terça-feira, 30 de dezembro de 2014


AS CIDADES E A VIA

                          A Edmundo Teixeira, in memoriam

 
Oh, Babilónia, Oh, Jerusalém!
Irmãs desencontradas, não conheceis
A verdade da vossa natureza
Na luta que há tanto se mantém?
Pois não ouvis a voz do Alto
Que mostra Reino de maior grandeza?!

Em ti, Babilónia, se ergue a perdição
Nos degraus que subimos de egoísmo
Quisemos a torre funesta da confusão
Crescendo de caos e materialismo.

E vós, Jerusalém, ruas ainda desertas,
Futuras searas e vinhas do Senhor.
Quando se levantam almas despertas
Nas madrugadas voluntárias do amor?!

Eduardo Aroso ©
Natal de 2014

segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

A CHAMA E A DISTÂNCIA

 
Dava-te o fogo mais fogo
E só poderia ser
O que em mim acendeste.
Em labaredas vivas
Eu percorria
O longe que se fez inevitável.
Na planura do deserto e no íngreme da montanha
A minha ânsia seria um corcel alado.
Tudo
Para estares comigo
À fogueira neste dia.

 
Eduardo Aroso ©
22-12-2014

domingo, 21 de dezembro de 2014

AFORISMOS DE IMANÊNCIA (27)

Não duvides: a resposta para a tua pergunta está na interrogação seguinte.

Eduardo Aroso
20-12-2014

quinta-feira, 11 de dezembro de 2014


                                       A PALAVRA (SEMPRE) UMBILICAL

 Substituir, no possível, a informática anarquizante e às vezes obscura, pela informática de proximidade, mesmo que possa bloquear pela respiração e transpiração das pessoas.

Mudar o barrete vermelho e branco – que se cola ou coca-cola - pela dignidade da palavra.

Converter a guloseima feita do acidificante açúcar industrial pela broa sem milho transgénico.

Provar (ainda) o silêncio da chama da lareira, ou apenas desse levíssimo rumor de memórias, na difícil pausa que interroga e depois responde.

Com ou sem fumo da chaminé, a voz como línguas de fogo, iniciando o calendário da esperança na primeira folha que se abre no escuro mais longo do solstício.

A reverberação da palavra no alpendre, à entrada de tudo, no pátio ou no café, ou no espaço maior de todos nós, filhos deste tempo, porque dele somos todos sem-abrigo.

Plasmar o verbo na noite contraída por tanta lembrança e, olhando o horizonte nocturno, no propósito de nunca pronunciar em vão o presente do indicativo do verbo Amar.

 

Eduardo Aroso ©

Natal, 2014

quarta-feira, 3 de dezembro de 2014


TRÊS POEMAS DE NATAL 
 
À memória de José Ledesma Criado e em amizade com outros dois poetas: António Salvado e
Alfredo Pérez Alencart.
 

               1

Renovar a carne
Para que não seja sempre
A mesma limitação.
Quero-a ágil
E que me responda como o vento.
Todo o momento é frágil
Até que as pedras sejam todas luz.
Renovar a carne
É escutar pela noite dentro
A esperança das velhas profecias
E o vigor de semear hossanas,
Boa-nova das madrugadas,
Salmo dos dias.

            2

 
Há um berço universal
No frio carinhoso do solstício de Dezembro.
Astros e estrelas: pirilampos da Criação!
E nem as trombetas dissonantes
Que apupam este mundo imundo,
Os podem assustar.
A obstetrícia rodeia incessante
A gestação divina que ultrapassa
Além das nove luas
Aquele que nasce – sempre disposto a nascer –
Dissipando a morte, libertando mais
Que a abolição da escravatura.

             3

 
Deus não desce,
Pois nós é que temos de subir…
E o deserto existe
Para que a água sacramentada
Na areia seja salvação.
Sei que alguém gostaria
De ter estrelas na mão
E livrar-se
Do exercício benéfico do longínquo.
A sapiência enrola-se à maneira do caduceu
No bordão do peregrino.

