Se Leonardo da Vinci captou, interiormente, o arquétipo da Última
Ceia, vemos que todos estão do mesmo lado. Este pormenor é susceptível de ser
bastante elucidativo. (1) Pese embora a chamada «doutrina social da Igreja»,
tema que para o presente caso não importa, ao contrário do que se geralmente se
pensa de João XXIII, a reforma de “liberalização” da Igreja levada a cabo no seu
pontificado, se trouxe comodidade à assembleia de fiéis, veio barrar o aspecto
esotérico e iniciático da praxis cristã. Se não acabou, dificultou e dificulta
cada vez mais essa via ao cristão, pois, por exemplo, o facto do sacerdote se
posicionar voltado para a assembleia, obriga-o a estar de costas para o
oriente, ponto cardeal para onde TODOS se voltavam, aliás a orientação
tradicional dos templos cristãos. Fica porém a dúvida se a posição do sacerdote
perante a assembleia teria (tem), ou não, como objectivo personificar nele a
autoridade papal. Depois do Vaticano II continuará a haver, portanto, mais
extremadas (mas não incompatíveis) a «Igreja de Pedro» e a «Igreja de João».
Um alto funcionário do Egipto disse, há já algumas décadas, que se o
Islão tem reforma, então já não é o Islão, o que, evidentemente, justifica a
existência do sufismo, como aliás a cabala no Judaísmo. Não se pode dizer o
mesmo de algo no Cristianismo?
(1) Há, como é sabido, uma disposição outra que é
a da Távola Redonda que, para o caso, se insere noutro contexto.
Eduardo Aroso©
Semana Santa, 2022