Miranda do Corvo, 1-2-2016
PAISAGENS (2)
Um a um, os ramos iam caindo como se gente
fosse atirada abaixo de uma varanda, sem que houvesse ímpeto de desprezo ou
belicismo. Ao som estridente da serra mecânica, amontoavam-se no chão, deixando
um alívio no cimo da árvore. Era como o arrumar de uma casa, ou alguém que
retirasse ideias caducas da cabeça que já não podiam dar mais nada. Por fim,
ficou o tronco grosso, frio e hirto, uma espécie de estátua vegetal à espera
que a primavera lhe faça nascer os cabelos e da maquilhagem mais bela: um verde
humedecido de seiva.
Eduardo Aroso
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