NATAL
Ver para além da chama,
Sentir mais que o calor.
Ao menos uma vez no ano
Não ferir a palavra amor...
No solstício buscamos
À maneira
De quem vai
Ao fundo da casa
Intocável todo o ano,
Onde um não sei quê estremece.
E no milagre da noite,
Reflectida na fogueira,
É uma abóbada de estrelas
Que nos aparece!
Eduardo Aroso
Dezembro 2015
Portugal universal; não o efémero que nos amarra como única realidade nos cárceres escuros onde mataram o Sonho. Poemas e textos, alguns publicados em livros e revistas impressos, outros em blogues e os dados a conhecer aqui, para o domínio público, seguindo o rumo da Criação: a obra nunca está definitivamente acabada.
sábado, 12 de dezembro de 2015
segunda-feira, 16 de novembro de 2015
VARIAÇÕES SOBRE UM TEMA DE FERNANDO PESSOA ©
[ANTÓNIO DE OLIVEIRA SALAZAR.]
António de Oliveira Salazar.
Três nomes em sequência regular…
António é António.
Oliveira é uma árvore.
Salazar é só apelido.
Até aí está bem.
O que não faz sentido
É o sentido que tudo isto tem.
Três nomes em sequência regular…
António é António.
Oliveira é uma árvore.
Salazar é só apelido.
Até aí está bem.
O que não faz sentido
É o sentido que tudo isto tem.
(Fernando Pessoa)
ANÍBAL
CAVACO SILVA
Aníbal
Cavaco Silva.
Três
nomes em sequência definitiva.
Aníbal
é Aníbal
Cavaco
também é árvore.
Silva é
só apelido.
Até aí
está bem
(Fora o
resto que preocupa…).
O que
não faz sentido
É o
lugar que ele ocupa.
(Eduardo
Aroso)©
25-10-2015
segunda-feira, 9 de novembro de 2015
PAISAGENS (1) ©
O Outono é o que dele se quer ver. Mas sobretudo
é o que é. Julgar que se pisam as folhas, quando elas ainda voam… A extensão do
Outono é interrogar uma mutação de claridade. Numa escala larga de tons e
microtons, ou seja, de cores definidas e outras bem menos, que apenas vemos
como sequências admiráveis. É possível ainda recolher melodias fugazes que
chegam aos átrios das aves que se aquietam em ninhos de serenidade.
Eduardo Aroso ©
8-11-2015
domingo, 8 de novembro de 2015
AINDA (E SEMPRE) A QUESTÃO DA
POLARIDADE SOL-LUA ©
A luz da Lua, ainda que nos
chegue de outro modo, é na verdade a luz do Sol, como aliás nos explicitou
admiravelmente Dane Rudhyard em «O Ciclo de Lunação». O facto de qualquer Tradição
Espiritual atribuir ao Sol polaridade masculina e à Lua polaridade feminina, e
para além do que se sabe da influência do nosso satélite sobre nós, leva-nos a
pensar ainda na importância que tem o chamado «princípio feminino» que, neste
caso, se verifica, como veremos, pela sua mobilidade, pelo que não nos custaria
aceitar que este movimento de cerca de 4 semanas é como que uma qualidade ou
atributo vigilante ou de cuidado que sempre presidiu à experiência maternal.
Todos os corpos celestes têm o
seu movimento (até as chamadas “estrelas fixas” ). No caso do nosso Sistema, e
ainda quanto ao Sol e à Lua, esta, relativamente ao primeiro, tem para nós
habitantes da Terra, um papel de maior movimento e proximidade, e, talvez por
isso, dir-se-ia de “assistência imediata”. Sendo que a fonte de luz é o Sol, a
verdade é que, durante o movimento da lua nos cerca de 28 dias do ciclo
inteiro, operam-se várias mudanças, por certo necessárias, nos domínios
geológico, vegetal, animal e humano. Esse papel de maior proximidade, nem
precisaria de uma imagem poética para o relacionarmos com a prontidão e também
proximidade maternal de quem cuida. Assim, as nuances das 4 fases lunares,
durante 4 semanas, contrastam com as mudanças mais lentas da luz solar durante
um ano. E não é descabida a analogia do Outono e Inverno ( H.N.) com a fase minguante
e a Primavera e o Verão com a fase crescente. Poderíamos ir mais além no
alcance do ciclo lunar que, apesar da sua curta mas por certo necessária
duração, está na origem dos primeiros calendários, ou seja, o ser humano
apercebeu-se da «noção de ciclo», verificando a regularidade de certos
fenómenos celestes, quando observava a Lua escura ou quando se ela apresentava
cheia.
A partir daqui – apenas pela
observação da natureza cosmológica, portanto, livres de conceitos mais ou menos
sociais e políticos - poderíamos fazer várias interrogações sobre o papel da
natureza feminina na manutenção e progresso não só dos seres humanos, mas de
todos os outros reinos. Alguma dificuldade se coloca, embora ela faça antever
uma ampliação muito maior do que hoje se toma pela simples ideia de feminino ou
igualdade de género. Inteligente graduação na luz solar, dada pela feminina Lua
(seguramente justificação de haver este nosso satélite), que para nós
terrestres em evolução (dir-se-ia em crescimento) é sinónimo de assistência
imediata e protecção. O que não parece suscitar dúvida, quer pela psicologia
quer pela cosmologia, é que as manifestações do princípio feminino, seja como
for, estão mais próximas de nós, numa sábia e quase mágica plasticidade de
realidades sensíveis e sentimentos. Perante tudo isto, não poderíamos nós,
poeticamente, dizer que globalmente «a Lua amamenta» e também uma espécie de seta
de intuição que nos leva ao passo seguinte?
