AINDA (E SEMPRE) A QUESTÃO DA
POLARIDADE SOL-LUA ©
A luz da Lua, ainda que nos
chegue de outro modo, é na verdade a luz do Sol, como aliás nos explicitou
admiravelmente Dane Rudhyard em «O Ciclo de Lunação». O facto de qualquer Tradição
Espiritual atribuir ao Sol polaridade masculina e à Lua polaridade feminina, e
para além do que se sabe da influência do nosso satélite sobre nós, leva-nos a
pensar ainda na importância que tem o chamado «princípio feminino» que, neste
caso, se verifica, como veremos, pela sua mobilidade, pelo que não nos custaria
aceitar que este movimento de cerca de 4 semanas é como que uma qualidade ou
atributo vigilante ou de cuidado que sempre presidiu à experiência maternal.
Todos os corpos celestes têm o
seu movimento (até as chamadas “estrelas fixas” ). No caso do nosso Sistema, e
ainda quanto ao Sol e à Lua, esta, relativamente ao primeiro, tem para nós
habitantes da Terra, um papel de maior movimento e proximidade, e, talvez por
isso, dir-se-ia de “assistência imediata”. Sendo que a fonte de luz é o Sol, a
verdade é que, durante o movimento da lua nos cerca de 28 dias do ciclo
inteiro, operam-se várias mudanças, por certo necessárias, nos domínios
geológico, vegetal, animal e humano. Esse papel de maior proximidade, nem
precisaria de uma imagem poética para o relacionarmos com a prontidão e também
proximidade maternal de quem cuida. Assim, as nuances das 4 fases lunares,
durante 4 semanas, contrastam com as mudanças mais lentas da luz solar durante
um ano. E não é descabida a analogia do Outono e Inverno ( H.N.) com a fase minguante
e a Primavera e o Verão com a fase crescente. Poderíamos ir mais além no
alcance do ciclo lunar que, apesar da sua curta mas por certo necessária
duração, está na origem dos primeiros calendários, ou seja, o ser humano
apercebeu-se da «noção de ciclo», verificando a regularidade de certos
fenómenos celestes, quando observava a Lua escura ou quando se ela apresentava
cheia.
A partir daqui – apenas pela
observação da natureza cosmológica, portanto, livres de conceitos mais ou menos
sociais e políticos - poderíamos fazer várias interrogações sobre o papel da
natureza feminina na manutenção e progresso não só dos seres humanos, mas de
todos os outros reinos. Alguma dificuldade se coloca, embora ela faça antever
uma ampliação muito maior do que hoje se toma pela simples ideia de feminino ou
igualdade de género. Inteligente graduação na luz solar, dada pela feminina Lua
(seguramente justificação de haver este nosso satélite), que para nós
terrestres em evolução (dir-se-ia em crescimento) é sinónimo de assistência
imediata e protecção. O que não parece suscitar dúvida, quer pela psicologia
quer pela cosmologia, é que as manifestações do princípio feminino, seja como
for, estão mais próximas de nós, numa sábia e quase mágica plasticidade de
realidades sensíveis e sentimentos. Perante tudo isto, não poderíamos nós,
poeticamente, dizer que globalmente «a Lua amamenta» e também uma espécie de seta
de intuição que nos leva ao passo seguinte?
Não é difícil entender por que os grandes autores, no
complexo enredo das suas obras colocaram a mulher, no seu exaltado princípio
feminino, como guia: Petrarca escolheu Laura; Dante viu Beatriz; Beethoven uma
incógnita amada e musa, e, pelo nosso Luís de Camões, é a deusa Tétis que mostra a Vasco da Gama a grande «machina do
mundo» (Lusíadas, Canto X, 80).
Eduardo Aroso©
8-11-2015
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