sexta-feira, 16 de agosto de 2019


«NO PLAINO ABANDONADO…» (1) ©

A conversa habitual é o baixo nível nacional. Este parece ficar cada vez mais longe da guinada a que a consciência do país deveria estar sujeita. Uma espécie de trambolhão sem partir a cabeça. No café, dos bancos de jardim até às televisões, um cansaço como quem regressa de uma viagem que não teve começo. Como dizia o saudoso José Santos Viegas, ninguém aguenta uma conversa interessante durante mais de um minuto. Cansa a falta de assunto que valha  a pena e mais atordoa certa linguagem dos que se acham no direito que os ouçam.
 Nunca como hoje as elites do espírito foram tão urgentes para evitar o “microplástico” que há no pior da nossa democracia, pois qualquer sistema gera desperdícios. Isto é, a proliferação descontrolada do banal como sensação de direito adquirido. Sem imposições, as elites do espírito (que não exactamente certas elites  académicas/culturais) são vigilantes e necessárias ao jeito do fermento para levedar a massa, seja qual for a farinha. Atravessam gerações, fazem escola geralmente fora dos corredores oficiais, afastadas por aquele princípio de normalização de que o sistema tanto gosta, e sufocadas pela exacerbação mórbida da última palavra que Camões escreveu em «Os Lusíadas». As verdadeiras elites – há que dizê-lo – estão num plano bem diferentes das oligarquias que usam e abusam de privilégios, e do execrável «snobismo» daqueles que, não os tendo, exibem conhecimento, valor e sabedoria.  
Todavia, é reconfortante saber que há ainda restos do Portugal profundo, dos cerca de mil abraços diários de pessoas há muito ausentes e que, no reencontro, choram de emoção. É isto que vai resistindo como a Torre de Pisa que, apesar do perigo, não cai.

Eduardo Aroso©
16-8-2019

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