Não é difícil entender por que os grandes autores, no
complexo enredo das suas obras colocaram a mulher, no seu exaltado princípio
feminino, como guia: Petrarca escolheu Laura; Dante viu Beatriz; Beethoven uma
incógnita amada e musa, e, pelo nosso Luís de Camões, é a deusa Tétis que mostra a Vasco da Gama a grande «machina do
mundo» (Lusíadas, Canto X, 80).
Eduardo Aroso©
8-11-2015
sábado, 24 de outubro de 2015
TOMAR E OS SINAIS ©
Nas paredes altas
Mistério das
dimensões,
Desabrocham
árvores
Incrustadas no
segredo.
Endócrinas e
latejantes,
Arquitectura mais
que vegetal.
Os pássaros sem
idade e o rio
Despertam cedo
Refrescando o
tempo promissor
De haver Portugal.
Na colina do
rochedo
Paira o
guardião-mor,
Ave
Que não morre;
E sussurra a brisa
Nas conchas invisíveis
Sobre portas
talhadas
De outra chave.
Eduardo Aroso ©
Tomar, 23-10-2015
domingo, 18 de outubro de 2015
quinta-feira, 24 de setembro de 2015
A QUESTÃO DA “QUEDA” ASTROLÓGICA
DO SOL NO SIGNO DE BALANÇA ©
(a propósito do Equinócio de
Outono)
Há um ponto obscuro na
astrologia, que raros astrólogos explicitam. O SOL em queda em
Balança, (HN) há-de referir-se ao SOL não só enquanto VITALIDADE (princípio de todas as coisas vivas), mas ainda a um sentido profundo do EU. Vejamos o seguinte: Balança
é o signo natural da 7ª casa, a dos contratos, uniões, parcerias, entre outros
significados. Ora bem, o espaço da 7ª casa até à 12ª é o hemisfério dos relacionamentos,
da vida do EU SOU (1ª casa) com EU SOU COM OS OUTROS, (7ª casa), também chamado
hemisfério diurno, enquanto o hemisfério da individualidade, da 1ª casa
(Carneiro) à 6ª, Virgem é, simbolicamente, o da CONSTRUÇÃO DA INDIVIDUALIDADE,
da PERSONALIDADE.
Quando chegamos a Balança, tempos que VIVER PARA O (S) OUTRO
(S), num conjunto de experiências ao longo do tempo (ou vidas, numa perspectiva mais cósmica) que culminam no sacrifício
final da 12ª casa (Peixes).
Portanto, a queda do Sol em Balança é,
conforme o mito de Sansão, um afrouxamento no plano físico, e espiritualmente
TAMBÉM É UMA ESPÉCIE DE AFROUXAMENTO DA INDIVIDUALIDADE EGOISTA. Repare-se que
em Virgem, há uma SELECÇÃO OU CRIVO do que deve ficar como resíduo para ser INCORPORADO em Balança. Virgem é o símbolo da análise, do peneirar (por isso espiritualmente o símbolo da pureza), ou seja, extirpar o
que não é bom para o ser. Portanto, o Sol que representa a consciência
individual, ou seja, o EU SOU, sendo uma qualidade fundamental da individualização evolutiva, não pode ser excessivo e deve modular-se para EU SOU COM OUTROS (7ª casa, cujo regente natural é Balança) ter a sua “queda” egoica,
para “se dar” aos outros e sair mais do plano físico e personalístico. Por isso nesta casa reina o planeta Vénus, que não representa apenas o equilíbrio, as emoções, a estética, mas toda a capacidade de ATRAIR E COOPERAR EM ESPÍRITO DE GRUPO, cujo apogeu será na 11ª casa, regida naturalmente pela oitava superior de Vénus, o planeta URANO.
Obs. O que se disse é simbólico, mas, por isso mesmo, não menos verdadeiro, sendo que não podemos deduzir, pela lógica cartesiana, digamos assim, que quem nasce sob qualquer signo de Carneiro a Virgem é egoísta! É a posição de todos os planetas no mapa astrológico que permite um juízo global do que se disse sobre o sentido dos hemisférios.
Eduardo Aroso
terça-feira, 22 de setembro de 2015
CENAS
E PERSPECTIVAS (DO LADO DE CÁ, OU NÃO, DO TELEVISOR)
Quando
olhamos a televisão, dá-se um fenómeno ao qual não tomamos bem o pulso, porque
nos habituámos ao «pensamento que não pensa» como disse Heidegger. Seja uma
transmissão em directo, seja o que for de ficção: telenovela, filme, ou outro. É
quase compulsiva a tendência para tal se encarar numa perspectiva diferente da que
seria a de estarmos lá, ou se esses acontecimentos se dessem aqui ao lado, ou mesmo
vistos em épocas diferentes. O filósofo português António Telmo (1927-2010)
disse algo como isto: se vemos imagens de alguém que já morreu, há mais ou
menos tempo, se porventura víssemos essas pessoas de repente no nosso quarto,
ou ao dobrar de uma esquina, ficaríamos gelados de medo e acharíamos algo
estranho. Todavia, vê-las no ecrã não só não nos assusta, como muitas vezes até
gostamos e deliramos!
