quinta-feira, 2 de abril de 2015

AS TRÊS NEGAÇÕES DE PEDRO

«E logo o galo cantou pela segunda vez. Então Pedro lembrou-se das palavras que Jesus lhe tinha dito: "Antes que o galo cante duas vezes, tu negar-me-ás três vezes". E pôs-se a chorar».  Marcos 14:72

As grandes negações da História (e por certo também afirmações) surgem na iminência das grandes mudanças, no auge de um período ou ciclo que finda, para que, naturalmente, outro comece. Quando o Bem abre clareiras, logo se lhe opõe o Mal e, ainda que este seja relativo, é uma força que está no teatro do mundo. Lei da Natureza: a uma acção corresponde sempre uma reacção. O leitor pode verificar que a um determinado pioneirismo espiritual e cultural (um movimento literário, por exemplo) segue-se um período de apatia, não só pela reacção de forças adversas como pela dificuldade em si dos discípulos continuarem com a mesma elevação o trabalho dos iniciadores. E até a nossa querida Fraternidade Rosacruz não esteve imune a isso!

A negação, considerada no percurso espiritual do estudante/probacionista /discípulo, segue o mesmo paralelismo, isto é, em alguma etapa negamos o Mestre e/ou a filosofia que abraçamos. Pode não ser uma negação explícita e não o será à medida que se avança, mas não nos esqueçamos do Padre António Vieira quando há três séculos já falava nos «pecados de comissão» e nos «pecados de omissão», assunto este que Max Heindel retoma numa das suas lições. O que deixamos de fazer pode, em certas circunstâncias, ser pecado no sentido de ofensa.
A negação pode pôr a descoberto as nossas fraquezas, que nos podem também assustar repentinamente, e isto não estará longe do que a moderna psicologia chama «a sombra» de cada um. Quantas vezes negámos as nossas convicções, não claramente, mas em actos que ferem a essência dos princípios? Alguns exegetas bíblicos têm visto na negação de Pedro a negação da própria essência do Cristianismo  (pois o apóstolo viria a ser a pedra-angular da chamada Igreja Romana), devido a acontecimentos como a Inquisição e mais recentemente no deboche de certa cúria do Vaticano. Mas este sentido da negação, pela sua extensão, é aqui obviamente ultrapassado.

Quanto ao galo, na Tradição, é um símbolo solar, o despertar, a vigilância,  o que se anuncia entre a noite e o dia. Pitágoras refere-se desta maneira «alimentai o galo e não o imoleis, pois ele é consagrado ao sol e à lua».
Em resumo, o episódio do Apóstolo Pedro deve ser motivo de reflexão, ainda que a natureza tenha sempre um galo pronto a um cantar de alerta, felizmente, pela misericórdia de Deus.

Páscoa de 2015
Eduardo Aroso ©


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