quarta-feira, 9 de junho de 2021

RUMO


 O tempo é de bradar aos céus.

Árdua busca, fio do labirinto,

Onde somos silêncio

E a noite se fez em nós.

Por sobre as gáveas

Errantes do presente,

Solta ainda Camões a sua voz!

 

Eduardo Aroso ©

Junho 2021

quarta-feira, 2 de junho de 2021

DA MÚSICA (1)
Tal como a existência do automóvel é para nos levar a algum lado, ou o prato que recebe a comida que vamos ingerir, a matéria-prima da música feita de sons, silêncios, notas e figuras, é certamente algo (ainda que indispensável) que não parece constituir um fim em si mesmo, mas uma representação ainda que subtil e misteriosamente nos conduz a algum lado, que só pode ser ao nosso mundo interior de sentimentos e ideias. Se estremecemos escutando os primeiros acordes da 5ª sinfonia de Beethoven ou os compassos iniciais de «Assim falou Zaratustra» de Richard Strauss, falta saber ao certo se é (apenas) pelo efeito do som, ainda que organizado, se é por aquilo que interiormente desperta em nós. A situação do som enquanto música como um fim em si mesmo, colocar-se-ia numa situação (embora paradoxal) de, por exemplo, alguém a criar para não ser escutada…
Este tema em apreço, como é evidente, não se pode comparar à velha história de saber quem surgiu primeiro; se a galinha, se o ovo. No entanto, o enigma (para não lhe chamar mistério) não fica resolvido, pois sem a vibração sonora intermediária não seria possível ir mais longe no que quer que seja. Segundo os historiadores, Beethoven nos últimos anos da sua vida, ouvia claramente os sons dentro de si antes de serem tocados, pelo que se clarificou a ideia de dois tipos de percepção de som. O compositor disse que muitos cultivam a música – e certamente se referia a níveis de excelência – mas poucos podem receber a revelação dessa arte. Charles Ives, compositor americano, na busca de um sentido mais alto, chegou mesmo a desabafar: para que serve o som?!!
Eduardo Aroso
2-6-2021