sábado, 12 de dezembro de 2015

NATAL

Ver para além da chama,
Sentir mais que o calor.
Ao menos uma vez no ano
Não ferir a palavra amor...

No solstício buscamos
À maneira
De quem vai
Ao fundo da casa
Intocável todo o ano,
Onde um não sei quê estremece.
E no milagre da noite,
Reflectida na fogueira,
É uma abóbada de estrelas
Que nos aparece!

Eduardo Aroso
Dezembro 2015

segunda-feira, 16 de novembro de 2015

VARIAÇÕES SOBRE UM TEMA DE FERNANDO PESSOA ©
 [ANTÓNIO DE OLIVEIRA SALAZAR.]

António de Oliveira Salazar.
Três nomes em sequência regular…
António é António.
Oliveira é uma árvore.
Salazar é só apelido.
Até aí está bem.
O que não faz sentido
É o sentido que tudo isto tem.
(Fernando Pessoa)

ANÍBAL CAVACO SILVA

Aníbal Cavaco Silva.
Três nomes em sequência definitiva.
Aníbal é Aníbal
Cavaco também é árvore.
Silva é só apelido.
Até aí está bem
(Fora o resto que preocupa…).
O que não faz sentido
É o lugar que ele ocupa.

(Eduardo Aroso)©
 25-10-2015


segunda-feira, 9 de novembro de 2015


PAISAGENS (1) ©

O Outono é o que dele se quer ver. Mas sobretudo é o que é. Julgar que se pisam as folhas, quando elas ainda voam… A extensão do Outono é interrogar uma mutação de claridade. Numa escala larga de tons e microtons, ou seja, de cores definidas e outras bem menos, que apenas vemos como sequências admiráveis. É possível ainda recolher melodias fugazes que chegam aos átrios das aves que se aquietam em ninhos de serenidade.

Eduardo Aroso ©


8-11-2015

domingo, 8 de novembro de 2015

AINDA (E SEMPRE) A QUESTÃO DA POLARIDADE SOL-LUA  ©

A luz da Lua, ainda que nos chegue de outro modo, é na verdade a luz do Sol, como aliás nos explicitou admiravelmente Dane Rudhyard em «O Ciclo de Lunação». O facto de qualquer Tradição Espiritual atribuir ao Sol polaridade masculina e à Lua polaridade feminina, e para além do que se sabe da influência do nosso satélite sobre nós, leva-nos a pensar ainda na importância que tem o chamado «princípio feminino» que, neste caso, se verifica, como veremos, pela sua mobilidade, pelo que não nos custaria aceitar que este movimento de cerca de 4 semanas é como que uma qualidade ou atributo vigilante ou de cuidado que sempre presidiu à experiência maternal.

Todos os corpos celestes têm o seu movimento (até as chamadas “estrelas fixas” ). No caso do nosso Sistema, e ainda quanto ao Sol e à Lua, esta, relativamente ao primeiro, tem para nós habitantes da Terra, um papel de maior movimento e proximidade, e, talvez por isso, dir-se-ia de “assistência imediata”. Sendo que a fonte de luz é o Sol, a verdade é que, durante o movimento da lua nos cerca de 28 dias do ciclo inteiro, operam-se várias mudanças, por certo necessárias, nos domínios geológico, vegetal, animal e humano. Esse papel de maior proximidade, nem precisaria de uma imagem poética para o relacionarmos com a prontidão e também proximidade maternal de quem cuida. Assim, as nuances das 4 fases lunares, durante 4 semanas, contrastam com as mudanças mais lentas da luz solar durante um ano. E não é descabida a analogia do Outono e Inverno ( H.N.) com a fase minguante e a Primavera e o Verão com a fase crescente. Poderíamos ir mais além no alcance do ciclo lunar que, apesar da sua curta mas por certo necessária duração, está na origem dos primeiros calendários, ou seja, o ser humano apercebeu-se da «noção de ciclo», verificando a regularidade de certos fenómenos celestes, quando observava a Lua escura ou quando se ela apresentava cheia. 

A partir daqui – apenas pela observação da natureza cosmológica, portanto, livres de conceitos mais ou menos sociais e políticos - poderíamos fazer várias interrogações sobre o papel da natureza feminina na manutenção e progresso não só dos seres humanos, mas de todos os outros reinos. Alguma dificuldade se coloca, embora ela faça antever uma ampliação muito maior do que hoje se toma pela simples ideia de feminino ou igualdade de género. Inteligente graduação na luz solar, dada pela feminina Lua (seguramente justificação de haver este nosso satélite), que para nós terrestres em evolução (dir-se-ia em crescimento) é sinónimo de assistência imediata e protecção. O que não parece suscitar dúvida, quer pela psicologia quer pela cosmologia, é que as manifestações do princípio feminino, seja como for, estão mais próximas de nós, numa sábia e quase mágica plasticidade de realidades sensíveis e sentimentos. Perante tudo isto, não poderíamos nós, poeticamente, dizer que globalmente «a Lua amamenta» e também uma espécie de seta de intuição que nos leva ao passo seguinte? 