 
Eduardo Aroso ©
Natal, 2014

 

 

 

 

quarta-feira, 19 de novembro de 2014

AFORISMOS DE IMANÊNCIA (26)

O caminhante pede água. Alguém lha dará, porque ele terá que continuar. O seu destino é avançar. Não teme a morte, porque já teve muitos desfalecimentos.
Eduardo Aroso

sexta-feira, 14 de novembro de 2014

LINHA DA LOUSÃ ©

(À memória do poeta brasileiro Manuel Bandeira
 que escreveu «Trem de Ferro» e do compositor, do mesmo país,
 Heitor Villa-Lobos e da sua obra  «Trem Caipira»)

De ferro era o trem.
Não o que a gente tem.

Pouca-terra, pouca-terra,
E para transporte novo
Muito voto, muito voto,
Pouco-povo, pouco-povo!

Da Portagem e Calhabé
Passa o rio e passa Ceira,
Passa Trémoa e Miranda
Em Lousã até Serpins.
Acabou-se então o sonho
Aqui na serra desta banda....

Caros Heitor e Manuel,
Aqui temos pneu caipira
Para assim servir a linha
Alinhada neste carril
Democracia de cordel.

De ferro era o trem.
Não o que a gente tem.


Eduardo Aroso ©
14-11-2014




sexta-feira, 7 de novembro de 2014


PANORAMA
- DOS CLÉRIGOS AO DOURO

                A Paulo Ferreira da Cunha

 
Algures uma rotunda imita o disco solar
Garantindo o direito de haver dia,
O ímpeto benigno da manhã.
Antes do rio de onde chega sempre
A síntese das quatro estações,
Pessoas cruzadas
Xadrez de vibráteis direcções.
Tudo começa na saudação audível
A toda a largura da rua
Sob o olhar das pombas que sem receio
São elas que se apresentam.
A cidade respira melhor
Quando os alvéolos se movimentam.

 
Eduardo Aroso
Porto 19-10-2014

segunda-feira, 3 de novembro de 2014

terça-feira, 21 de outubro de 2014


«Somente desembarcando na Ilha somos forçados a reconhecê-la como realidade»
(Desembarque dos Maniqueus na Ilha de Camões, de António Telmo)

 
Desembarca para saberes
Que a terra é terra
E entre ela
E para além
O céu é céu.

Chegar, seja em que tempo for
No oceano ou no ápice do ar,
Para saberes que existe Ilha
Ou o que seja ela toda,
A Terra florida e armilar.

Desembarca e chega
Para conheceres
O que é haver onde a alma for
Para tocares a árvore da vida:
Folhas, raízes do chão;
Raízes, frutos de amor.

Desembarca para corrigir
O reflexo da realidade,
Separando o chumbo do tempo
Que há entre esquecimento e saudade.

 
Eduardo Aroso
(Santa Clara-a-Velha, 21-10-2014)

segunda-feira, 13 de outubro de 2014


«SER OU NÃO SER [CEGO], EIS A QUESTÃO»

 Ao contrário do que se diz, não creio que a justiça e o amor tenham que ser cegos. A primeira, se alguma coisa tem de cega, não pode enxergar bem a razão toda, restando ainda saber até onde vai essa cegueira: se apenas física, ou se toca noutros “neurónios”.

Quanto à cegueira do amor, não contrario Pascal. No entanto, talvez não se tenha ele lembrado de outra palavra quando fala das «razões que a razão desconhece». Mas isso – no fundo, um engano verdadeiro! - valeu-lhe a celebridade da frase, pelo jogo linguístico.

Bom, mas nesta matéria deixo isso para os especialistas, isto é, para os oftalmologistas do coração, o que complica as coisas, porque diz-se que os olhos são o espelho da alma, a menos então que esta tenha uma ligação directa ao coração! Mas que menosprezo pelas estrias das mãos que são flores de carinho, quando estão junto de nós e são o centro do mundo, hastes de segurança; bandeiras de esperança, quando nos acenam de longe.

Eduardo Aroso

sexta-feira, 10 de outubro de 2014


OS PLANOS E OS DANOS

Condenai-me pelo ar que respiro,
Ó vós que tendes a gestão planeada
Dos planos de sustentabilidade
E daquilo que a crise rende.
Até quando a misericórdia do universo
Vos escuta e vos consente?!
Um vírus terrível entrou no conceito
De crescimento, ainda que a entropia
Nos dane a todos com o seu jeito.
Mas nem Deus vos condena
Nem Cristo a Maria Madalena.
É o vosso acto que um dia
Vos mostrará a lei de causa-efeito.

