domingo, 25 de setembro de 2016

ü     DA CONSTRUÇÃO DO TEMPLO (1)

A pedra mais sólida do templo é a que se coloca em amoroso silêncio, como o luar mais límpido se espelha num lago na quietude nocturna. É a própria luz, e não uma voz troante, que mostra o que se deve mostrar. O acto diário de ser, o gesto simpático que tantas vezes ilumina o outro como um voo de ave no céu, isso é também a construção do templo. Fazer o melhor que é possível aumenta sempre a auréola do templo. Porém, o que lhe dá a fortaleza contra tempestades súbitas do mundo e os efémeros gostos de cada época, é o sacrifício consentido de uns tantos, soldados e generais em simultâneo, talhando as directivas e logo fazendo, pois, como disse um poeta «o esforço é grande e o homem é pequeno».
 A construção do templo, seja o de cada um, vestimenta luminosa do corpo-alma, seja um outro mais amplo daqueles que voluntariamente não abandonam a seara do Senhor, Servidores Invisíveis do Arquitecto-Mor, segue sempre o seu percurso como a marcha do tempo, mesmo na apatia e desconforto de alguns dias, ou se a escuridão momentânea se abate sobre os braços vigilantes dos obreiros. Permanecer é um sentimento de certeza de que aquilo que se ergue nenhuma erosão desgasta e nenhum falso profeta ousará aproximar-se onde a luz da verdade e do amor queima a mentira.

Eduardo Aroso ©
Equinócio de Setembro, 2016


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