Não é difícil entender por que os grandes autores, no complexo enredo das suas obras colocaram a mulher, no seu exaltado princípio feminino, como guia: Petrarca escolheu Laura; Dante viu Beatriz; Beethoven uma incógnita amada e musa, e, pelo nosso Luís de Camões, é a deusa Tétis que mostra a Vasco da Gama a grande «machina do mundo» (Lusíadas, Canto X, 80).

Eduardo Aroso©

8-11-2015

sábado, 24 de outubro de 2015

TOMAR E OS SINAIS ©

Nas paredes altas
Mistério das dimensões,
Desabrocham árvores
Incrustadas no segredo.
Endócrinas e latejantes,
Arquitectura mais que vegetal.
Os pássaros sem idade e o rio
Despertam cedo
Refrescando o tempo promissor
De haver Portugal.
Na colina do rochedo
Paira o guardião-mor,
Ave
Que não morre;
E sussurra a brisa
Nas conchas invisíveis
Sobre portas talhadas
De outra chave.

Eduardo Aroso ©
Tomar, 23-10-2015



domingo, 18 de outubro de 2015

ABSOLUTIZAÇÃO

Não há limite.
A vida respira sempre:
Deus insiste.


Eduardo Aroso 
Outubro, 2015

quinta-feira, 24 de setembro de 2015

A QUESTÃO DA “QUEDA” ASTROLÓGICA DO SOL NO SIGNO DE BALANÇA ©
(a propósito do Equinócio de Outono)

Há um ponto obscuro na astrologia, que raros astrólogos explicitam. O SOL em queda em Balança, (HN) há-de referir-se ao SOL não só enquanto VITALIDADE (princípio de todas as coisas vivas),  mas ainda a um sentido profundo do EU. Vejamos o seguinte: Balança é o signo natural da 7ª casa, a dos contratos, uniões, parcerias, entre outros significados. Ora bem,  o espaço da 7ª casa até à 12ª é o hemisfério dos relacionamentos, da vida do EU SOU (1ª casa) com EU SOU COM OS OUTROS, (7ª casa), também chamado hemisfério diurno, enquanto o hemisfério da individualidade, da 1ª casa (Carneiro) à 6ª, Virgem é, simbolicamente, o da CONSTRUÇÃO DA INDIVIDUALIDADE, da PERSONALIDADE.
Quando chegamos a Balança, tempos que VIVER PARA O (S) OUTRO (S), num conjunto de experiências ao longo do tempo (ou vidas, numa perspectiva mais cósmica) que culminam no sacrifício final da 12ª casa (Peixes).
Portanto, a queda do Sol em Balança é, conforme o mito de Sansão, um afrouxamento no plano físico, e espiritualmente TAMBÉM É UMA ESPÉCIE DE AFROUXAMENTO DA INDIVIDUALIDADE EGOISTA. Repare-se que em Virgem, há uma SELECÇÃO OU CRIVO do que deve ficar como resíduo para ser INCORPORADO em Balança. Virgem é o símbolo da análise, do peneirar (por isso espiritualmente o símbolo da pureza), ou seja, extirpar o que não é bom para o ser. Portanto, o Sol que representa a consciência individual, ou seja, o EU SOU, sendo uma qualidade fundamental da individualização evolutiva, não pode ser excessivo e deve modular-se para EU SOU COM OUTROS (7ª casa, cujo regente natural é Balança) ter a sua “queda” egoica, para “se dar” aos outros e sair  mais do plano físico e personalístico. Por isso nesta casa reina o planeta Vénus, que não representa apenas o equilíbrio, as emoções, a estética, mas toda a capacidade de ATRAIR E COOPERAR EM ESPÍRITO DE GRUPO, cujo apogeu será na 11ª casa, regida naturalmente pela oitava superior de Vénus, o planeta URANO.

Obs. O que se disse é simbólico, mas, por isso mesmo, não menos verdadeiro, sendo que não podemos deduzir, pela lógica cartesiana, digamos assim, que quem nasce sob qualquer signo de Carneiro a Virgem é egoísta! É a posição de todos os planetas no mapa astrológico que permite um juízo global do que se disse sobre o sentido dos hemisférios.