Eduardo Aroso
Outubro, 2014

sábado, 27 de setembro de 2014


CORPO DE RAÍZES

As recordações são como um mercado pela manhã
Ou o trânsito numa hora de ponta:
Atravessam-me a alma
Vezes sem conta.
Não me posso alhear
Deste cerco do passar do tempo,
Ninho vazio onde se imagina o pássaro.
Uma chamada no escuro
Que dói nos ouvidos
E vai sendo invisível,
Este gritar dentro
E já sem diálogo possível.

 
Rio de Vide,  27-9-2014
Eduardo Aroso ©

quinta-feira, 18 de setembro de 2014

AFORISMOS DE IMANÊNCIA (24)

O ser humano é um poço de sentimentos. Quem tira a água do poço, sem desperdícios?

Eduardo Aroso
18-9-2014

segunda-feira, 8 de setembro de 2014


SILENCIOSA RESISTÊNCIA  ©

Sobre o pó do mundo
O sémen da esperança.
A Terra espera
Para o acto sério
Sem contrato prévio.

Tudo isto há-de chegar
Com a música das lágrimas
A dar melodias de mel,
Onde brinquem crianças
Como quem anda para baixo e para cima
Nas pedras da calçada.

O que há de belo quando abre
A primeira flor da madrugada!

 
Eduardo Aroso
8-9-2014 ©

 

 

sábado, 23 de agosto de 2014

INTERNATUREZA

Há o muito e o incrível no youtube,
Mas falta-lhe o mais que não tem
E de sobra o menos para se ver.
E é isso que nos ilude
Na sensação-ausência de não haver
O som contínuo da manhã,
A floração da tarde,
E apesar das noites plácidas
As flores sempre-vivas.

 
Eduardo Aroso
23-8-2014

segunda-feira, 28 de julho de 2014


FRANCISCO MARTINS

 
Afastados são os dedos
Na penumbra luminosa
De haver viagem,
Largada cedo.

Mas à saída da barra
Fica sempre a boca da guitarra
- O som
Redondo e macio,
Plácida lua cheia.
Ou gaivota que vem e poisa
Preenchendo o areal vazio…

 
Eduardo Aroso
27-7-2014

terça-feira, 15 de julho de 2014


VER E (PRE)VER

No «I Ching» encontramos a essência de muitas das modalidades da psicanálise actual, porque as repostas que o antiquíssimo tratado chinês nos pode dar já estão todas dentro de nós. A questão é sempre o indutor, seja o livro no que transmite, ou o analista. O misterioso ser humano, embora a deseje, tem sempre relutância de ver a verdade nua e crua por si – neste caso dentro dele mesmo – pelo que a indução é como que um amortecedor. O mito de «Psique e Eros» é a expressão do amor entre uma mortal e um Deus. No caso da relação do ser humano com o «I Ching» é como se o mito fosse não o de «Eros e Psique», mas de «Psique e Psique», ou seja, o diálogo da alma com ela própria, apenas necessitando de uma indução.

Eduardo Aroso

13-7-2014

sábado, 5 de julho de 2014

AFORISMOS DE IMANÊNCIA (23)

O atrito que o sol faz, descendo sobre o horizonte no mar, chama-se beleza.

Eduardo Aroso
1-7-2014

terça-feira, 1 de julho de 2014


RECUPERAÇÃO, MAS NÃO DE MERCADOS 

Quando alguém perde a locomoção e/ou a expressão nalguma área, só lhe resta a chamada reabilitação. À nossa dita civilização cabe recuperar uma certa sabedoria que a maior parte dos seres nem supõe que tivesse existido. E nisto o discernimento do que também era ignorância. Não basta dizer que a História é a madre experiência que ensina. Por ser insuficiente o muito que tão depressa imaginamos que descobrimos, se não houver uma reabilitação do fruto das longas épocas históricas passadas - que não significa andar para trás para recuperar o que se perdeu - então já estamos numa cadeira de rodas e por fim teremos um acidente vascular cérebro-civilizacional.

