside ao sentido mais profundo e transcendente
dos destinos humanos, há sempre história, e a de Portugal, nos dias de hoje, é
o presente qual «cadáver adiado que procria». Mas assim como nas cerimónias dos
cemitérios há encontros (e desencontros) imprevistos de pessoas, também estes
dias de Portugal nos levam a pensar que nos desencontros se pode aprender
muito, o que, para os da "pistis sophia" os leva a acreditar no outro lado da
questão – os encontros.
Não me parece absurdo
dizer que ainda estamos no passado, de onde nunca saímos, vivendo porventura um
actual tempo não-histórico (se quisermos, pouco histórico), não sei se
lucidamente, conscientemente, à procura das «Indias que não vêm nos mapas».
Entretanto, os que mundanamente dirigem a Europa têm feito de nós um vale de
leprosos, (embora no suor do nosso rosto), a quem se atira uma esmola de longe.
De outro modo, nem a Europa nos encontra nem nós a encontramos, porque os
espaços são os mesmos, mas as almas têm sintonias diferentes. Não há empréstimos nem
resgates que valham a corpos mumificados da civilização. Portugal e a Grécia
são os fantasmas que aterrorizam os plutocratas do velho continente, porque é
sabido que das cinzas renasce a antiga ave sempre mais ágil para voos de longo
alcance. Mas…«cumprir Portugal» exige, por certo, um pragmatismo inteligente,
«porque o «homem e a hora são um só», sob um Ideal que congregue, ainda que
possa parecer absurdo.
Eduardo Aroso
Janeiro de 2018