DA ESCRITA DE RISOLETA C. PINTO PEDRO SOBRE ANTÓNIO TELMO
Há quem leia nas mãos, outros
nos olhos, e há muito menos gente a ler o Portugal oculto, muito embora, em
alguns contornos, seja visível em pormenores monumentais, na pintura, no
pensamento português e na literatura. Risoleta C. Pinto Pedro deu à estampa a
sua mais recente obra «António Telmo, Literatura Ɛ Iniciação», que nos chega
como um ânimo atento e consciente da leitura de um dos maiores pensadores
portugueses do século XX, árduo labor a que poucos se lançam, ou não fosse este
um Getsmani perante o “literariamente correcto”! Aventura difícil que só a alma
pode ter como regozijo compensador para quem percorre a verdadeira Tradição,
quantas vezes labiríntica, mas que, apesar disso, é a única prova real de que
há labirinto, enigma que não se pode anular, mas resolver-se (Pessoa diria
«cumprir-se») pela única entrada e saída.
Não seria atrevimento, sobretudo
pelos últimos escritos de Risoleta, dizer que esta também persiste em não
quebrar o subtil fio de Ariadne, na esteira da via sibilina e serviçal que, por
exemplo, uma Dalila Pereira da Costa também percorreu, por certo em tempos e
contextos de vida diferentes, mas sempre no único e mor contexto que designa de
Portugal, e para alguns de Porto Graal.
O facto da capa de «António
Telmo, Literatura Ɛ Iniciação» constar de uma foto, onde vemos o olhar
perscrutador de António Telmo, qual radiografia pensante sobre a pedra do
Mosteiro dos Jerónimos, sendo um pormenor da obra em causa é contudo algo que
não está alheio ao conteúdo do livro. Da sua leitura, ficamos com a serena
convicção da autora desta obra nos poder esclarecer - melhor dizendo, aproximar
- o leitor do legado de António Telmo. Como se apresentasse, face a face, o
leitor ao filósofo e disso resultasse uma atmosfera mais propícia e apetecível
para percorrer a sua obra, começando logo pela linguagem cristalina, muito
própria de Risoleta. Esta não cai na tentação do que muitas vezes acontece:
pretender dizer o que o autor estudado nunca diria, e nós vemos que os corredores
académicos estão cheios disso. O que a autora, serenamente, vai operando em
cada página, é trazer o que porventura escape ao leitor numa leitura que não
capte com mais facilidade todo o manancial télmico. Uma coisa é certa: Risoleta
C. Pinto Pedro move-se (e move-nos), não enjeitando a mesma atmosfera
anímico-espiritual e na linha fulcral de pensamento do autor de «História
Secreta de Portugal». A afeição a essa atmosfera é como um horizonte para além
do qual se adivinha não uma mas várias Índias ou a caverna da palavra que ainda
nos pode devolver o «pensamento que pensa», o mesmo é dizer para nós que acreditamos
que há ainda uma casa ou pátria física e/ou anímica onde se repousa e ganha
força para a batalha da vida.
Quanto a essa atmosfera onde
Risoleta C. Pinto Pedro se move (e nos move), aí reside o essencial, mas convém
dizer que estar no tom, como bem sabem os músicos, não é necessariamente
repetir as mesmas frases musicais nota a nota, pois que por variante se pode
entender continuar na mesma tonalidade. E se modulação houver, trata-se de dar
continuidade ao que não tem deve ter cisão.
Eduardo Aroso
8-3-2018
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