O ESPLENDOR DA BARBÁRIE
Reveste-se hoje de formas várias e subtis. Não é o barbarismo de
antanho, ainda que este não tenha desaparecido de todo e seja ele a referência
a toda a hora em programas de televisão, o de golpes de faca ou de pistola.
Atirar pessoas a um desfiladeiro é menos vulgar. Essa velha mas recalcitrante
barbárie era a que ainda não tinha subido evolutivamente na espiral para formas
mais harmoniosas de relação. A barbárie actual que se espalha como uma espécie
de polinização, é aquela que se recusa, que mais ou menos conscientemente quer
regredir, no desespero de tomar o poder em formas primitivas, ou em formas de
hipnotismo fácil, mas que resulta. A que toma a arte e, em nome de certo
futurismo, nos atola cada vez mais a sensibilidade para o Belo. A tal arte que -
diz-se – nos faz pensar (!) ainda que dispense o estético, arte que geralmente
atinge preços descomunais e que alguns municípios portugueses se alegram em
mostrar como formas modernaças de progresso. Esplendor também assente em palavras
como cooperação e lei, quando esta está feita com as alíneas que o cidadão
pobre não entende. E não é menor o barbarismo do ensino onde, como alguém já
disse, «se avalia mais o que o aluno não sabe do que aquilo que ele sabe», como
se esse infinito de saberes que se estende para as galáxias coubesse no cérebro
do mais inteligente dos seres.
Eduardo Aroso
Janeiro de 2020
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