domingo, 6 de setembro de 2020

 A CASA DO POETA

 

Ao contrário do que se diz

Fernando Pessoa só teve uma casa.

Nasceu no Largo de São Carlos em Lisboa

e nunca mais mudou de lugar.

O que ele fez foi alargar a habitação:

meteu-lhe um telhado tipo proa,

um radar ligado a todos os sentidos

e ele próprio viajava como os aviões

supersónicos que não se podem detectar.

 

Quando as obras da casa estavam na extrema

incalculável de um qualquer vizinho longínquo

que ele desconhecia, o poeta continuou

e chamou-lhe Universo, Cosmos, Galáxia

(isto é, até onde ia a sua casa nem ele sabia).

Insatisfeito com as obras deu-as por acabadas

por ordem do Arquitecto no dia 30 de Novembro

de mil novecentos e trinta e cinco.

 

Eduardo Aroso©

6-9-2020

 

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