PÁSCOA E NATUREZA
O êxodo nestes dias de Páscoa em busca de praias ou de
itinerários serranos faz-nos pensar nas raízes portuguesas do nosso peculiar
paganismo. Todavia, se por um lado é um acto natural, de outro modo este ímpeto
actual repousa também numa crescente atitude turística dessacralizada. Não é de
todo inviável a vivência pascal no abraçar a Natureza que nos desponta e brinda,
isto é, fazer dela também um altar. Não parece ser todavia esta debandada de
gente, assustada com o sagrado, a busca de um Paganismo superior como queria
Fernando Pessoa. O impulso é mais um sintoma que contém algo de incrustado
desespero de quem já fez uma cisão com a Natureza: pelo lado de dentro, com
equivocado entendimento do lado de fora.
O penúltimo capítulo da
«História Secreta de Portugal» de António Telmo mostra o cenário que se nos
oferece ver. Quem se senta numa esplanada à beira-mar parece não suportar já a
sonoridade das ondas, as frases melódicas das gaivotas, em suma, a voz do mar
entrelaçada com o vento, coisa agora de metereologia ou algo que pode trazer algum
prejuízo aqui ou acolá numa plantação, se sopra mais forte. A música, de batida
insistente e em subido volume, abafando mesmo as conversas, diz que o dono
daquele espaço comercial, se assim não procedesse, a esplanada teria pouca ou
nenhuma gente. O dito “stress” – ou uma estranha relação com a Natureza – não se
desagarra das pessoas nesta via-sacra pagã. O espanto, face ao silêncio ou ao
som da terra e do mar, deu lugar ao medo do silêncio.
Eduardo Aroso
(Páscoa de 2017)
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