1-7-2014 (aniversário de nascimento de Leibniz)
Eduardo Aroso ©

quinta-feira, 26 de junho de 2014

CAFÉ DA MANHÃ ©

 
Enquanto a manhã se espreguiça
As palavras colocam-se no sítio,
Como os botões da camisa.
Uma flor sobre a mesa
E a chávena de café
Trazem-me a recordação
Desse aroma forte e longínquo
Quando pela primeira vez o tomei
Com a mãe Eva e o pai Adão.

 
Eduardo Aroso ©
26-6-2014

segunda-feira, 23 de junho de 2014

AFORISMOS DE IMANÊNCIA (22)

A dificuldade de renascer das cinzas está em juntá-las de novo, pois as tempestades da vida espalharam-nas pelos quatro cantos do mundo.
Eduardo Aroso
22-6-2014 

quarta-feira, 18 de junho de 2014

  • AFORISMOS DE IMANÊNCIA (21) ©
     Assistimos e quantas vezes participamos na morte de tantos irmãos, no mais agressivo e descomandado ambiente; a infindável teimosia da espécie que astutamente se aniquila a si própria, mas saboreamos a falsa moral que nos entra pela televisão, em gotas diárias de consentimento inócuo. Sentados na última pedra da escatologia, assistimos, inquietos e impotentes, à morte do mundo. A tudo isto, porém, a Vida assiste serenamente a uma ainda desconhecida ressurreição!  
     
           Eduardo Aroso
    18-6-2014

domingo, 8 de junho de 2014

DESENCRIPTAR A NAÇÃO! ©

Desocultemos a nação, o país verdadeiro que pulsa de vida e ansiedade à espera que o compreendam. Perceber o passado é entender o caminho andado e vislumbrar para onde poderemos ir; ansiar o futuro é fazer ouvidos moucos às efémeras lógicas do presente; queiramos o ousado fora do que os outros calculam e desenham na pele seca e curtida, que ninguém quer comprar, e que se chama Europa. Apressemo-nos outra vez a vestir a pele do mundo e a rodar de novo em nossas mãos a esfera armilar, podendo ser de um movimento nunca visto!
Ouçamos as pessoas, em vez da mensagem subliminar televisiva que se aloja em nós como um vírus; os economistas que falham em todas as previsões (parece que as chamadas bruxas acabam por acertar muito mais!); os ídolos feitos à pressa; as bandeiras clubísticas: uma que ora é a vencedora, ora que é a derrotada - as palmas a uma, os assobios a outra. Limpemos a sarna da notícia falsa, que nos desvia do essencial: exercitar o sagrado ofício de decidirmos por nós próprios. De uma vez por todas entendamos que ou estamos com o sistema ou lutamos contra ele. Porque o sistema alimenta-se a ele próprio, como as batatas dentro do mesmo saco que, em cima da carroça do burro, pelo movimento, só mudam de lugar dentro do saco.
Porque o próprio Mestre conhece bem quem o ajuda na expulsão dos vendilhões do templo, e até do próprio tempo, isto é, os que compram o tempo de outros a um euro ou dois à hora, para depois o venderam de outro modo.  

4-6-2014
Eduardo Aroso

terça-feira, 27 de maio de 2014

EMAIL PARA ALBERTO CAEIRO

Bem me dizias tu, amigo Alberto Caeiro, que o mundo não estaria todo na internet, como não já não estava nos enciclopedistas. Concordo em absoluto que temos que reaver um ficheiro apagado: o da vivência da natureza como «espanto» como nos ensinaram os nossos irmãos do tempo de Clístenes e de Péricles. Esse pasmo que, com os pés na areia, e frente ao mar nos faz ouvir a voz sem nome, que vem não sei de onde, e que parece dizer: não tenhas medo, nem te defendas, ainda que o amor avance e queime pela brisa que passa...
Eduardo Aroso, 27-5-2014

sábado, 24 de maio de 2014

 ANICLUD

Foi sempre a serenidade do teu rosto
Que no tempo perplexo
Me fez absolutizar.
Deste-me a tua mão para atravessar o rio
Na ponte ou chão de maresia
Do arco único do sonho.

 
24-5-2014
Eduardo Aroso



 

sábado, 17 de maio de 2014

A CIDADE

Não te agites
Apenas
Nas bocas que gritam
Uma vez por ano
O mesmo lema.