Eduardo Aroso   

terça-feira, 22 de setembro de 2015

CENAS E PERSPECTIVAS (DO LADO DE CÁ, OU NÃO, DO TELEVISOR)

Quando olhamos a televisão, dá-se um fenómeno ao qual não tomamos bem o pulso, porque nos habituámos ao «pensamento que não pensa» como disse Heidegger. Seja uma transmissão em directo, seja o que for de ficção: telenovela, filme, ou outro. É quase compulsiva a tendência para tal se encarar numa perspectiva diferente da que seria a de estarmos lá, ou se esses acontecimentos se dessem aqui ao lado, ou mesmo vistos em épocas diferentes. O filósofo português António Telmo (1927-2010) disse algo como isto: se vemos imagens de alguém que já morreu, há mais ou menos tempo, se porventura víssemos essas pessoas de repente no nosso quarto, ou ao dobrar de uma esquina, ficaríamos gelados de medo e acharíamos algo estranho. Todavia, vê-las no ecrã não só não nos assusta, como muitas vezes até gostamos e deliramos!

Assim, temos o ecrã como intermediário entre duas perspectivas, o que tanto pode amortecer como exaltar. O interesse, prazer, ansiedade, numa cena de telenovela ou de um filme, de uma querela familiar, maquinação de negócios, ou cena amorosa – quantas vezes conferindo estatuto de ídolos às personagens – tudo isso reprovaríamos com desdém entre os nossos amigos e vizinhos.

Mas então aquilo não é ficção?! Aqui o virtual e o real. O primeiro deixou de ser IDEAL (no sentido filosófico helénico e até hegeliano) e assim passou-se a uma mera reprodução do quotidiano nos seus aspectos mais caricatos, quantas vezes manifestamente inferiores. O paradigma da não-proximidade lança desafios outros que a imaginação solta e certas convenções não aceitam do lado de cá do televisor ou do monitor perante a internet e agora o facebook com o novíssimo chat.

A nossa mente, que (ainda) mente, como diz o pensador Paulo Borges (1959), é assim simplesmente porque ainda não pensamos bem, não imaginamos as coisas livres do erro, atitude essa que nos está reservada num futuro ainda distante, tal escreveu Max Heindel em «Conceito Rosacruz do Cosmos». Libertar-se do (muito) desnecessário onde nos atolamos diariamente e concentrarmo-nos no essencial, ou como disse um outro filósofo português José Marinho (1904-1975), «no que mais importa», parece ser um caminho seguro. A tragédia do virtual contemporâneo, ainda que nele voem laivos de futurismos, deixou de expressar o IDEAL para ser o “barroquismo” mais rasteiro, onde a ausência de estética e ética, nos deixam cada vez mais atolados. Há, contudo, e sempre, a ave que se ergue das suas próprias cinzas.

Eduardo Aroso ©
Equinócio de Outono, 2015


quinta-feira, 17 de setembro de 2015

Tanto por fazer...
Se o silêncio tivesse cor, dir-se-ia que as tem todas ainda num estado dormente e semi-obscuro mas promissor. Horizonte promessa irreversível, semente sem entraves de germinação...

quarta-feira, 16 de setembro de 2015

 DESPERDÍCIO OU DESATENÇÃO?
(Breve evocação de Jorge Luis Borges)

Numa das suas célebres seis conferências, que a editora «Crítica» de Barcelona coligiu em 2001, Jorge Luis Borges fala-nos de uma BELEZA QUE ESCORRE CONSTANTEMENTE DO MUNDO. Na verdade, sempre os poetas viram o mundo mais profundamente, de um modo mais holístico, o que nos tempos actuais contrasta com a tendência para a temática de motivos emergentes e simultaneamente mutantes.
 Se por um lado é dever estar vigilante à imanência mais imediata da vida, o horizonte de esperança e de perenidade (que persiste sobre as catástrofes do mundo em qualquer época) só pode ser fixado por aquilo que, seja de que modo for, se move como constante nesta terra de passagem, linha de horizonte presente e alheia às mudanças do mundo. No mínimo requerido para este deserto de transição seria impossível, entre os escombros do viver humano, não existir a tal beleza escorrendo como a luz do sol em cada dia, que teimamos em ver apenas mecanicamente ou biologicamente com a sua devida importância para a vida vegetal e mais recentemente nos efeitos sobre a epiderme do ser humano.  
Porque até para ver a beleza que escorre dos figos entre os braços do Verão e do Outono, é necessário chegar perto deles ou tê-los na mão, essas lágrimas doces e generosas dos deuses, sabendo que muitos desses frutos vão cair no chão, sem que ninguém os aproveite.