Assim, temos o ecrã como intermediário entre
duas perspectivas, o que tanto pode amortecer como exaltar. O interesse, prazer,
ansiedade, numa cena de telenovela ou de um filme, de uma querela familiar, maquinação
de negócios, ou cena amorosa – quantas vezes conferindo estatuto de ídolos às
personagens – tudo isso reprovaríamos com desdém entre os nossos amigos e
vizinhos.
Mas
então aquilo não é ficção?! Aqui o virtual e o real. O primeiro deixou de ser
IDEAL (no sentido filosófico helénico e até hegeliano) e assim passou-se a uma
mera reprodução do quotidiano nos seus aspectos mais caricatos, quantas vezes manifestamente
inferiores. O paradigma da não-proximidade lança desafios outros que a
imaginação solta e certas convenções não aceitam do lado de cá do televisor ou
do monitor perante a internet e agora o facebook com o novíssimo chat.
A
nossa mente, que (ainda) mente, como diz o pensador Paulo Borges (1959), é assim
simplesmente porque ainda não pensamos bem, não imaginamos as coisas livres do
erro, atitude essa que nos está reservada num futuro ainda distante, tal
escreveu Max Heindel em «Conceito Rosacruz do Cosmos». Libertar-se do (muito)
desnecessário onde nos atolamos diariamente e concentrarmo-nos no essencial, ou
como disse um outro filósofo português José Marinho (1904-1975), «no que mais
importa», parece ser um caminho seguro. A tragédia do virtual contemporâneo,
ainda que nele voem laivos de futurismos, deixou de expressar o IDEAL para ser
o “barroquismo” mais rasteiro, onde a ausência de estética e ética, nos deixam
cada vez mais atolados. Há, contudo, e sempre, a ave que se ergue das suas próprias
cinzas.
Eduardo
Aroso ©
Equinócio
de Outono, 2015
quinta-feira, 17 de setembro de 2015
quarta-feira, 16 de setembro de 2015
(Breve evocação de Jorge Luis Borges)
Numa das suas célebres seis conferências, que a editora «Crítica»
de Barcelona coligiu em 2001, Jorge Luis Borges fala-nos de uma BELEZA QUE
ESCORRE CONSTANTEMENTE DO MUNDO. Na verdade, sempre os poetas viram o mundo
mais profundamente, de um modo mais holístico, o que nos tempos actuais
contrasta com a tendência para a temática de motivos emergentes e
simultaneamente mutantes.
Se por um lado é dever
estar vigilante à imanência mais imediata da vida, o horizonte de esperança e
de perenidade (que persiste sobre as catástrofes do mundo em qualquer época) só
pode ser fixado por aquilo que, seja de que modo for, se move como constante
nesta terra de passagem, linha de horizonte presente e alheia às mudanças do
mundo. No mínimo requerido para este deserto de transição seria impossível,
entre os escombros do viver humano, não existir a tal beleza escorrendo como a
luz do sol em cada dia, que teimamos em ver apenas mecanicamente ou
biologicamente com a sua devida importância para a vida vegetal e mais
recentemente nos efeitos sobre a epiderme do ser humano.
Porque até para ver a beleza que escorre dos figos entre os
braços do Verão e do Outono, é necessário chegar perto deles ou tê-los na mão,
essas lágrimas doces e generosas dos deuses, sabendo que muitos desses frutos vão
cair no chão, sem que ninguém os aproveite.
Eduardo Aroso
15-09-2015
quarta-feira, 9 de setembro de 2015
sábado, 29 de agosto de 2015
DE UMA (RE) LEITURA DE
«HISTÓRIA SECRETA DE PORTUGAL DE ANTÓNIO TELMO
Santa Maria, no portal
sul do Mosteiro dos Jerónimos - e cuja
posição arquitectónica a António Telmo não passou despercebida na sua ímpar obra
- lançando o seu olhar sobre o Atlântico, como que acompanhando a frota de
Cabral, parece profetizar sobre a grande civilização do futuro a que se chama
Brasil. De outro modo podemos vê-la, como indizível presença no altar dos céus
que é o Cruzeiro do Sul, constelação que, segundo o emérito astrónomo
brasileiro Ronaldo Rogério de Freitas Mourão, em «A Astronomia em Camões» a
refere como «uma das glórias dos navegantes portugueses, que a teriam registado
pela primeira vez». Não é descabido, portanto, vê-la com mais ou menos metáfora
no céu nocturno sobre a cruz das quatro estrelas que Camões em «Os Lusíadas»,
VIII, 71, refere do seguinte modo: «Descobrir pôde a parte que faz clara/ De
Argos, da Hidra a Luz, da Lebre e da Ara».
