sábado, 15 de dezembro de 2018


O PRESÉPIO DIVINO, PLANETÁRIO E ECOLÓGICO

Armar o presépio – tal a expressão tradicional – sem armas, mas cuja armação tem o amor e a estética que cada um possa dar. Toda a humanidade faz parte de um presépio gigante, bem mais complexo do que o modelo que chegou até nós pelo gesto amoroso de Francisco de Assis. Não seria de admirar que o santo, nos dias de hoje, pudesse também imaginar um presépio à escala planetária, onde não faltem árvores sãs e águas limpas. É certo que alguns não vêem nesse presépio planetário o Menino Jesus, embora ele esteja presente para quem o pode vislumbrar. Muitos entendem a vaca apenas como produtora de leite e dadora da carne, ou o burrinho como epíteto dos mais pobres de inteligência, ou, pior do que isso, um conceito difuso de direitos de animais e pessoas. Quanto ao resto dos figurantes, é certo que alguns não podem estar junto de outros (coisa natural), porque os incómodos são cada vez maiores. Por sua vez é isto que dá sentido ao mundo, na sua complexidade e diversidade. Mas… os rios poderão deixar de estar limpos, os poços vazios e as fontes secas, falando eu também daquelas fontes onde a alma se sacia mitigando aquela outra fome que corrói por dentro, a que muitos também chamam solidão. Quando à falta de fé no transcendente, se a isto se juntar definitivamente a frouxa e desesperançada fé no actual sistema político e nos seus “apóstolos”, ver-se-á que, pior do que ser educado num colégio de freiras ou num seminário é vaguear pelo mundo sem emprego e sem família, cujo único horizonte é um “cigarro doce” ou uma seringa na mão. Eis a morte do velho IDEAL helénico ou mesmo renascentista do Ocidente, trocada pelo comando tecnológico (uma espécie de “feitiço contra o feiticeiro” e não o contrário, como é desejável); do materialismo como monarca supremo do mundo; ou o consumo do sexo em saldo e a inquisição dos mercados. Mas tudo isto, em tempos de agonia, nos conduz à ideia de que ainda vale a pena ter um presépio ideal. E a palavra-chave é renascer, seja como for.

Eduardo Aroso©
Natal, 2018    


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