LUAR DE JANEIRO©
Na aldeia que ainda existe
parece dar com mais nitidez
na porta das casas de cor fria
onde nada entra e apenas saem
fantasmas de solidão que não emigraram.
(As paredes tinham veias que secaram).
É um vai-e-vem todo o dia
das horas de sol
que não encontram ninguém para
aquecer.
Por isso as tardes sofrem e até a lua
na certeza da noite já não ter fogueira.
Quem me dera saber se o piar dos mochos
tira os mortos da eternidade
ou se é lamento de alguma promessa por pagar
do tempo em que havia «palavra de honra».
Ah, o suor do rosto, diamante da vida,
é guardado num sacrário perdido no tempo.
Dinheiro fácil - que aqui não se cultiva
é o dos mercados e agora parece um vestido de anjo
daqueles das crianças quando vão na procissão.
Por isso todos gostam e não estranham
tanta fé nessa adoração.
Este é o último dia do mês de Janeiro
e cada vez mais o luar que não tem parceiro
se esconde para não nos pôr a memória
em carne viva, todo o mês, o ano inteiro.
Eduardo Aroso©
31-1-2020
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