Santa Maria a mesma
Senhora resplandecente sobre uma azinheira no centro de Portugal, e que no
trânsito mistérico se poderá esclarecer talvez um dia se este local, onde, bem
perto, os Templários assentaram praça, tem repercussão com o famigerado centro
do mundo conhecido por Agartha e outros nomes. É deveras interessante pensarmos
que o culto à Senhora, o mesmo é dizer a um supremo princípio maternal e feminino,
foi requerido pelos Templários, guerreiros do lado de fora e secretos do lado
de dentro, mas onde se vê claramente que os dois círculos e até o princípio da
dualidade (veja-se o cavalo com duas figuras, que alguns identificam como o
signo astrológico de Gémeos, o do movimento e das viagens) numa ordem
guerreira, portanto dinâmica e marciana, tenha tido no seu seio a vibração da
candura feminina da Virgem Maria. Já que de planetas também se fala, não me
consta que se tenha reparado num pormenor notável: é que tanto as aparições de
Fátima, de Maio, como as de Outubro se dão nos meses dos signos Touro e
Balança, ambos regidos pelo planeta Vénus, da harmonia e da paz, conhecido
também como a estrela d’ alva ou estrela da manhã e estrela da tarde.
Assim, no olhar benevolente
e cintilante como o mais amplo horizonte ao nascer do sol, a mesma Senhora
vigilante no portal sul dos Jerónimos ou da azinheira do centro de Portugal,
parece confirmar e aguardar serenamente aquela frase que tantas vezes o mestre
António Telmo proferia: «reunir o que está disperso».
© Eduardo Aroso,
29-8-2015, dia de plenilúnio.
EVOCANDO ANTÓNIO TELMO (2-5-1927/21-8-2010) HERMENEUTA DE “DIÁLOGOS DE AMOR” DE LEÃO HEBREU E AUTOR DE “A VERDADE DO AMOR”
A luz intensa e súbita pode cegar. Não se tem dito o mesmo do amor verdadeiro, esse quando irrompe como lava de vulcão, mais em forma de luz do que de temperatura… sobre as emoções rotineiras, vulgarizadas também como afectos, ou desalmadamente sob a forma de “ter um caso”, ou na degradada e absurda expressão “fazer amor”.
Pode amedrontar e em simultâneo causar espanto se o amor surge como uma espécie de epifania. Receio que nos pode paralisar momentaneamente, pois também a isso não ficou imune, na visão, Paulo na estrada de Damasco, onde os seus olhos ficaram cobertos de escamas durante dias. A verdade é que somos, por enquanto, vasos frágeis para conter essa torrente misteriosa que faz estremecer o mundo da matéria, ao mesmo tempo que só ela o pode mover.
Pode amedrontar e em simultâneo causar espanto se o amor surge como uma espécie de epifania. Receio que nos pode paralisar momentaneamente, pois também a isso não ficou imune, na visão, Paulo na estrada de Damasco, onde os seus olhos ficaram cobertos de escamas durante dias. A verdade é que somos, por enquanto, vasos frágeis para conter essa torrente misteriosa que faz estremecer o mundo da matéria, ao mesmo tempo que só ela o pode mover.
Quando esse amor amedronta e causa espanto é também o sinal de que chegou a hora de sermos guerreiros de luz afrontando um falso adamastor que se ergue para barrar a verdadeira aventura divina no campo de batalha mais desamparado e obscuro em que presentemente vivemos.
Se é verdade que houve céu antes da terra, é certo que <a terra antes do céu> tem o sentido da Grande Obra, pois que da terra ninguém se pode alhear seja qual for o nirvana! Quem ergue a espada de luz, afrontando o adamastor do receio e do espanto, tem já dentro de sim a certeza, como se fosse um terraço que dá para o mar imenso de todas as possibilidades que se abrem na linha do horizonte. Também nós, os do Portugal da esfera armilar, queremos o oceano antes do céu.
Cabo Mondego, 20-8-2015
EDUARDO AROSO ©
EDUARDO AROSO ©
quinta-feira, 30 de julho de 2015
sábado, 25 de julho de 2015
AFORISMOS DE IMANÊNCIA (37)
Portugal, nação de muitos paradoxos, morreu (metaforicamente, ou não) jovem, com D. Sebastião, em Alcácer-Quibir, e agora morre na senilidade recalcitrante da figura do actual Presidente da República. Há contudo um outro Portugal a que se pode chamar Alma, que não é tempo, isto é, que só quando se expressa se reflecte no tempo.
Eduardo Aroso
25-7-2015
quinta-feira, 23 de julho de 2015
TRIBUTO ©
A Max Heindel,
150 anos depois
Tu que
ouviste o som inaudível para o mundo
E foste além
do véu, testemunho
Da una
fraternidade entre dimensões.
Abriste o
palco da nova sinfonia
Para erguer
outra realidade
No fumo das
presentes ilusões.
Tu que na
senda do mestre
Deixaste a
todos o convite
Do caminho
maior,
Luz ou seiva
Rosa-de-amor.
Tudo isso
nos deste,
Pleno, sem
hesitação.
A verdade
espera e brilha
Além do pórtico
Sob as
colunas mais altas
Da razão e
do coração.
