domingo, 8 de novembro de 2020

 A IGREJA DE PEDRO (EXOTÉRICA), A IGREJA DE JOÃO (ESOTÉRICA) E OS SEUS MEANDROS OCULTOS EM PORTUGAL (Conclusão do texto anterior)

 

 Para além do que transparece dos Painéis de Nuno Gonçalves, encontramos indícios da Igreja de João na arquitectura e na literatura portuguesas, de que «Os Lusíadas» e «Mensagem» são bons exemplos, para além do que mais neles se pode ler. Um dos mais recentes acontecimentos, entre nós, terá sido o movimento da Renascença Portuguesa através da sua revista «A Águia». Na insistência do nome desta ave que fita o sol (agora temos a «Nova Águia») parece estar a resposta. O Apóstolo João é conotado com a águia. Observe-se, por exemplo, a frontaria da Sé Catedral de Viseu onde estão os quatro apóstolos (que correspondem aos 4 evangelhos canónicos) e onde vemos a águia junto a João.

 O que se tem buscado com o nome de Igreja Lusitana, à falta de outras fontes que legitimamente talvez se pudessem considerar, é susceptível de desde sempre ter existido nas influências mais ou menos alternantes destas duas vias essenciais do Cristianismo. Pela altíssima e peremptória afirmação de S. João no início do seu evangelho «No princípio era o Verbo (Logos)», o português começou, fosse como fosse, por escutá-lo no rumor do mar, no marulhar das ondas. Verbo como movimento e vida. Quem sabe se a arqueologia mais enigmática da fonética e do ritmo da língua portuguesa, em simbiose com o latim e outros idiomas influentes, se foi moldando singularmente nessa sonoridade oceânica. Pessoa, ao referir-se ao Rei-Lavrador (diríamos hoje Lavrador da cultura lusíada) escreve: «… E a fala dos pinhais, marulho obscuro,/É o som presente desse mar futuro,/É a voz da terra ansiando pelo mar». Sendo certo que entre os actos da Igreja de Pedro e a de João há a Única Mão, é árdua a tarefa de averiguar com clareza as suas as repercussões, nas diferenças, ao longo do tempo. Mas podemos pensá-la sob o emaranhado paradoxo português.

 

 Eduardo Aroso

23-10-2020

 

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