A TRANSDISCIPLINARIDADE E A FALTA DE
VENTILAÇÃO ACADÉMICA
O pensamento sistémico,
«tentativa de ordenamento da complexidade» (B. Nicolescu), também ele no seio
da física quântica, só é possível por uma espécie de salto qualitativo do
conhecimento (ou um outro conhecimento) também designado por Transdisciplinaridade,
ignorado por uns tantos e combatido por outros, como convém ao “status quo”
arreigado ainda nos muros da reforma pombalina que, diga-se, no seu tempo e
ainda posteriormente, foi muito mais do que reformadora. Alguns recentes acontecimentos
arrivistas sobre a História de Portugal, à volta do Museu dos Descobrimentos ou da figura do Pe António Vieira, fazem pensar no que pouco se tem notado: da nossa excepcional posição
de nação de, mesmo perante pressões várias e o panorama mundial que nos entra
diariamente olhos dentro, poder afirmar e mostrar a nossa Condição e Destino
(José Marinho). Afirmar, porque mostrar deve pressupor afirmação convincente. Enquanto
fundamento cultural estruturante, a possibilidade do pensamento sistémico
português, encontra hoje mais condições para tal – ou não tivesse A. Toynbee
dado um bom contributo ainda que sintético – tomando o conhecimento da História
Universal. Comparar, medir, avaliar, sempre foi a atitude do ser humano na sua
relatividade de fazer juízos e teses.
O traço singular do nosso Povo (grafo com
maiúscula para distinguir de votantes!), que alguns tentam rebaixar ou ver de
um modo difuso, Francisco da Cunha Leão na sua obra chamou-lhe «O Enigma
Português» e Álvaro Ribeiro o explicitou admiravelmente em «A Razão Animada». Ao
contrário do que possa parecer, temos hoje um palco bem mais amplo para
desfazer equívocos de “actores” que entram em cena, não sabendo qual o papel
que estão a representar, mesmo que tragam o guião de cor! Esse caminho de
desfazer equívocos já foi aberto há muito por figuras várias que hoje, que ao
invés de uma devida atitude hermenêutica, como cabe ao saber de nível superior,
são completamente ignorados; um atitude que se inscreve aliás num pérfido e mais
alargado contexto, como se nota nos alinhamentos ditos informativos (!) e
programas culturais, tidos como prioritários sem qualquer fundamento
prioritário.
O 1º Congresso Mundial de Transdisciplinaridade
(desconheço se outro aconteceu) teve lugar em Novembro de 1994, em Portugal (Arrábida),
presidido por figuras como Edgar Morin, Lima de Freitas e Basarab Nicolescu. Dele
saiu o Manifesto da Transdisciplinaridade, o qual, ao contrário do alcance que
teve por exemplo a afirmação heliocêntrica de Copérnico e Galileu, não tem
movido consciências e docências entre nós. No entanto… ela (Transdisciplinaridade)
move-se… creio que, mais ou menos solitariamente, pelo menos no CTEC da
Universidade Fernando Pessoa. Falta povoar a nação de gente, como queria o tal
rei português. Mas hoje também há falta de povoar certas ideias e ideais. A
clássica tríade hegeliana (tese, antítese e síntese) se aplicada ao mundo
actual, já não pode resolver-se pela síntese, se esta não for colocada no nível
transdisciplinar, saindo do mesmo plano horizontal para se colocar (iniciar) acima, dado que uma síntese pode ser começo de
outra tese. Neste pouco oxigenado estado de coisas, por que razão é que nos
corredores académicos e outros não há ventilação do pensamento sistémico e
transdisciplinar, não o tomando por interdisciplinaridade e pluridisciplinaridade?
Já não é possível fugir «ao dogma filosófico contemporâneo da existência de um
único nível de Realidade». Quando Almeida Garrett disse «das academias,
livrai-nos Senhor!», por certo que não o fez ignorando o analfabetismo primário
do seu tempo e que urgia dissipar, mas do que infelizmente ainda hoje existe no
panorama do presente de costela jesuítica por um lado e marxista por outro.
Eduardo Aroso
27-7-2018
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