domingo, 8 de novembro de 2015

AINDA (E SEMPRE) A QUESTÃO DA POLARIDADE SOL-LUA  ©

A luz da Lua, ainda que nos chegue de outro modo, é na verdade a luz do Sol, como aliás nos explicitou admiravelmente Dane Rudhyard em «O Ciclo de Lunação». O facto de qualquer Tradição Espiritual atribuir ao Sol polaridade masculina e à Lua polaridade feminina, e para além do que se sabe da influência do nosso satélite sobre nós, leva-nos a pensar ainda na importância que tem o chamado «princípio feminino» que, neste caso, se verifica, como veremos, pela sua mobilidade, pelo que não nos custaria aceitar que este movimento de cerca de 4 semanas é como que uma qualidade ou atributo vigilante ou de cuidado que sempre presidiu à experiência maternal.

Todos os corpos celestes têm o seu movimento (até as chamadas “estrelas fixas” ). No caso do nosso Sistema, e ainda quanto ao Sol e à Lua, esta, relativamente ao primeiro, tem para nós habitantes da Terra, um papel de maior movimento e proximidade, e, talvez por isso, dir-se-ia de “assistência imediata”. Sendo que a fonte de luz é o Sol, a verdade é que, durante o movimento da lua nos cerca de 28 dias do ciclo inteiro, operam-se várias mudanças, por certo necessárias, nos domínios geológico, vegetal, animal e humano. Esse papel de maior proximidade, nem precisaria de uma imagem poética para o relacionarmos com a prontidão e também proximidade maternal de quem cuida. Assim, as nuances das 4 fases lunares, durante 4 semanas, contrastam com as mudanças mais lentas da luz solar durante um ano. E não é descabida a analogia do Outono e Inverno ( H.N.) com a fase minguante e a Primavera e o Verão com a fase crescente. Poderíamos ir mais além no alcance do ciclo lunar que, apesar da sua curta mas por certo necessária duração, está na origem dos primeiros calendários, ou seja, o ser humano apercebeu-se da «noção de ciclo», verificando a regularidade de certos fenómenos celestes, quando observava a Lua escura ou quando se ela apresentava cheia. 

A partir daqui – apenas pela observação da natureza cosmológica, portanto, livres de conceitos mais ou menos sociais e políticos - poderíamos fazer várias interrogações sobre o papel da natureza feminina na manutenção e progresso não só dos seres humanos, mas de todos os outros reinos. Alguma dificuldade se coloca, embora ela faça antever uma ampliação muito maior do que hoje se toma pela simples ideia de feminino ou igualdade de género. Inteligente graduação na luz solar, dada pela feminina Lua (seguramente justificação de haver este nosso satélite), que para nós terrestres em evolução (dir-se-ia em crescimento) é sinónimo de assistência imediata e protecção. O que não parece suscitar dúvida, quer pela psicologia quer pela cosmologia, é que as manifestações do princípio feminino, seja como for, estão mais próximas de nós, numa sábia e quase mágica plasticidade de realidades sensíveis e sentimentos. Perante tudo isto, não poderíamos nós, poeticamente, dizer que globalmente «a Lua amamenta» e também uma espécie de seta de intuição que nos leva ao passo seguinte? 

Não é difícil entender por que os grandes autores, no complexo enredo das suas obras colocaram a mulher, no seu exaltado princípio feminino, como guia: Petrarca escolheu Laura; Dante viu Beatriz; Beethoven uma incógnita amada e musa, e, pelo nosso Luís de Camões, é a deusa Tétis que mostra a Vasco da Gama a grande «machina do mundo» (Lusíadas, Canto X, 80).

Eduardo Aroso©

8-11-2015

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