Eduardo Aroso ©
Coimbra, 23-7-2015
terça-feira, 21 de julho de 2015
VERÃO
As tardes de Julho suportam intervalos longos e estranhos, onde a consciência às vezes oscila entre cá e lá, desafiando qualquer fronteira. A ilusão de Cronos, vertida em nós, esse deus que apenas dura neste mundo, na vestimenta dos mortais. Orgulha-se porém de ser o guardião do exacto movimento de rotação da Terra. E assim nos alimenta de luz e dinamismo para o tempo singular de cada um, para as nuances que afloram em cada sentimento humano.
Cada um sentado à sombra subjectiva do banco de jardim, onde cada qual é um relógio onde se conta o tempo de outro jeito. Que façanha maior (a de um dia), obra mais alta, será a de pulsarmos todos - nem que seja por momentos - no mesmo ritmo misterioso de existir, na mesma respiração para o grande acorde da Vida!
Eduardo Aroso
21-7-2015
domingo, 19 de julho de 2015
segunda-feira, 6 de julho de 2015
terça-feira, 30 de junho de 2015
domingo, 21 de junho de 2015
quinta-feira, 18 de junho de 2015
quarta-feira, 17 de junho de 2015
domingo, 14 de junho de 2015
EM SANTARÉM
COM A MEMÓRIA DE IBN SARA
Leio nas linhas em desalinho de hoje
Tuas estrofes que já ninguém respira.
A saudade morre e renasce a cada inspiração,
Porque em todo o começo contrai-se o tempo.
Voava pela seda feminina das palavras
O perfume vigilante do salão,
A cintilação da noite
Nas pausas do poema.
Ah, a dor e o destino
Levaram-nos o monarca
No seu cavalo de sonho alado.
Mas a tua estrofe ficou
E ornada de melisma
Tornou-se fado.
Santarém, 12-6-2015
Eduardo Aroso
terça-feira, 9 de junho de 2015
ENDECHA
Quando a primavera irrompeu
Tínhamos o fogo da inocência
Sem que nada martelasse na bigorna.
Tinha que surgir o frio imprevisto
E a dor por ser funda,
Esse hino excelso e lento.
As estrelas teriam que cair todas uma
a uma
Para sabermos que as semeamos como
quem esgravata no tempo.
Eduardo Aroso ©
Junho, 2015
sábado, 30 de maio de 2015
sábado, 23 de maio de 2015
APORTUGUESAR PORTUGAL
(ou a justificação do paradoxo)
Ansiamos por um D. Sancho I (O Povoador) para ajudar a resolver o
grave problema a que se tem fechado os olhos durante décadas, e que está
prestes a atingir o auge; a imagem do interior do país é o reflexo da assembleia
da república como núcleo de interesses internacionais.
Gritamos por um D. Dinis, como pão para a boca, para evitar que se
dizime o que resta dos pinhais e travar a epidemia do eucalipto, ainda que um
ex-ministro tivesse afirmado que a dita árvore constitui o «nosso petróleo
vegetal» (!).
Um D. Dinis, Lavrador de Letras,
que reforme as universidades do caos a que chegaram, abrindo janelas e limpando
corredores labirínticos. Uma Isabel, Rainha Santa, para reformular as Festas Populares
do Espírito Santo, ou a Consolação da Alegria sem brejeirice, a efusão do
verdadeiro sentido de abundância e não de jactância, expurgando-as da
deturpação e da apreensão de Roma, e manter vivo esse pioneiríssimo exemplo das
Festas do Bodo, em que, sentados à mesa, Clero, Nobreza e Povo, o pobre era o
primeiro a ser servido!
Um D. João I (o de Boa Memória, ao contrário dos governantes de hoje, sem
memória) que fale para e com o Povo, e que proporcione a gestação de uma nova «Ínclita
Geração».
De um novo D. Fernando, discreto na Corte, mas que sibilinamente olhe
pelo património português.
Na convergência, um outro «Ultimatum» para o nosso tempo, muito além
do dia de (re!) eleições.
Se a república “à portugaise” que entendeu substituir a monarquia, não
é minimamente capaz de resolver as indigestões e congestões do país, então que se
demita: mas melhor seria abrir escolas para ensinar a todos que a democracia de
Sólon e de Clístenes está por fazer entre nós.
23-5-2015
Eduardo Aroso ©
domingo, 3 de maio de 2015
ANTÓNIO
TELMO
OU A
RECONSTITUIÇÃO DE UMA MELODIA ORIGINAL
88 são as
teclas de um piano de concerto!
Mas entre
bemóis e sustenidos
Fica tudo o
mais o que os dedos não tocam
O que se
adivinha a seguir
E os tempos
idos
Na inteira
sensação
Que quem
escuta de modo diverso sabe distinguir.
Um aroma move-se
entre sons e silêncios.
E são essas
impressões
Que não se
apagam da memória
Quando se
reconstitui o fio cantante
Da vida que
ali ou mais além
Tem as suas
modulações.
- Então volta
toda a música como o nascer de sol
Um som que
pede outro acima dele,
Um ritmo que
se funde noutro mais complexo
Um
pensamento que explode de luz íntima…
E tudo
continua e se junta não tanto como no Bolero de Ravel,
Mas na praia
atlântica onde a dança pertence às ninfas do sonho
E o som das
ondas, uma a uma, reconstitui a cadência lusíada;
Uma flauta
criou a escala necessária para dar todas as cores à sua melodia
Que se
agarra comovida ao plâncton profundo da pátria.