Eduardo Aroso

15-09-2015

quarta-feira, 9 de setembro de 2015

SALMO NOCTURNO

Ó terraços do sublime,
varandas de asas
libertas de grades...
Distâncias encurtadas
de ocultas verdades.


Eduardo Aroso,
8-9-2015

sábado, 29 de agosto de 2015

DE UMA (RE) LEITURA DE «HISTÓRIA SECRETA DE PORTUGAL DE ANTÓNIO TELMO

Santa Maria, no portal sul do Mosteiro dos Jerónimos -  e cuja posição arquitectónica a António Telmo não passou despercebida na sua ímpar obra - lançando o seu olhar sobre o Atlântico, como que acompanhando a frota de Cabral, parece profetizar sobre a grande civilização do futuro a que se chama Brasil. De outro modo podemos vê-la, como indizível presença no altar dos céus que é o Cruzeiro do Sul, constelação que, segundo o emérito astrónomo brasileiro Ronaldo Rogério de Freitas Mourão, em «A Astronomia em Camões» a refere como «uma das glórias dos navegantes portugueses, que a teriam registado pela primeira vez». Não é descabido, portanto, vê-la com mais ou menos metáfora no céu nocturno sobre a cruz das quatro estrelas que Camões em «Os Lusíadas», VIII, 71, refere do seguinte modo: «Descobrir pôde a parte que faz clara/ De Argos, da Hidra a Luz, da Lebre e da Ara».

Santa Maria a mesma Senhora resplandecente sobre uma azinheira no centro de Portugal, e que no trânsito mistérico se poderá esclarecer talvez um dia se este local, onde, bem perto, os Templários assentaram praça, tem repercussão com o famigerado centro do mundo conhecido por Agartha e outros nomes. É deveras interessante pensarmos que o culto à Senhora, o mesmo é dizer a um supremo princípio maternal e feminino, foi requerido pelos Templários, guerreiros do lado de fora e secretos do lado de dentro, mas onde se vê claramente que os dois círculos e até o princípio da dualidade (veja-se o cavalo com duas figuras, que alguns identificam como o signo astrológico de Gémeos, o do movimento e das viagens) numa ordem guerreira, portanto dinâmica e marciana, tenha tido no seu seio a vibração da candura feminina da Virgem Maria. Já que de planetas também se fala, não me consta que se tenha reparado num pormenor notável: é que tanto as aparições de Fátima, de Maio, como as de Outubro se dão nos meses dos signos Touro e Balança, ambos regidos pelo planeta Vénus, da harmonia e da paz, conhecido também como a estrela d’ alva ou estrela da manhã e estrela da tarde.
Assim, no olhar benevolente e cintilante como o mais amplo horizonte ao nascer do sol, a mesma Senhora vigilante no portal sul dos Jerónimos ou da azinheira do centro de Portugal, parece confirmar e aguardar serenamente aquela frase que tantas vezes o mestre António Telmo proferia: «reunir o que está disperso».

© Eduardo Aroso, 29-8-2015, dia de plenilúnio.


EVOCANDO ANTÓNIO TELMO (2-5-1927/21-8-2010) HERMENEUTA DE “DIÁLOGOS DE AMOR” DE LEÃO HEBREU E AUTOR DE “A VERDADE DO AMOR”
A luz intensa e súbita pode cegar. Não se tem dito o mesmo do amor verdadeiro, esse quando irrompe como lava de vulcão, mais em forma de luz do que de temperatura… sobre as emoções rotineiras, vulgarizadas também como afectos, ou desalmadamente sob a forma de “ter um caso”, ou na degradada e absurda expressão “fazer amor”.
Pode amedrontar e em simultâneo causar espanto se o amor surge como uma espécie de epifania. Receio que nos pode paralisar momentaneamente, pois também a isso não ficou imune, na visão, Paulo na estrada de Damasco, onde os seus olhos ficaram cobertos de escamas durante dias. A verdade é que somos, por enquanto, vasos frágeis para conter essa torrente misteriosa que faz estremecer o mundo da matéria, ao mesmo tempo que só ela o pode mover.
Quando esse amor amedronta e causa espanto é também o sinal de que chegou a hora de sermos guerreiros de luz afrontando um falso adamastor que se ergue para barrar a verdadeira aventura divina no campo de batalha mais desamparado e obscuro em que presentemente vivemos.
Se é verdade que houve céu antes da terra, é certo que <a terra antes do céu> tem o sentido da Grande Obra, pois que da terra ninguém se pode alhear seja qual for o nirvana! Quem ergue a espada de luz, afrontando o adamastor do receio e do espanto, tem já dentro de sim a certeza, como se fosse um terraço que dá para o mar imenso de todas as possibilidades que se abrem na linha do horizonte. Também nós, os do Portugal da esfera armilar, queremos o oceano antes do céu.
Cabo Mondego, 20-8-2015
EDUARDO AROSO ©

quinta-feira, 30 de julho de 2015

CREDO LUSÍADA ©


Creio nas líquidas madrugadas
Último perfume da lua
(Ressaibos de saudade da lonjura),
Para desafiar o sol
Até ao zénite da aventura.

