O
PRESÉPIO DIVINO, PLANETÁRIO E ECOLÓGICO
Armar
o presépio – tal a expressão tradicional – sem armas, mas cuja armação tem o
amor e a estética que cada um possa dar. Toda a humanidade faz parte de um
presépio gigante, bem mais complexo do que o modelo que chegou até nós pelo
gesto amoroso de Francisco de Assis. Não seria de admirar que o santo, nos dias
de hoje, pudesse também imaginar um presépio à escala planetária, onde não
faltem árvores sãs e águas limpas. É certo que alguns não vêem nesse presépio
planetário o Menino Jesus, embora ele esteja presente para quem o pode
vislumbrar. Muitos entendem a vaca apenas como produtora de leite e dadora da
carne, ou o burrinho como epíteto dos mais pobres de inteligência, ou, pior do
que isso, um conceito difuso de direitos de animais e pessoas. Quanto ao resto
dos figurantes, é certo que alguns não podem estar junto de outros (coisa
natural), porque os incómodos são cada vez maiores. Por sua vez é isto que dá
sentido ao mundo, na sua complexidade e diversidade. Mas… os rios poderão
deixar de estar limpos, os poços vazios e as fontes secas, falando eu também
daquelas fontes onde a alma se sacia mitigando aquela outra fome que corrói por
dentro, a que muitos também chamam solidão. Quando à falta de fé no transcendente,
se a isto se juntar definitivamente a frouxa e desesperançada fé no actual sistema
político e nos seus “apóstolos”, ver-se-á que, pior do que ser educado num
colégio de freiras ou num seminário é vaguear pelo mundo sem emprego e sem
família, cujo único horizonte é um “cigarro doce” ou uma seringa na mão. Eis a
morte do velho IDEAL helénico ou mesmo renascentista do Ocidente, trocada pelo
comando tecnológico (uma espécie de “feitiço contra o feiticeiro” e não o
contrário, como é desejável); do materialismo como monarca supremo do mundo; ou
o consumo do sexo em saldo e a inquisição dos mercados. Mas tudo isto, em
tempos de agonia, nos conduz à ideia de que ainda vale a pena ter um presépio
ideal. E a palavra-chave é renascer, seja como for.
Eduardo
Aroso©
Natal,
2018
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