Eduardo
Aroso, 15-04-2015
In
sábado, 2 de maio de 2015
sábado, 25 de abril de 2015
25 DE ABRIL – NOS MEANDROS DO SÍMBOLO
E DA ACÇÃO
«O esforço é grande e o homem é
pequeno» (Fernando Pessoa)
«O 25 de Abril é uma
abstracção» (Maria José Morgado)
Quando falamos em abstracção,
sobretudo no assunto em epígrafe, pisamos sempre um chão escorregadio, mas por
vezes inevitável. O 5 de Outubro, embora de maior cisão, não deixa de ser também
uma abstracção, se olharmos o que têm sido as repúblicas, ou o 1º de Dezembro,
mais distante no tempo e por isso mais diluído. Juntas estas 3 datas vemos que
a abstracção ainda se mantém com alguma pertinência, e que elas constituem o
que se poderia chamar essencialmente o paradigma não realizado de governação e
soberania nacionais. Ou seja, estamos sempre a ser governados de fora, o que,
lapidarmente é ser governados por estrangeiros e pelos seus acólitos, os
“estrangeirados” que nascem cá e têm bilhete de identidade português.
O cravo vermelho, sem dúvida o
belo vegetal para anular a violência e o derramamento de sangue, colocado na
ponta da espingarda de um militar de Abril, é um intra-símbolo da nuclear
diferença do cravo que deve ser cultivado para um propósito e o cravo
emprestado na circunstância. É certo que a História também é feita de
imprevisto e o próprio cravo tomou o lugar do português na frase de Ortega y
Gasset «eu sou eu e a minha circunstância».
O cravo seria para venda (quem lançou
depois a profecia negra para que Portugal fosse sendo vendido aos poucos?!), mas
as voltas da História permitiram a oferta. Isto mostra bem como apenas a beleza e a generosidade na política, e nas
mudanças sociais, não ditam a voz de comando e podem até trazer equívocos de
tradução do símbolo para o sensível. O cravo na lapela tem sentido se o
conquistarmos, e nisto falamos já de liberdade. Vigiá-la como a um ladrão?!
Pois claro. No sentido de quem deve estar desperto e vigilante, porque na calada
da noite o ladrão pode surgir, uma ameaça de morte. Há cerca de 10, 20 anos
ainda se falava no binómio liberdade/responsabilidade. Este é o lugar certo da
própria liberdade que não foi alimentada de uma pedagogia da responsabilidade.
Não basta levantar a viçosa bandeira da santa liberdade no telhado da casa,
quando no quintal já se cultivam ervas daninhas…
E quando falamos de
responsabilidade, a frase de Maria José Morgado ganha sentido, ainda que a
eminente magistrada talvez não tenha esclarecido que há duas espécies: a
abstracção como simples tese (sem antíteses e sínteses) e a abstracção que
resulta em conceito, resultado de um percurso. Ou seja, a afirmação de M. J. M.
está no reino da utopia, o que não lhe retira importância. Se o «homem é
pequeno» e só «o esforço é grande», vale sempre a pena comemorar a utopia (pois
também «a alma não é pequena»), mas começando pelo esforço de compreensão dos
valores inerentes da própria utopia.
Já Thomas More, em «Utopia» (1516), havia
colocado o português Rafael Hitlodeu na proa dessa viagem, sem a qual não há
movimento do mundo. O mesmo escritor renascentista (esta semana também lembrado
por Santana-Maia Leonardo) que escreveu «Se Deus não nos reservar
mais do que Justiça, ninguém se salva».
Eduardo Aroso, 22-4-2015 ©
quinta-feira, 16 de abril de 2015
O DIA DA VOZ,
A VOZ DOS DIAS
E A VOZ DOS OPRIMIDOS
Todos os dias têm voz. As muitas da natureza, sempre harmoniosas no seu
conjunto, da mãe universal que não se deixa intimidar pelos “falsetes” humanos.
Quanto às laringes, é bom pensar antes de falar. A emissão da voz é um assunto
sério, desde a interpretação de uma ária de ópera a um «bom dia» enérgico e
confiante, porque a palavra que desmoraliza, rebaixa e amesquinha nunca deveria
vir ao mundo, isto é, nascer na goela…
A fala, o primeiro e o último meio de comunicação entre seres humanos,
o que mais toca os intervenientes. Por isso, para mim é falsa a frase «vale
mais uma imagem do que mil palavras».
Mesmo quando prègamos seriamente no
deserto, há sempre alguém que ouvirá a nossa voz, nem sempre no chamado tempo
real. Se Sto António tivesse falado (escrito) sem sabedoria, não teriam
escutado as suas palavras e ele não teria deixado para o futuro o seu sermão
aos peixes, a voz que ficou para a posteridade, como a de um Pe António Vieira,
a quem Pessoa chamou «imperador da Língua Portuguesa. Vieira há já 3 séculos
falava pelos oprimidos. Não tendo voz os oprimidos de hoje, ou sendo a que
ninguém ouve, quem fala hoje por eles, onde está a voz dos oprimidos?! Talvez
já inscritas num futuro breve, para depois todos os glorificarmos nessas
páginas que serão outro «muro das lamentações».