Cais das Colunas,
Julho de 2015
Eduardo Aroso ©

sábado, 25 de julho de 2015

AFORISMOS DE IMANÊNCIA (37)


Portugal, nação de muitos paradoxos, morreu (metaforicamente, ou não) jovem, com D. Sebastião, em Alcácer-Quibir, e agora morre na senilidade recalcitrante da figura do actual Presidente da República. Há contudo um outro Portugal a que se pode chamar Alma, que não é tempo, isto é, que só quando se expressa se reflecte no tempo.

Eduardo Aroso

25-7-2015

quinta-feira, 23 de julho de 2015


TRIBUTO  ©

A Max Heindel,
150 anos depois

Tu que ouviste o som inaudível para o mundo
E foste além do véu, testemunho
Da una fraternidade entre dimensões.
Abriste o palco da nova sinfonia
Para erguer outra realidade
No fumo das presentes ilusões.
Tu que na senda do mestre
Deixaste a todos o convite
Do caminho maior,
Luz ou seiva
Rosa-de-amor.
Tudo isso nos deste,
Pleno, sem hesitação.
A verdade espera e brilha
Além do pórtico
Sob as colunas mais altas
Da razão e do coração.

Eduardo Aroso  ©
Coimbra, 23-7-2015


terça-feira, 21 de julho de 2015

VERÃO 

As tardes de Julho suportam intervalos longos e estranhos, onde a consciência às vezes oscila entre cá e lá, desafiando qualquer fronteira. A ilusão de Cronos, vertida em nós, esse deus que apenas dura neste mundo, na vestimenta dos mortais. Orgulha-se porém de ser o guardião do exacto movimento de rotação da Terra. E assim nos alimenta de luz e dinamismo para o tempo singular de cada um, para as nuances que afloram em cada sentimento humano.
Cada um sentado à sombra subjectiva do banco de jardim, onde cada qual é um relógio onde se conta o tempo de outro jeito. Que façanha maior (a de um dia), obra mais alta, será a de pulsarmos todos - nem que seja por momentos - no mesmo ritmo misterioso de existir, na mesma respiração para o grande acorde da Vida!

Eduardo Aroso
21-7-2015

domingo, 19 de julho de 2015


RAZÃO NATURAL ©

Porque se o vento passa
É para trazer e levar:
O que nunca ouvimos dos segredos
Sob as pedras desde que nasceram;
Dos nossos gritos que morrem na cama
De partos e sonhos provocados,
Mas sem assistência.

Eduardo Aroso ©
19-7-2015


segunda-feira, 6 de julho de 2015

Sou poeta - também voluntariamente - fora de catálogo. Isso facilita as coisas a quem organiza o catálogo.

Eduardo Aroso
6-7-2015

terça-feira, 30 de junho de 2015

AFORISMOS DE IMANÊNCIA (36)

... e contudo, no meio da voracidade de juros de empréstimos,  nem Platão nem Aristóteles estão a cobrar direitos de autor das suas obras!

Eduardo Aroso
29-6-2015

domingo, 21 de junho de 2015

SOLSTÍCIO DE VERÃO 

É no limite
Que se decide.
Exígua noite
Onde o amor
Dá a curva
Mais acima
Às portas maiores
De Janus e João.
O fogo lavra o céu
Como a água
Fecunda o chão.

Eduardo Aroso ©
2015



quinta-feira, 18 de junho de 2015

CICLOS

Morre-se aqui
Para nascer acolá.
Nenhuma faca corta a vida.

Eduardo Aroso
Abril, 2015

quarta-feira, 17 de junho de 2015

ODE CURTA AO PLUTOCRATA

Não se suspende o poema
Como as pensões de sobrevivência!

Eduardo Aroso
Maio, 2015

domingo, 14 de junho de 2015


EM SANTARÉM
COM A MEMÓRIA DE IBN SARA

Leio nas linhas em desalinho de hoje
Tuas estrofes que já ninguém respira.
A saudade morre e renasce a cada inspiração,
Porque em todo o começo contrai-se o tempo.

