AS
TRÊS NEGAÇÕES DE PEDRO
«E
logo o galo cantou pela segunda vez. Então Pedro lembrou-se das palavras que
Jesus lhe tinha dito: "Antes que o galo cante duas vezes, tu negar-me-ás
três vezes". E pôs-se a chorar». Marcos
14:72
As
grandes negações da História (e por certo também afirmações) surgem na
iminência das grandes mudanças, no auge de um período ou ciclo que finda,
para que, naturalmente, outro comece. Quando o Bem abre clareiras, logo se lhe
opõe o Mal e, ainda que este seja relativo, é uma força que está no teatro do
mundo. Lei da Natureza: a uma acção corresponde sempre uma reacção. O leitor
pode verificar que a um determinado pioneirismo espiritual e cultural (um
movimento literário, por exemplo) segue-se um período de apatia, não só pela reacção
de forças adversas como pela dificuldade em si dos discípulos continuarem com a
mesma elevação o trabalho dos iniciadores. E até a nossa querida Fraternidade
Rosacruz não esteve imune a isso!
A
negação, considerada no percurso espiritual do estudante/probacionista /discípulo,
segue o mesmo paralelismo, isto é, em alguma etapa negamos o Mestre e/ou a
filosofia que abraçamos. Pode não ser uma negação explícita e não o será à
medida que se avança, mas não nos esqueçamos do Padre António Vieira quando há
três séculos já falava nos «pecados de comissão» e nos «pecados de omissão»,
assunto este que Max Heindel retoma numa das suas lições. O que deixamos de
fazer pode, em certas circunstâncias, ser pecado no sentido de ofensa.
A
negação pode pôr a descoberto as nossas fraquezas, que nos podem também
assustar repentinamente, e isto não estará longe do que a moderna psicologia
chama «a sombra» de cada um. Quantas vezes negámos as nossas convicções, não
claramente, mas em actos que ferem a essência dos princípios? Alguns exegetas
bíblicos têm visto na negação de Pedro a negação da própria essência do
Cristianismo (pois o apóstolo viria a
ser a pedra-angular da chamada Igreja Romana), devido a acontecimentos como a
Inquisição e mais recentemente no deboche de certa cúria do Vaticano. Mas este
sentido da negação, pela sua extensão, é aqui obviamente ultrapassado.
Quanto
ao galo, na Tradição, é um símbolo solar, o despertar, a vigilância, o que se anuncia entre a noite e o dia.
Pitágoras refere-se desta maneira «alimentai o galo e não o imoleis, pois ele é
consagrado ao sol e à lua».
Em
resumo, o episódio do Apóstolo Pedro deve ser motivo de reflexão, ainda que a
natureza tenha sempre um galo pronto a um cantar de alerta, felizmente, pela
misericórdia de Deus.
Páscoa
de 2015
Eduardo
Aroso ©
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