O “DIA DAS BRUXAS” (INVERSÃO DE
ESCORPIÃO) E A BANALIZAÇÃO DA VIDA E DA MORTE
Alguém no facebook colocou uma
foto de uma criança vestida como convém ao seu gosto de mãe, e escreveu: «Gosto
muito de ti minha vampirinha». A abóbora oca, iluminada, é um ludismo bonito
para as crianças; diferente é ser bruxinha; mais ainda parece ser vampira!
A progressão é clara, uma INVERSÃO progressiva
do arquétipo de Escorpião, porque até durante o ano os jovens andam de t-shirt
preta com uma caveira (e não só)! Vem isto obviamente a propósito do Dia de
Finados ou Fiéis Defuntos. A educação que se está a dar às crianças, banaliza
as duas realidades: a vida e a morte. Pese embora tudo o que ao longo de
séculos se tem escorrido do mistério e de experiências no sentido de crer que
há algo para além do último suspiro, tudo isto tem sido tomado (importado) como
um jogo de bruxas e vampirinhos para nos assustar ou fazer rir. É um carnaval
que prenuncia o outro que virá, esse no tempo certo, depois do Natal. Eu que
leccionei durante 35 anos, causa-me tristeza esta pedagogia que se fez moda. É
certo que os mais velhos têm outra atitude, todavia é de lamentar não haver
outra maneira mais inteligente e com um sentido mais pedagógico de vivenciar
esta efeméride.
É certo que esta data não
acontece por acaso, quando o Sol transita em Escorpião/Serpente/Águia. Esconde-se
um sentimento (vontade) oculto na bonita cantilena, felizmente ainda vivenciada
em Portugal, na qual eu próprio participava em criança, que reza assim:
Bolinhos e bolinhós
Para mim e para vós,
Para dar aos finados
Que estão mortos e enterrados
À porta da bela cruz
Truz, Truz, Truz!
Transpondo o sentido do pão
(coisa material) há, creio eu, a verdade de “alimentar” a relação dos vivos e
dos mortos por uma amoroso pão de memória («para dar aos finados», saudades que
ficam de quem partiu. Chamar-lhe-emos Pão da Vida.
É neste dia que os mortos estão
mais próximos de nós («quando os mortos amados/batem à porta do poema»).
Significa isso que são bruxos e bruxas ou vampiros?! O filósofo António Telmo
disse que uma pessoa aceita muito natural ver imagens na televisão de alguém
que já morreu, mas se tivesse uma visão dessa pessoa em sua casa, ficaria
gelado de medo. É o modelo cultural das nossas sociedades da cerrada oposição
vida-morte, ainda que sejam realidades distintas. Espera-se que num futuro
próximo ele passe por uma outra educação, qualquer que seja, mas que não
banalize o que é a nossa caminhada aqui e além fronteira…
Eduardo Aroso ©
1-11-2020
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