Voava pela seda feminina das palavras
O perfume vigilante do salão,
A cintilação da noite
Nas pausas do poema.

Ah, a dor e o destino
Levaram-nos o monarca
No seu cavalo de sonho alado.
Mas a tua estrofe ficou
E ornada de melisma
Tornou-se fado.

Santarém, 12-6-2015
Eduardo Aroso

terça-feira, 9 de junho de 2015

ENDECHA

Quando a primavera irrompeu
Tínhamos o fogo da inocência
Sem que nada martelasse na bigorna.
Tinha que surgir o frio imprevisto
E a dor por ser funda,
Esse hino excelso e lento.
As estrelas teriam que cair todas uma a uma
Para sabermos que as semeamos como quem esgravata no tempo.

Eduardo Aroso ©

Junho, 2015

sábado, 30 de maio de 2015

POEMINHA DO CHAT

Esse belo animal doméstico
Em cujo pêlo
Se catam corredores de ilusão.

Eduardo Aroso
Maio, 2015

sábado, 23 de maio de 2015

APORTUGUESAR  PORTUGAL
(ou a justificação do paradoxo) 

Ansiamos por um D. Sancho I (O Povoador) para ajudar a resolver o grave problema a que se tem fechado os olhos durante décadas, e que está prestes a atingir o auge; a imagem do interior do país é o reflexo da assembleia da república como núcleo de interesses internacionais.
Gritamos por um D. Dinis, como pão para a boca, para evitar que se dizime o que resta dos pinhais e travar a epidemia do eucalipto, ainda que um ex-ministro tivesse afirmado que a dita árvore constitui o «nosso petróleo vegetal» (!).
 Um D. Dinis, Lavrador de Letras, que reforme as universidades do caos a que chegaram, abrindo janelas e limpando corredores labirínticos. Uma Isabel, Rainha Santa, para reformular as Festas Populares do Espírito Santo, ou a Consolação da Alegria sem brejeirice, a efusão do verdadeiro sentido de abundância e não de jactância, expurgando-as da deturpação e da apreensão de Roma, e manter vivo esse pioneiríssimo exemplo das Festas do Bodo, em que, sentados à mesa, Clero, Nobreza e Povo, o pobre era o primeiro a ser servido!
Um D. João I (o de Boa Memória, ao contrário dos governantes de hoje, sem memória) que fale para e com o Povo, e que proporcione a gestação de uma nova «Ínclita Geração».
De um novo D. Fernando, discreto na Corte, mas que sibilinamente olhe pelo património português.
Na convergência, um outro «Ultimatum» para o nosso tempo, muito além do dia de (re!) eleições.
Se a república “à portugaise” que entendeu substituir a monarquia, não é minimamente capaz de resolver as indigestões e congestões do país, então que se demita: mas melhor seria abrir escolas para ensinar a todos que a democracia de Sólon e de Clístenes está por fazer entre nós.

23-5-2015
Eduardo Aroso ©


AFORISMOS DE IMANÊNCIA (35)


Os fragmentos de barro, que ficam depois da extenuação do dia, são a ânfora mais bela da noite.


24-5-2015

Eduardo Aroso 

domingo, 3 de maio de 2015

ANTÓNIO TELMO
OU A RECONSTITUIÇÃO DE UMA MELODIA ORIGINAL

88 são as teclas de um piano de concerto!
Mas entre bemóis e sustenidos
Fica tudo o mais o que os dedos não tocam
O que se adivinha a seguir
E os tempos idos
Na inteira sensação
Que quem escuta de modo diverso sabe distinguir.

Um aroma move-se entre sons e silêncios.
E são essas impressões
Que não se apagam da memória
Quando se reconstitui o fio cantante
Da vida que ali ou mais além
Tem as suas modulações.

- Então volta toda a música como o nascer de sol
Um som que pede outro acima dele,
Um ritmo que se funde noutro mais complexo
Um pensamento que explode de luz íntima…
E tudo continua e se junta não tanto como no Bolero de Ravel,
Mas na praia atlântica onde a dança pertence às ninfas do sonho
E o som das ondas, uma a uma, reconstitui a cadência lusíada;
Uma flauta criou a escala necessária para dar todas as cores à sua melodia
Que se agarra comovida ao plâncton profundo da pátria.

Eduardo Aroso, 15-04-2015

In





sábado, 2 de maio de 2015

MATERNAL

Nome que tocas todos os nomes,
Madrugada viva de orvalho
Que nenhum deserto faz esquecer.
Sei que tudo fenece ao fim do esvoaçar
Do longo dia
E que há uma ave que nunca morre.
Em ti quando o mistério
Se faz luz,
O fogo do afago.