Eduardo Aroso, entre Miranda do Corvo e Coimbra, 16-4-2015
sábado, 11 de abril de 2015
terça-feira, 7 de abril de 2015
UM FIO DE ALEGRIA …
Sem ter em conta o terramoto de
1755, por certo de lágrimas tumultuosas e gritos dilacerantes, ou a afronta das
invasões francesas saqueando tudo e todos, ou ainda a dolorosa espera nas
filas do pão, de tempos menos distantes, nunca se viu tamanho acabrunhamento ambulante
pelas nossas cidades, vilas e aldeias.
Nem
a primavera afasta os olhares hirtos, as expressões cinzentas, a fome de alma,
que passa diariamente por nós, sendo o mais subtil a desconfiança escondida como
uma trave que vive dentro da carne e passa, onde, quantas vezes, o natural seria
deter-se e dizer umas palavras, nem que fosse a saudação de bom-dia ou
boa-tarde! E, paradoxalmente, quando há risos
- porque os sorrisos são quase escassos – eis o riso provocado, às vezes
apatetado (quando não grosseiro), e hoje com muitas receitas por todo o lado.
Tudo
isto não passa de um cortejo de actos e gestos desesperados para alcançar a
alegria que não temos. Aqui poderíamos colocar a questão: é possível (já) não
possuirmos algo e disso não ter consciência? No movimento lento das sociedades,
talvez isso passe despercebido a muitos, pois que também o mundo é feito de
mudanças. Fernando Pessoa, nas poucas entrevistas de imprensa que deu, tocou de
algum modo no cerne da questão, ao responder sinteticamente que «a civilização
é trocar uma coisa por outra».
Nesta objectiva e tão pragmática resposta esconde-se,
todavia, o que tem atormentado muitos estudiosos: se a evolução se processa em
espiral, como incorporar a quintessência da ganga que se deve atirar fora? Como
encarar esse fio da alegria virginal, intocável que também Eugénio de Andrade
exalta na sua poesia, alegria por dentro do robotizado mundo da tecnologia que,
lenta mas seguramente, vai transferindo valores?
Substituir uma coisa por
outra? Ou, neste caso, juntá-las?
Eduardo Aroso
7-4-2015
quinta-feira, 2 de abril de 2015
AS
TRÊS NEGAÇÕES DE PEDRO
«E
logo o galo cantou pela segunda vez. Então Pedro lembrou-se das palavras que
Jesus lhe tinha dito: "Antes que o galo cante duas vezes, tu negar-me-ás
três vezes". E pôs-se a chorar». Marcos
14:72
As
grandes negações da História (e por certo também afirmações) surgem na
iminência das grandes mudanças, no auge de um período ou ciclo que finda,
para que, naturalmente, outro comece. Quando o Bem abre clareiras, logo se lhe
opõe o Mal e, ainda que este seja relativo, é uma força que está no teatro do
mundo. Lei da Natureza: a uma acção corresponde sempre uma reacção. O leitor
pode verificar que a um determinado pioneirismo espiritual e cultural (um
movimento literário, por exemplo) segue-se um período de apatia, não só pela reacção
de forças adversas como pela dificuldade em si dos discípulos continuarem com a
mesma elevação o trabalho dos iniciadores. E até a nossa querida Fraternidade
Rosacruz não esteve imune a isso!
A
negação, considerada no percurso espiritual do estudante/probacionista /discípulo,
segue o mesmo paralelismo, isto é, em alguma etapa negamos o Mestre e/ou a
filosofia que abraçamos. Pode não ser uma negação explícita e não o será à
medida que se avança, mas não nos esqueçamos do Padre António Vieira quando há
três séculos já falava nos «pecados de comissão» e nos «pecados de omissão»,
assunto este que Max Heindel retoma numa das suas lições. O que deixamos de
fazer pode, em certas circunstâncias, ser pecado no sentido de ofensa.
A
negação pode pôr a descoberto as nossas fraquezas, que nos podem também
assustar repentinamente, e isto não estará longe do que a moderna psicologia
chama «a sombra» de cada um. Quantas vezes negámos as nossas convicções, não
claramente, mas em actos que ferem a essência dos princípios? Alguns exegetas
bíblicos têm visto na negação de Pedro a negação da própria essência do
Cristianismo (pois o apóstolo viria a
ser a pedra-angular da chamada Igreja Romana), devido a acontecimentos como a
Inquisição e mais recentemente no deboche de certa cúria do Vaticano. Mas este
sentido da negação, pela sua extensão, é aqui obviamente ultrapassado.
Quanto
ao galo, na Tradição, é um símbolo solar, o despertar, a vigilância, o que se anuncia entre a noite e o dia.
Pitágoras refere-se desta maneira «alimentai o galo e não o imoleis, pois ele é
consagrado ao sol e à lua».
Em
resumo, o episódio do Apóstolo Pedro deve ser motivo de reflexão, ainda que a
natureza tenha sempre um galo pronto a um cantar de alerta, felizmente, pela
misericórdia de Deus.
Páscoa
de 2015
Eduardo
Aroso ©
TRÂNSITO SOLAR
O rosmaninho incita caminhos
Para um cortejo de oferendas
E a Páscoa é o que escorre
Do sonho concreto
Respondendo ao equinócio absoluto,
Porque a seiva e o sémen
São gémeos no amor equivalente.
