A IGREJA DE PEDRO (EXOTÉRICA), A
IGREJA DE JOÃO (ESOTÉRICA) E OS SEUS MEANDROS OCULTOS EM PORTUGAL
A relação dos monarcas
portugueses com a Santa Sé ao longo da História aconteceu ora numa aceitação
sem vacilar, ora em atitude que, não negando a cristandade, escolhia outras
vias que não as dos ditames exactos de Roma. D. João III querendo mesmo ser
“mais papista que o Papa” (Inquisição) e D. Dinis que, num acto superior e
inteligente do “desenrascar” lusitano, acolheu sabiamente os Templários, o
mesmo é dizer aqueles que iriam preparar o «Projecto Áureo» - que a Europa não
imaginava - e que contaria com os «fraticceli». Quiçá o primeiro exemplo audaz
é de Afonso Henriques quando se arma cavaleiro em Zamora e logo começa a
adiantar as coisas… Se mais sinais não houvesse destas relações (dir-se-ia
alternantes da Igreja de Pedro e a de João) bastaria o que está no chamado
Painel do Santo das Tábuas das Janelas Verdes, de Nuno Gonçalves, onde vemos o
Livro sagrado aberto na primeira página do imortal Evangelho do Apóstolo Amado
(João).
Se atendermos ao «providencialismo histórico»
- como no-lo descreve António Quadros em «Introdução à Filosofia da História»
ou Agostinho da Silva em várias obras - não é difícil aceitar que, consoante a
época e as circunstâncias, os reis tomassem atitudes dir-se-ia nem sempre
dentro do mesmo cânone. Todavia – no dizer de Pessoa «o homem e a hora são um
só» - é de crer que a Mão do Destino guiaria cada decisão da melhor maneira. Do
mesmo modo se poderia chamar a este assunto os vários laços de consaguinidade
de figuras proeminentes da corte portuguesa (reis alguns) que se foram
estabelecendo com os pares de Espanha, quando a nação portuguesa sempre lutou
contra a sua anexação a Castela. Os sempre enigmas do visível e do invisível. D.
João IV tem um gesto singular ao depor a coroa real em Nossa Senhora da
Conceição, continuando, deste modo, a nossa tradição do culto ao feminino na
figura da Mãe de Jesus, gesto esse simbólico, nunca mais interrompido já depois
da monarquia, prolongando-se em Fátima. Mas tudo isto leva a pensar se (depois
da Expansão, da presença dos «fraticceli», do culto do Espírito Santo e de
outros acontecimentos) o acto do primeiro rei da 4ª Dinastia representa a “entrega”
definitiva, ou não, da Igreja de Pedro (e de um modo mais visível) na relação
de Portugal com a Santa Sé.
(Conclui no próximo texto)
Eduardo Aroso
7-11-2020
Sem comentários:
Enviar um comentário