quarta-feira, 15 de janeiro de 2020


O ESPLENDOR DA BARBÁRIE

Reveste-se hoje de formas várias e subtis. Não é o barbarismo de antanho, ainda que este não tenha desaparecido de todo e seja ele a referência a toda a hora em programas de televisão, o de golpes de faca ou de pistola. Atirar pessoas a um desfiladeiro é menos vulgar. Essa velha mas recalcitrante barbárie era a que ainda não tinha subido evolutivamente na espiral para formas mais harmoniosas de relação. A barbárie actual que se espalha como uma espécie de polinização, é aquela que se recusa, que mais ou menos conscientemente quer regredir, no desespero de tomar o poder em formas primitivas, ou em formas de hipnotismo fácil, mas que resulta. A que toma a arte e, em nome de certo futurismo, nos atola cada vez mais a sensibilidade para o Belo. A tal arte que - diz-se – nos faz pensar (!) ainda que dispense o estético, arte que geralmente atinge preços descomunais e que alguns municípios portugueses se alegram em mostrar como formas modernaças de progresso. Esplendor também assente em palavras como cooperação e lei, quando esta está feita com as alíneas que o cidadão pobre não entende. E não é menor o barbarismo do ensino onde, como alguém já disse, «se avalia mais o que o aluno não sabe do que aquilo que ele sabe», como se esse infinito de saberes que se estende para as galáxias coubesse no cérebro do mais inteligente dos seres.

Eduardo Aroso
 Janeiro de 2020

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