Ruminância da terra
O chão inadiável e resoluto
Tudo é propulsão
Para escalas de cima abaixo,
Voos de pombas e aromas
Recuperam graciosamente
Linhas perdidas e espaçosas do paraíso
Que ficaram ilegíveis num papiro
Que hoje ninguém tem…
O rosmaninho abriu-se risonho
Numa confissão pública
Que transgride a crosta da terra.
Cresce para negar a morte
Que o duro Inverno
Parecia anunciar.
Eduardo Aroso
Páscoa, 2015
in http://www.triplov.com/espirito/aroso/2015/pascoa.htm
terça-feira, 31 de março de 2015
segunda-feira, 9 de março de 2015
DO CIVISMO (1)
O civismo - vulgarmente conhecido com alguma insuficiência por cidadania - deveria implementar-se a curto prazo com o mesmo rigor de controlo da classe política eleita, como o fisco o faz presentemente em relação ao contribuinte.
A proporção é desejável e urgente. As formas de alienação a que o «mainstream» nos submete, deverão transformar-se no mesmo rigor e verdade de não lesar a confiança política do eleitor, como o de não ser admissível a falta de pagamento na hora certa do que é devido ao Estado.
Eduardo Aroso
sexta-feira, 6 de março de 2015
AFORISMOS DE IMANÊNCIA (33)
Os pássaros
sabem, por alguns sinais, pressentindo dias agitados. Não é conveniente ignorar
o seu piar. Eles já interpretaram o nosso absurdo silêncio, por um lado, e, de outro modo, o nosso
ruidoso escapismo da vida. Seria bom sabermos a linguagem dos
pássaros.
Eduardo Aroso, 6-3-2015
sábado, 21 de fevereiro de 2015
Não te
espante o riso murcho das esquinas
Os rostos
pesados pelo adiamento planeado.Tudo são cargas sugadoras da alma
Deste povo tão curvado.
O olhar o chão
Vértebra sobre vértebra,
Voto atrás de voto
E o resultado são gritos para dentro
Que sufocam acção e pensamento.
Não te espante: o cinismo é claro e não finge
Mesmo quando inauguram praças e ruas
As mentiras são concubinas nuas
Exaurindo Portugal.
Mas se imitam a esfinge
O que neles predomina e mata
É a pata felina de animal.
20-2-2015
sábado, 14 de fevereiro de 2015
CRÓNICA (SAZONAL) DOS FINS DO SÉCULO
XXI
Alguns psicólogos da época – os que geralmente
iam aos programas televisivos da manhã – consideraram isso como a intensidade
máxima do amor, tendo alguns elaborado até uma espécie de escala do tipo da que
existia para medir imediatamente a hemoglobina dos diabéticos. O governo de
então apressou-se a apoiar a iniciativa como factor de estabilização e até
sustentabilidade social (curiosamente o que não disse nada sobre o assunto foi
o mais alto magistrado da nação, designado, nesse tempo, por Presidente da República).
O governo foi generoso e aos casais e os que de qualquer modo coabitavam, de
idades abaixo de 30 anos e acima de 10, fez um desconto no IRS desse ano de
0,2%. Imagine-se que até a imprensa internacional deu eco. Aliás, foi a própria
ministra das finanças que veio sublinhar que as boas práticas em Portugal devem
ser transparentes e vistas por quem quer que seja, e não às escondidas com
sacos azuis.
O ministro da educação, desse ano
da graça de dois mil e quinze, chegou a recomendar a prática nas escolas do
beijo demorado (fotografado e filmado, pois a História faz-se com documentos!),
como uma pedagogia eficaz contra actos bélicos que estalavam em todo o mundo.
Um comentador televisivo disse que era uma prática com boa alavancagem, isto é
dar-se nas bocas, contando que não se tirasse dos bolsos! Um deles, mais
utópico, via nesse dar a boca, durante minutos e horas, o gesto para, no
futuro, tapar as bocas de todos os esfomeados do mundo, acabando assim a pobreza,
reafirmando que estes beijos filmados eram, portanto, um bom exemplo. Nesse dia
cantou-se o hino nacional e os cinemas abriram as suas portas para quem
quisesse ver gratuitamente «As 50 sombras de Grey».
Eduardo Aroso (em viagem no
espaço e no tempo) ©
terça-feira, 10 de fevereiro de 2015
AFORISMOS DE IMANÊNCIA (32)
Todo o passado deve ser corrigido. Porque o acto humano sobre a Terra é sempre imperfeito, e a instintiva ânsia de o tornar melhor é que constitui a razão do presente e do futuro. Talvez por isso, Marx disse que a «História repete-se», mas nãono jeito de uma fotocópia...
Todos sabemos que, com ou sem «tragédia» da primeira vez e «farsa» da segunda (como queria o pensador germânico), o certo é que o jogo deve ser jogado. Corrigir o passado é jogar melhor agora o jogo. A Grécia ensaia já o tempo futuro para melhores heróis, seja qual for o país onde surja o novo Parnaso. Rectificar o passado é aperfeiçoar o trânsito humano neste mundo.
8-2-2015
Eduardo Aroso
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