Eduardo Aroso ©

2015
DATA

Escreveste nos meus olhos,
Por isso não consegues apagar-te.

Eduardo Aroso
18-4-2015


sábado, 25 de abril de 2015

25 DE ABRIL – NOS MEANDROS DO SÍMBOLO E DA ACÇÃO

«O esforço é grande e o homem é pequeno» (Fernando Pessoa)
«O 25 de Abril é uma abstracção» (Maria José Morgado)

Quando falamos em abstracção, sobretudo no assunto em epígrafe, pisamos sempre um chão escorregadio, mas por vezes inevitável. O 5 de Outubro, embora de maior cisão, não deixa de ser também uma abstracção, se olharmos o que têm sido as repúblicas, ou o 1º de Dezembro, mais distante no tempo e por isso mais diluído. Juntas estas 3 datas vemos que a abstracção ainda se mantém com alguma pertinência, e que elas constituem o que se poderia chamar essencialmente o paradigma não realizado de governação e soberania nacionais. Ou seja, estamos sempre a ser governados de fora, o que, lapidarmente é ser governados por estrangeiros e pelos seus acólitos, os “estrangeirados” que nascem cá e têm bilhete de identidade português.

O cravo vermelho, sem dúvida o belo vegetal para anular a violência e o derramamento de sangue, colocado na ponta da espingarda de um militar de Abril, é um intra-símbolo da nuclear diferença do cravo que deve ser cultivado para um propósito e o cravo emprestado na circunstância. É certo que a História também é feita de imprevisto e o próprio cravo tomou o lugar do português na frase de Ortega y Gasset «eu sou eu e a minha circunstância».

O cravo seria para venda (quem lançou depois a profecia negra para que Portugal fosse sendo vendido aos poucos?!), mas as voltas da História permitiram a oferta. Isto mostra bem como apenas  a beleza e a generosidade na política, e nas mudanças sociais, não ditam a voz de comando e podem até trazer equívocos de tradução do símbolo para o sensível. O cravo na lapela tem sentido se o conquistarmos, e nisto falamos já de liberdade. Vigiá-la como a um ladrão?! Pois claro. No sentido de quem deve estar desperto e vigilante, porque na calada da noite o ladrão pode surgir, uma ameaça de morte. Há cerca de 10, 20 anos ainda se falava no binómio liberdade/responsabilidade. Este é o lugar certo da própria liberdade que não foi alimentada de uma pedagogia da responsabilidade. Não basta levantar a viçosa bandeira da santa liberdade no telhado da casa, quando no quintal já se cultivam ervas daninhas…
 E quando falamos de responsabilidade, a frase de Maria José Morgado ganha sentido, ainda que a eminente magistrada talvez não tenha esclarecido que há duas espécies: a abstracção como simples tese (sem antíteses e sínteses) e a abstracção que resulta em conceito, resultado de um percurso. Ou seja, a afirmação de M. J. M. está no reino da utopia, o que não lhe retira importância. Se o «homem é pequeno» e só «o esforço é grande», vale sempre a pena comemorar a utopia (pois também «a alma não é pequena»), mas começando pelo esforço de compreensão dos valores inerentes da própria utopia.
 Já Thomas More, em «Utopia» (1516), havia colocado o português Rafael Hitlodeu na proa dessa viagem, sem a qual não há movimento do mundo. O mesmo escritor renascentista (esta semana também lembrado por Santana-Maia Leonardo) que escreveu «Se Deus não nos reservar mais do que Justiça, ninguém se salva».


Eduardo Aroso, 22-4-2015  ©

quinta-feira, 16 de abril de 2015

O DIA DA VOZ,
A VOZ DOS DIAS
E A VOZ DOS OPRIMIDOS


Todos os dias têm voz. As muitas da natureza, sempre harmoniosas no seu conjunto, da mãe universal que não se deixa intimidar pelos “falsetes” humanos. Quanto às laringes, é bom pensar antes de falar. A emissão da voz é um assunto sério, desde a interpretação de uma ária de ópera a um «bom dia» enérgico e confiante, porque a palavra que desmoraliza, rebaixa e amesquinha nunca deveria vir ao mundo, isto é, nascer na goela…
A fala, o primeiro e o último meio de comunicação entre seres humanos, o que mais toca os intervenientes. Por isso, para mim é falsa a frase «vale mais uma imagem do que mil palavras».  Mesmo quando prègamos  seriamente no deserto, há sempre alguém que ouvirá a nossa voz, nem sempre no chamado tempo real. Se Sto António tivesse falado (escrito) sem sabedoria, não teriam escutado as suas palavras e ele não teria deixado para o futuro o seu sermão aos peixes, a voz que ficou para a posteridade, como a de um Pe António Vieira, a quem Pessoa chamou «imperador da Língua Portuguesa. Vieira há já 3 séculos falava pelos oprimidos. Não tendo voz os oprimidos de hoje, ou sendo a que ninguém ouve, quem fala hoje por eles, onde está a voz dos oprimidos?! Talvez já inscritas num futuro breve, para depois todos os glorificarmos nessas páginas que serão outro «muro das lamentações».


