ILAÇÃO SIMBÓLICA DA PERDA DO HISTÓRICO PINHAL DE LEIRIA
Os sucessivos desgovernos da nação deixaram finalmente eclodir, pela combustão, o que resta da memória mais ou menos
consciente no povo, mas, em absoluto, toda ela de timbre universal que é a essência do arquétipo do português de Quinhentos. Como alguém disse, o
que restava da «lenta decomposição da pátria» surge finalmente em labaredas de
aflição que são também a consciência – existindo, gritante, ainda nalguns – do que é ou não
é Portugal.
Seria estultícia pensar
que o espaço mítico glosado em «Mensagem» aludindo ao «plantador de naus», esse
«rumor dos pinhais», por um capricho do destino o tempo o dispensaria, por as
naus já se terem cumprido. Parece, no entanto, que a extinção agora do pinhal
não vai no sentido da reposição do peculiar marulhar de ramos ondulantes ao
vento, na esperança todavia de outras futuríssimas plantações. Extinto o Pinhal do Rei,
essa canção da orla que ainda nos percorria a epiderme mais funda a resguardar um viver de alma, inevitável é a
interrogação presente sobre o lugar das novas plantações para as naus do futuro. Formulação
na Língua ou «fala dos pinhais, marulho, obscuro» que pela intromissão grosseira
do recém acordo ortográfico, dificulta cada vez mais e limita a sonora interrogação que, por certo, não desconhece a solução de continuidade natural de
«Ao princípio era o Verbo».
Nesta hora difícil em qualquer dimensão, tudo se nos pede para que se cumpra também a sentença pessoana «quem não vê bem uma palavra, não vê bem uma alma». Se a reconversão profunda só é possível por actos necessariamente radicais, não no sentido deturpado actual do termo, mas numa abordagem da raiz do problema, somos levados a indagar essa possibilidade. Na recente edição (VII) da Obras Completas de António Telmo, há um escrito inédito «Homens sem Sono» onde o filósofo coloca a delicada questão. Fiquemos então com a sua leitura como meditação. «O problema que se põe é o de saber se, entre nós, há homens despertos activos, homens-galos, não no sentido puramente estético do termo, mas naquele que Boitaca associou aos descobridores do Caminho pelo galo que anuncia o nascer do sol no alto da coluna e que talvez explique a etimologia do nome de Portugal».
Nesta hora difícil em qualquer dimensão, tudo se nos pede para que se cumpra também a sentença pessoana «quem não vê bem uma palavra, não vê bem uma alma». Se a reconversão profunda só é possível por actos necessariamente radicais, não no sentido deturpado actual do termo, mas numa abordagem da raiz do problema, somos levados a indagar essa possibilidade. Na recente edição (VII) da Obras Completas de António Telmo, há um escrito inédito «Homens sem Sono» onde o filósofo coloca a delicada questão. Fiquemos então com a sua leitura como meditação. «O problema que se põe é o de saber se, entre nós, há homens despertos activos, homens-galos, não no sentido puramente estético do termo, mas naquele que Boitaca associou aos descobridores do Caminho pelo galo que anuncia o nascer do sol no alto da coluna e que talvez explique a etimologia do nome de Portugal».
Eduardo
Aroso
17-10-2017
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