domingo, 8 de novembro de 2020

 

A IGREJA DE PEDRO (EXOTÉRICA), A IGREJA DE JOÃO (ESOTÉRICA) E OS SEUS MEANDROS OCULTOS EM PORTUGAL

 

A relação dos monarcas portugueses com a Santa Sé ao longo da História aconteceu ora numa aceitação sem vacilar, ora em atitude que, não negando a cristandade, escolhia outras vias que não as dos ditames exactos de Roma. D. João III querendo mesmo ser “mais papista que o Papa” (Inquisição) e D. Dinis que, num acto superior e inteligente do “desenrascar” lusitano, acolheu sabiamente os Templários, o mesmo é dizer aqueles que iriam preparar o «Projecto Áureo» - que a Europa não imaginava - e que contaria com os «fraticceli». Quiçá o primeiro exemplo audaz é de Afonso Henriques quando se arma cavaleiro em Zamora e logo começa a adiantar as coisas… Se mais sinais não houvesse destas relações (dir-se-ia alternantes da Igreja de Pedro e a de João) bastaria o que está no chamado Painel do Santo das Tábuas das Janelas Verdes, de Nuno Gonçalves, onde vemos o Livro sagrado aberto na primeira página do imortal Evangelho do Apóstolo Amado (João).


 Se atendermos ao «providencialismo histórico» - como no-lo descreve António Quadros em «Introdução à Filosofia da História» ou Agostinho da Silva em várias obras - não é difícil aceitar que, consoante a época e as circunstâncias, os reis tomassem atitudes dir-se-ia nem sempre dentro do mesmo cânone. Todavia – no dizer de Pessoa «o homem e a hora são um só» - é de crer que a Mão do Destino guiaria cada decisão da melhor maneira. Do mesmo modo se poderia chamar a este assunto os vários laços de consaguinidade de figuras proeminentes da corte portuguesa (reis alguns) que se foram estabelecendo com os pares de Espanha, quando a nação portuguesa sempre lutou contra a sua anexação a Castela. Os sempre enigmas do visível e do invisível. D. João IV tem um gesto singular ao depor a coroa real em Nossa Senhora da Conceição, continuando, deste modo, a nossa tradição do culto ao feminino na figura da Mãe de Jesus, gesto esse simbólico, nunca mais interrompido já depois da monarquia, prolongando-se em Fátima. Mas tudo isto leva a pensar se (depois da Expansão, da presença dos «fraticceli», do culto do Espírito Santo e de outros acontecimentos) o acto do primeiro rei da 4ª Dinastia representa a “entrega” definitiva, ou não, da Igreja de Pedro (e de um modo mais visível) na relação de Portugal com a Santa Sé.  


(Conclui no próximo texto)

Eduardo Aroso

7-11-2020 

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