A IGREJA DE PEDRO (EXOTÉRICA), A
IGREJA DE JOÃO (ESOTÉRICA) E OS SEUS MEANDROS OCULTOS EM PORTUGAL (Conclusão do
texto anterior)
Para além do que transparece dos
Painéis de Nuno Gonçalves, encontramos indícios da Igreja de João na
arquitectura e na literatura portuguesas, de que «Os Lusíadas» e «Mensagem» são
bons exemplos, para além do que mais neles se pode ler. Um dos mais recentes
acontecimentos, entre nós, terá sido o movimento da Renascença Portuguesa
através da sua revista «A Águia». Na insistência do nome desta ave que fita o
sol (agora temos a «Nova Águia») parece estar a resposta. O Apóstolo João é
conotado com a águia. Observe-se, por exemplo, a frontaria da Sé Catedral de
Viseu onde estão os quatro apóstolos (que correspondem aos 4 evangelhos
canónicos) e onde vemos a águia junto a João.
O que se tem buscado com o nome
de Igreja Lusitana, à falta de outras fontes que legitimamente talvez se
pudessem considerar, é susceptível de desde sempre ter existido nas influências
mais ou menos alternantes destas duas vias essenciais do Cristianismo. Pela
altíssima e peremptória afirmação de S. João no início do seu evangelho «No
princípio era o Verbo (Logos)», o português começou, fosse como fosse, por
escutá-lo no rumor do mar, no marulhar das ondas. Verbo como movimento e vida.
Quem sabe se a arqueologia mais enigmática da fonética e do ritmo da língua
portuguesa, em simbiose com o latim e outros idiomas influentes, se foi
moldando singularmente nessa sonoridade oceânica. Pessoa, ao referir-se ao
Rei-Lavrador (diríamos hoje Lavrador da cultura lusíada) escreve: «… E
a fala dos pinhais, marulho obscuro,/É o som presente desse mar futuro,/É a voz
da terra ansiando pelo mar». Sendo certo que entre os actos da Igreja de Pedro
e a de João há a Única Mão, é árdua a tarefa de averiguar com clareza as suas as
repercussões, nas diferenças, ao longo do tempo. Mas podemos pensá-la sob o
emaranhado paradoxo português.
Eduardo Aroso
23-10-2020
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