(Breve evocação de Jorge Luis Borges)
Numa das suas célebres seis conferências, que a editora «Crítica»
de Barcelona coligiu em 2001, Jorge Luis Borges fala-nos de uma BELEZA QUE
ESCORRE CONSTANTEMENTE DO MUNDO. Na verdade, sempre os poetas viram o mundo
mais profundamente, de um modo mais holístico, o que nos tempos actuais
contrasta com a tendência para a temática de motivos emergentes e
simultaneamente mutantes.
Se por um lado é dever
estar vigilante à imanência mais imediata da vida, o horizonte de esperança e
de perenidade (que persiste sobre as catástrofes do mundo em qualquer época) só
pode ser fixado por aquilo que, seja de que modo for, se move como constante
nesta terra de passagem, linha de horizonte presente e alheia às mudanças do
mundo. No mínimo requerido para este deserto de transição seria impossível,
entre os escombros do viver humano, não existir a tal beleza escorrendo como a
luz do sol em cada dia, que teimamos em ver apenas mecanicamente ou
biologicamente com a sua devida importância para a vida vegetal e mais
recentemente nos efeitos sobre a epiderme do ser humano.
Porque até para ver a beleza que escorre dos figos entre os
braços do Verão e do Outono, é necessário chegar perto deles ou tê-los na mão,
essas lágrimas doces e generosas dos deuses, sabendo que muitos desses frutos vão
cair no chão, sem que ninguém os aproveite.
Eduardo Aroso
15-09-2015
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