domingo, 16 de fevereiro de 2020


O SILÊNCIO DE TÂNATUS©

Nunca se ouviu dizer ao homem
que o mandassem para o outro mundo.
A terra era a sua vida e um dia, sim,
 -gracejava ele - a terra
teria que o engolir de vez.
A lavoura era o seu sustento
portanto o pão fresco da vida.
No cabo da enxada
o osso mais duro,
e o orvalho onde punha os pés
repassa as botas até à carne.
Logo que nasceu
o destino ditou-lhe o testamento:
seria de sol a sol
e nas noites, fosse verão ou inverno,
do seu quarto veria as estrelas
por um buraquito do telhado
que nunca chegaria a ser forrado
nem que fosse de fasquia barata.
Nunca se ouviu dizer ao homem
que queria morrer.
A terra era a sua vida
e de que modo a vida
podia dar ordem para matá-lo,
salvo a cachaça da manhã
um comprido insignificante?

Não foi preciso autorizar a terra
E agora ele tem a terra e a terra tem-no
Consentidos uns sete palmos.
A misteriosa ordem da vida
é que sorri do amor cumprido.

Eduardo Aroso©
16-2-2020

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