Faz-te de novo, Minerva
Do pensar e sentir frenéticos,
Trazendo todos os portais
E sítios cibernéticos
Às praças e alamedas
Onde Zéfiro sopra
Para a tese e antítese,
Pois até a pobre dialéctica
Já muito nos sobra…

Dança, cidade,
As notas de cada compasso,
Apaixonada e entregue
Como se fosse a última valsa,
Canta já o prelúdio ansioso
De outra alvorada!

Eduardo Aroso ©
Maio, 2014

 
CAUSA-EFEITO ©

A inteireza da vida
Consente a clausura da noite
Para de manhã ser voz
No canto do primeiro pássaro
E haver liturgia solar.
Mas tu passas veloz,
Corres num voar de sonho.

Eduardo Aroso ©
17-5-2014



quarta-feira, 14 de maio de 2014

SENHOR DA SERRA ©

 
Sopra o vento
Alerta alto do ventre da terra.
Quase faz esquecer o sorriso das maias,
A seiva dos pinheiros,
Como a certeza que escorre de um beijo.
Passa...
Para nos torcer ainda mais  
No desassossego deste tempo.

 
Eduardo Aroso
Senhor da Serra, 14-5-2014

sábado, 10 de maio de 2014


SINTOMAS  ©

 
Chove em pleno Maio,
No peito rosado da primavera.
É de pétalas
E a chuva vem da terra!

 
Eduardo Aroso, 5-5-2014

sexta-feira, 9 de maio de 2014

AFORISMOS DE IMANÊNCIA (20)

 Para uma visão de largueza, na janela manuelina, há que passar a porta que ninguém abre por outro.  A porta é a mesma e cada qual tem uma chave diferente. Este é o paradoxo legítimo que  está também à porta do que (ainda) não se compreende!
Eduardo Aroso
9-5-2014

domingo, 4 de maio de 2014


TESTAMENTO VITAL ©

Um dia,
Murchas as pétalas,
Cairão todas no recinto sagrado
Do coração.
Aí se arquiva a eternidade.
Em qualquer dos casos
Os pássaros cantam sempre
Num tom materno de claridade.

Eduardo Aroso
4-5-2014

 

quinta-feira, 24 de abril de 2014

ABRIL,
SEMENTEIRAS MIL ©

 
Rente ao desânimo
Afugentemos a morte
Com cravos e rosas.
Dobremos o cabo,
(Tormentas de hoje)
Com melhor sorte.
A terra prometida
Não deu o fruto esperado.
Lancemos o grito
E outra vez
O arado.

 
Eduardo Aroso
Abril, 2014
METAMORFOSES DE ABRIL  ©

Na revolução por fora
Poisa sempre o sol;
Calor ansiado
Da demora.
Mas é da carne do fruto
À semente ou caroço,
Que deve haver alvoroço!

Abril, 2014
Eduardo Aroso
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 


segunda-feira, 21 de abril de 2014


 
MEA CULPA ©

 
Ó Povo!
Amado,
Chamado.
Flor de emoção,
Palavra ardente
Nas datas certas
Do nosso consolo.
És sempre, sempre
A cereja no bolo!

 
Abril, 2014
Eduardo Aroso

sexta-feira, 18 de abril de 2014

ECCE HOMO ©

 
- Tens que beber o fel!
Confundido com o sangue
Que as lágrimas de suor
Já não contam para nada!

Assim decretaram sem papel
Os serviços prisionais de então.

Cá fora entre a multidão
Uma antiga voz de profeta
Clamava aos povos vindouros
De dois milénios da nossa era:
A agonia vai ser suavizada,
Informaticamente distribuída,
E os Pilatos serão outros!

 
Eduardo Aroso
Páscoa 2014

segunda-feira, 14 de abril de 2014


 MARGINALIDADE – o que te fizeram!
Como quase tudo actualmente, seguiu ela também a tendência de a nivelarem pelo mais baixo. O que caracteriza a saudável marginalidade do ser humano são - ao contrário do rio que tem apenas a margem esquerda e a margem direita – múltiplas formas de criar em desejada originalidade e de se expandir, em face de um clima sócio-cultural oficial ou oficializado, que faz sempre os seus prosélitos, que, com o passar do tempo, vicia e degenera quantas vezes sem atingir a verdadeira ortodoxia ou incisão histórica.

