quarta-feira, 16 de janeiro de 2013



AMAR PORTUGAL  (2) ©

É difícil esquecer a República de Platão, a Política de Aristóteles, ou mesmo Da Monarquia de Dante. No Portugal de hoje nem o rei dança com o povo, nem a república é a res publica. Nem Terreiro do Paço nem praça pública. Daí termos que dançar de novo o corridinho do sonho, ou o fado maior de voltar a ter governação que nos sente outra vez no bodo do Espírito Santo, onde os necessitados sejam servidos antes de tudo e todos, como nos foi dado o exemplo em Alenquer pela Rainha das Rosas e do «plantador de naus a haver» Erguer, assim, padrões de carne viva e não outros que agora não educariam as almas desnorteadas.
À parte o imprevisto que dita por si, sem o apelo do curso dos dias, o que se deve ir fazendo é que a palavra revolução revolva muita pedra sobre heróis injustamente sepultados; revolva muito livro fechado que se deve reler; revolva muita energia parada mas ardentemente voluntariosa e sobretudo que as iniciativas, parecendo impossíveis, sejam vistas como uma espécie de santidade de olhar e de sentir. Parecendo impossíveis, se dirijam ao céu para que do próprio céu desça a nave ou a aluz que a todos proporcione a obra.
A nossa terra está santificada pelo simples facto de termos nascido nela; do mesmo modo ninguém ousa destruir voluntariamente o berço que o viu nascer. A canção brasileira fala do «país tropical, abençoado por Deus e bonito por natureza». A terra portuguesa deve ser diariamente sacralizada, como justa retribuição de nela habitarmos e, quer alguns queiram ou não, há um ritual quotidiano, ainda que os pés a pisem e as mãos de muitos se sujem moralmente por causa de partições e repartições deste altar natural que suporta o corpo de cada português.
O mar temo-lo como um incenso, na nossa alma vaporosa. Porém é no enigma da orla, no ponto de chegada e da partida que reside o mistério, quando princípio e fim se tocam e se fecha a circunferência, a revolução mais completa. D. Sebastião, temo-lo cá. Os desejados já estão entre nós, os jovens – e quem dera que mais houvesse. A eles, e por amor à pátria, não se mandem embora compulsivamente! Que não seja a partida dos escorraçados, se todavia a viagem é inevitável por apelos de outros destinos, os tais que podem ainda não constar nos mapas e nos roteiros. Não tornemos os nossos jovens indesejados perante a nação!
Amar Portugal é nunca deixar de acreditar na tradição popular que diz «Alma até Almeida».
Amar Portugal é nunca deixar de respirar na esperança de que nos ronde um rei oculto ou um presidente desejado.
Amar Portugal é corrigir o erro público, o desconhecimento do nosso melhor, porque não cabemos num ficheiro ou dossier de Bruxelas ou de qualquer outro escritório.
Portugal, Janeiro, 2013
Eduardo Aroso

2 comentários:

  1. Obrigado pelo execelente trabalho em prol de Portugal, dos portugueses não estrangeirados.
    Portugal irá de novo libertar-se para bem da UE e da Humanidade.
    Um abraço
    Delmar

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  2. É o magnífico jogo, quase no sentido de brincadeira no recreio da alma, entre a expansão e a contenção da sua escrita, que revelam a genuinidade da sua marca.
    É como uma respiração que, em deixar-se ouvir, assegura ao buscador "sem tino" a presença viva do seu próprio corpo, assim como uma estalagem do caminho cuja porta se abre sem perguntas, a cuja mesa se põe o pão e o vinho da festa do divino. Onde quer que seja. Em qualquer ponto do Universo.
    Mais uma vez obrigado por partilhar.
    Bruno Santos

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