SIEGFRIED E S. MIGUEL ARCANJO
Imortalizado na obra de Wagner, Siegfried é porventura o herói
mais destemido dos mitos nórdicos, pois nem Wotan o chefe dos deuses, o impediu
de ir rumo à verdade. É importante notar que os da mesma estirpe de Siegfried eram
levados pelas Valquírias que conduziam os mortos que tombavam valorosamente no
campo de batalha, o que nos deixa a pensar se nas presentes batalhas (embora a
maioria delas não seja de espada de metal) as Valquírias ainda se disponham à
sua nobre missão de conduzir à luz da verdade aqueles cuja coragem não os deixa
ter medo. O que se deve sublinhar é que o intenso amor pela verdade é que expulsou
o medo do coração de Siegfried.
Na tradição cristã ocidental S. Miguel Arcanjo (que se
confunde com S. Jorge, venerado pelos britânicos) parece ser o “gémeo” de Siegfried,
no seu atributo divino de coragem superlativa para matar o dragão, entidade que
– seja qual for o simbolismo que dele se tome – o ser humano deve dominar para
prosseguir na sua ascese espiritual. O dragão não é visto exactamente do mesmo
modo nas várias culturas, sendo certo que constitui uma dificuldade extrema que
deve ser ultrapassada se quisermos prosseguir na senda. Desde a ideia mais ou
menos obscura que há no conceito de «Sombra», inerente a cada pessoa, perfilhado
por certas correntes de psicologia; passando pela tremenda força-energia que existe
na base da coluna vertebral (kundalini) que, despertada de modo incorrecto, pode
ter um efeito nefasto; até à medonha e terrível entidade chamada «O Guardião do
Umbral» que todo o verdadeiro Iniciado deve enfrentar e vencer.
Sendo inegável a beleza da narrativa de Siegfried, bem
consagrada na poesia e na música, ainda assim prefiro São Miguel Arcanjo, pois,
imbuído no pensamento ocidental, está mais próximo da nossa compreensão
consciente, exaltado ser hagiográfico capaz de dominar o Dragão enquanto sinal
de qualquer tipo de Mal.
Festa de S. Miguel Arcanjo, Setembro 2019
Eduardo Aroso
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