«O TERROR DO IDÊNTICO» E A PARALISAÇÃO DA ALTERIDADE
«Hoje, a rede transforma-se numa caixa de ressonância especial, numa câmara
de eco da qual foi eliminada toda a alteridade, toda a estranheza. A verdadeira
ressonância pressupõe a proximidade do outro (…) A comunicação global consente
somente mais idênticos – ou os outros na condição de serem idênticos».
Perante este excerto de Byung-Chul Han, acode logo à nossa mente a
multidão de comentadores televisivos e outros que, tantas vezes, parecendo diferentes,
fazem parte do grande exército entre o qual - sob pena de ser excluída - não se
levanta a voz da verdadeira alteridade, que cause estranheza, porque se isso
acontece logo se lançariam as farpas da intolerância sobre quem exprime «o
pensamento que pensa». É o instalado “politicamente correcto” que vai da área da
governação à arte; da ciência académica (também com o seu mainstream próprio),
ao mundo da moda. Cabe, antes de mais, distinguir (e corrigir) ambiguidades no
presente de «radicalismo» e «extremismo» e mais ainda de «fanatismo». O
primeiro, tão necessário, aborda os assuntos desde a raiz (radix); o segundo
tende a afastar posições que, numa perspectiva de conjunto e em espiral, podem
ser abordadas numa visão de conjunto. No
fanatismo parece não existir qualquer forma de razão. Movemo-nos assim nesse ambiente
da avassaladora tendência de gostar extremamente, emocionalmente, daquele e não
do outro, ainda que no fundo possamos - oh, quantas vezes sem o dizer - encontrar verdades nos dois
lados. O panorama dos comentários do facebook não deixa dúvidas, onde a voz da
alteridade, mesmo em assuntos comezinhos, ou é bloqueada, ou a alteridade (que
exige paciência e tempo, é certo) morre à nascença. Talvez no receio de
insegurança, e por isso interiormente fragilizados, aderimos a um ou outro lado,
duas hipóteses que não suportam a estranheza, o "espanto" helénico perante o que não passaria pela cabeça. Ficamos assim na
dualidade sem remissão, no labirinto da interdisciplinaridade, onde ainda não
entrou réstia de sol da transdisciplinaridade.
Eduardo Aroso
Fevereiro, 2020
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