Na sociedade portuguesa parece existir apenas um modelo legítimo, por isso aglutinador, dos que discordam do nítido mal-estar, do não pensar, do mau governar. Curiosamente, é esse modelo que em certos momentos, um pouco à semelhança de certa rotatividade democrática, colhe frutos ocasionais e aprecia muito recebê-los!...

No nosso panorama cultural, quer antes quer depois de Abril, os que tentaram arduamente fugir desse paradigma não têm sido aceites da mesma maneira que os referidos de certa rotatividade. O chamado grupo da «Filosofia Portuguesa», marginal desde sempre, está entre esses. Quem conhece a sua génese, o caminho percorrido, verá que, à parte uma ou duas figuras que a alguns “dá jeito pôr na lapela” nunca são tidos para nada, nem para reforçar outros marginais ao sistema - e muito menos os seus textos são estudados nas universidades.
Mas a condição humana de marginalidade não é a mesma do rio com as suas duas margens.

Eduardo Aroso, 14-4-2014

sexta-feira, 4 de abril de 2014

AFORISMOS DE IMANÊNCIA (19)

Sabemos que, de um modo ou outro, o ser humano sente. Tem-se dito, redutoramente, que o poeta é o artífice das palavras. Mas há o «plus ultra» de tudo isto, para se dizer que o poeta é, pelas palavras, o artífice do pensamento, essa nave maior que festeja e transporta todos os sentimentos na mais bela viagem.

Eduardo Aroso,

 4-4-2014

domingo, 23 de março de 2014

 
PARADOXO GEOMÉTRICO ©

 
                         Para a Cynthia,
                         que sabe das cores do vento

 
Entre palavra e silêncio
Não há exacta simetria.
Nesse ponto
Nunca calculado
Brota a emanação redonda
E completa
De criar
Para ambos os lados…
Liberdade do vento
Nos pontos cardeais
De todos os fados…

 
Eduardo Aroso,
Primavera de 2014

AFORISMOS DE IMANÊNCIA (18)

O maior problema subjectivo do solitário, contra a sua vontade, ou talvez já em depressão, é não admitir que muitos outros posam viver a mesma situação típica. Ou seja, o solitário pensa sempre que é o único. Mas por uma forma de entendimento ou um salutar modo de comunicação com outros, ele pode ter uma forma redentora de compreensão de si.

Eduardo Aroso, 22-3-2014

quinta-feira, 20 de março de 2014

EQUINÓCIO DE MARÇO
 
A primavera é a queda do trono de uma rainha ilegítima chamada morte. Nem sequer esta tem tempo de abdicar.No calendário cósmico, a cadeira-toda-poderosa-da-vida é ocupada pela mais bela princesa. Diz a lenda que ela não tem princípio nem fim, apenas se mostra em mágicas metamorfoses quando chega o tempo certo. É a amada de todos. O ser humano pode sofrer muito até encontrar o fio de Ariane para sair do labirinto. Todavia, a primavera é fatalmente esse fio que a Vida toma sempre numa espécie de perpetuação. Princesa já rainha celeste, mais bela que Nefertiti e mais sagrada que um profeta. 
Eduardo Aroso, 20-3-2014 

segunda-feira, 10 de março de 2014


 
AFORISMOS DE IMANÊNCIA (17)

 
O mito da eterna juventude é na verdade um grito do espírito que encontra obstáculo numa parede chamada carne. ©

Eduardo Aroso, 10-3-2014

quinta-feira, 6 de março de 2014


 
HOJE ©

Um sol de oiro
Abre-se sobre o rio.
As margens cintilam
De salmos primaveris
E uma voz antiga desfolha
Pétalas de amor.
Ouve-se de novo:
«São rosas, senhor!»

 
Coimbra, Santa Clara, 6-3-2014
Eduardo Aroso

sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014


AFORISMOS DE IMANÊNCIA (16)  ©

 
Sozinho é a única maneira de eu atravessar o deserto. Acompanhado não é o deserto, mas sim outro caminho.
 
Eduardo Aroso
26-2-2014

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

AGOSTINHO DA  SILVA
- EVOCAÇÃO

 
Sulcando o horizonte
Sem linha final,
Na ousada façanha
De mais além,
No pico da ânsia
Foste português universal
Outro sermão da montanha.

 
Eduardo Aroso,
13-2-2014