Domingo de Ramos (in ilo tempore) ©
Dias antes já era uma azáfama, um louvar a Deus de
preocupações e alegrias. O corte do loureiro e enfeitá-lo não era menos
preocupação para os rapazes do que o lavar das casas para as mulheres. «A limpeza
Deus a armou» diziam as mais velhas, e assim teria que ser para dali a dias receber
o Senhor. Escova de aço nas mãos, sabão azul e os joelhos em penitência a lavar
o sobrado. Os aspiradores eram naquele tempo ficção científica.
A maior altura do loureiro que os rapazes levavam era o record
a alcançar. Mas quanto mais alto, mais peso, por isso os mais velhitos tinham
vantagem. À porta da igreja tinham que os baixar para entrarem
convenientemente; o entusiasmo era maior do que a altura! Estava ali a representação
bíblica, à maneira da aldeia, de gente simples mas autêntica. Era a nossa
entrada triunfal em Jerusalém. Lá dentro, alguns loureiros roçavam o tecto da
igreja perante alguma preocupação do padre que começava a celebrar a missa, não
fosse a pontareca de algum ramo bater no
azeite das lamparinas. Depois a água benta chegava a todo o lado no momento
próprio. Quanto às mulheres, não tinham problemas, pois os raminhos que levavam
quase cabiam debaixo das mantilhas.
À saída o entusiasmo não era menor do que
aquele que tinha entrado uma hora antes. É que para o Domingo de Páscoa faltava
uma semana e já se pensava no junco e no rosmaninho.
Eduardo Aroso ©
Domingo de Ramos, 2017
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