UM
PRESIDENTE PARA A PÁTRIA, A NAÇÃO E O PAÍS
Do
mesmo modo que não me contento com um deus menor, desses que surgem por aí ao
virar da esquina das novas prédicas religiosas inflamadas, também não gostaria
de ter um presidente menor, mesmo cavalgando no corcel gasto da frase: «de
todos os portugueses». Anseio por um presidente maior (seja qual for a sua
estatura física) para os destinos de um Portugal maior, remanescente esse que é
mais verdadeiro do que o longínquo e deturpado dos ecrãs e jornais diários.
Nenhum
dos candidatos tem formação holística de nervura intrinsecamente portuguesa;
nenhum deles tem um fulminante pensamento que atravesse, palpitando, oitocentos
anos de História, sendo mais fácil ir buscar a palavra «Europa» ou
«internacionalismo» mas não saindo do caseirismo do beija-mão ao interesse do
momento; nenhum deles tem o estetoscópio necessário para saber as batidas do
coração do Povo (grafa-se com maiúscula para distinguir do povo votante, o das
estatísticas), mesmo que os candidatos voltem às feiras, às escolas, e visitem
lares de idosos. Seria bom agora haver rei (entenda-se herdeiro da estirpe de
Aviz), mas não sendo possível pela república parlamentar, talvez o fosse pela
república do Povo! Ser académico brilhante, comentador televisivo, empresário
pragmático ou abraçar causas de protecção social, é como dizer «a César o que é
de César…». Mas o facto de cada um desvalorizar «o tom» em que o adversário se
move, mostra a manifesta insuficiência de perfil globalizante, qual águia
altaneira. Já há muito que degradação das elites do espírito levou
necessariamente à degradação da vida política sem ética nem estética.
Mas…
quanto aos candidatos? É o que temos? Será assim? Ou apenas o que se nos
mostra do mais (e melhor) que existe e não se manifesta?!!! Nos momentos
cíclicos da vida nacional percebe-se que o subterrâneo mito português do
Encoberto vem um pouco mais à superfície. Um rei oculto ou um presidente sombra
passam nas avenidas insatisfeitas da nação. Mas o cerrado nevoeiro faz com que
toquemos as esquinas de dor ou então sigamos caminho sem saber por onde
vamos. Nenhum dos candidatos se preparou
para ser presidente maior do Portugal maior, ainda que tenhamos o dever de escolher
um deles. Todavia, haverá sempre um rei oculto ou um presidente sombra na
avenida enigmática da espera que, infelizmente, nunca desespera.
Eduardo
Aroso ©
13
de Janeiro de 2015
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