quarta-feira, 26 de agosto de 2020

SOU ANTI NADA, MAS POR MUITA COISA (IDEAL)

 

O que importa é «ser sempre por alguma coisa», como dizia Miguel Torga. Ser anti… começa logo por anular qualquer hipótese do outro ter razão, ou parte dela. Mesmo em casos explícitos, como por exemplo, anti pena de morte, o outro terá que justificar por que defende essa baixa desumanidade pois, no contexto do mundo ocidental contemporâneo, pouco adiantaria na generalidade. Mas cabe aos que defendem a vida, fazê-lo não só parcialmente – como tanto se vê – mas de um modo completo. Defender a vida é tarefa bem árdua, pois para quem, por exemplo, se bate afanosamente pela defesa de animais de estimação, deve compreender que “irmãos e primos” desses bichos entram aos milhares diariamente nos matadouros. A defesa da vida não pode ser apenas na montra do social ou do politicamente correcto. Se aplicarmos o tema ao ser humano, encontramos variados exemplos do que muito se condena por maus-tratos, sobretudo a idosos, não levando em conta os diluídos e lentos maus-tratos que o sistema inflige a tantas dessas pessoas cujo dinheiro não chega para comprar medicamentos e comida. O Estado de Direito e os governos têm dois braços bem diferentes: defendem-se situações tidas como injustas com mais zelo do que acções para as erradicar. Filosoficamente, qualquer negação pressupõe uma afirmação prévia, definitiva ou não. O percurso de vida de muitos anti mostra que nunca foram por coisa alguma, ou andaram sempre a mudar de coisa.

 

Eduardo Aroso

26-8-2020  

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