LUÍS DE CAMÕES – ENTRE A FORÇA
DA GRAVIDADE E A FORÇA CELESTE
«E aqueles que por obras valerosas
Se vão da lei da Morte libertando»
(Os Lusíadas, Canto I)
A gravidade é uma das leis da física que mais facilmente
entendemos desde os bancos da escola. A invenção do avião, não podendo anular
essa lei, trouxe contudo a possibilidade de nós escaparmos, por mais ou menos
tempo, a essa força que nos puxa para baixo. Segundo a ficção científica – que lentamente
sempre se vai tornando realidade – é possível viver cada vez mais tempo no
espaço.
Quando Camões se referiu à libertação da lei da Morte,
apontava a possibilidade do glorioso caminho que, num futuro talvez distante,
toda a humanidade pode trilhar. É evidente que não se trata de viver eternamente
no corpo, mas da construção por cada um de uma espécie de “corpo vital de
memória”. Construção ou libertação ultrapassando a não-memória ou a má-memória.
Milhares de seres humanos morrem diariamente ainda nestas condições não
realizadas. Raros se elevam, no tempo, nesse corpo ou auréola. Há também os que
fazem batota, ou seja, os Ícaros que julgam ter asas (ou as compram na
contrafação), que logo caem no chão derretidas pelo sol da verdade, no
julgamento da História. Nestes últimos tempos, nas comemorações do 10 de Junho da
velha Casa Lusitana, muitos Ícaros têm exibido a sua lapela, mas, ao invés dos
aviões, não criaram propulsão. Ícaro caiu no mar Egeu; os nossos caem na costa
atlântica ou mesmo em terra. As medalhas podem ficar. As asas, por serem de
cera, é que se vão derretendo…
Eduardo Aroso ©
Sem comentários:
Enviar um comentário