«NO PLAINO ABANDONADO…» (1) ©
A conversa habitual é o baixo nível nacional. Este parece
ficar cada vez mais longe da guinada a que a consciência do país deveria estar
sujeita. Uma espécie de trambolhão sem partir a cabeça. No café, dos bancos de
jardim até às televisões, um cansaço como quem regressa de uma viagem que não
teve começo. Como dizia o saudoso José Santos Viegas, ninguém aguenta uma
conversa interessante durante mais de um minuto. Cansa a falta de assunto que
valha a pena e mais atordoa certa
linguagem dos que se acham no direito que os ouçam.
Nunca como hoje as
elites do espírito foram tão urgentes para evitar o “microplástico” que há no
pior da nossa democracia, pois qualquer sistema gera desperdícios. Isto é, a
proliferação descontrolada do banal como sensação de direito adquirido. Sem
imposições, as elites do espírito (que não exactamente certas elites académicas/culturais) são vigilantes e
necessárias ao jeito do fermento para levedar a massa, seja qual for a farinha.
Atravessam gerações, fazem escola geralmente fora dos corredores oficiais,
afastadas por aquele princípio de normalização de que o sistema tanto gosta, e sufocadas
pela exacerbação mórbida da última palavra que Camões escreveu em «Os
Lusíadas». As verdadeiras elites – há que dizê-lo – estão num plano bem
diferentes das oligarquias que usam e abusam de privilégios, e do execrável
«snobismo» daqueles que, não os tendo, exibem conhecimento, valor e sabedoria.
Todavia, é reconfortante saber que há ainda restos do
Portugal profundo, dos cerca de mil abraços diários de pessoas há muito
ausentes e que, no reencontro, choram de emoção. É isto que vai resistindo como
a Torre de Pisa que, apesar do perigo, não cai.
Eduardo Aroso©
16-8-2019
Sem comentários:
Enviar um comentário