Eduardo Aroso, entre Miranda do Corvo e Coimbra, 16-4-2015

sábado, 11 de abril de 2015

EQUIDISTÂNCIA

Entre o céu e a terra
Os píncaros mais secretos
Não querem ser rastejantes.
Os extremos tocam-se.
Insuficientes são as frequências
Para saber do enigma do coração.
Sou um bicho de amor.
Sou um disco voador!

Eduardo Aroso ©
11-4-2015

terça-feira, 7 de abril de 2015

UM FIO DE ALEGRIA …

Sem ter em conta o terramoto de 1755, por certo de lágrimas tumultuosas e gritos dilacerantes, ou a afronta das invasões francesas saqueando tudo e todos, ou ainda a dolorosa espera nas filas do pão, de tempos menos distantes, nunca se viu tamanho acabrunhamento ambulante pelas nossas cidades, vilas e aldeias.
Nem a primavera afasta os olhares hirtos, as expressões cinzentas, a fome de alma, que passa diariamente por nós, sendo o mais subtil a desconfiança escondida como uma trave que vive dentro da carne e passa, onde, quantas vezes, o natural seria deter-se e dizer umas palavras, nem que fosse a saudação de bom-dia ou boa-tarde! E, paradoxalmente, quando há risos - porque os sorrisos são quase escassos – eis o riso provocado, às vezes apatetado (quando não grosseiro), e hoje com muitas receitas por todo o lado. 

Tudo isto não passa de um cortejo de actos e gestos desesperados para alcançar a alegria que não temos. Aqui poderíamos colocar a questão: é possível (já) não possuirmos algo e disso não ter consciência? No movimento lento das sociedades, talvez isso passe despercebido a muitos, pois que também o mundo é feito de mudanças. Fernando Pessoa, nas poucas entrevistas de imprensa que deu, tocou de algum modo no cerne da questão, ao responder sinteticamente que «a civilização é trocar uma coisa por outra».
Nesta objectiva e tão pragmática resposta esconde-se, todavia, o que tem atormentado muitos estudiosos: se a evolução se processa em espiral, como incorporar a quintessência da ganga que se deve atirar fora? Como encarar esse fio da alegria virginal, intocável que também Eugénio de Andrade exalta na sua poesia, alegria por dentro do robotizado mundo da tecnologia que, lenta mas seguramente, vai transferindo valores?
Substituir uma coisa por outra? Ou, neste caso, juntá-las?

Eduardo Aroso
7-4-2015


quinta-feira, 2 de abril de 2015

AS TRÊS NEGAÇÕES DE PEDRO

«E logo o galo cantou pela segunda vez. Então Pedro lembrou-se das palavras que Jesus lhe tinha dito: "Antes que o galo cante duas vezes, tu negar-me-ás três vezes". E pôs-se a chorar».  Marcos 14:72

As grandes negações da História (e por certo também afirmações) surgem na iminência das grandes mudanças, no auge de um período ou ciclo que finda, para que, naturalmente, outro comece. Quando o Bem abre clareiras, logo se lhe opõe o Mal e, ainda que este seja relativo, é uma força que está no teatro do mundo. Lei da Natureza: a uma acção corresponde sempre uma reacção. O leitor pode verificar que a um determinado pioneirismo espiritual e cultural (um movimento literário, por exemplo) segue-se um período de apatia, não só pela reacção de forças adversas como pela dificuldade em si dos discípulos continuarem com a mesma elevação o trabalho dos iniciadores. E até a nossa querida Fraternidade Rosacruz não esteve imune a isso!

A negação, considerada no percurso espiritual do estudante/probacionista /discípulo, segue o mesmo paralelismo, isto é, em alguma etapa negamos o Mestre e/ou a filosofia que abraçamos. Pode não ser uma negação explícita e não o será à medida que se avança, mas não nos esqueçamos do Padre António Vieira quando há três séculos já falava nos «pecados de comissão» e nos «pecados de omissão», assunto este que Max Heindel retoma numa das suas lições. O que deixamos de fazer pode, em certas circunstâncias, ser pecado no sentido de ofensa.
A negação pode pôr a descoberto as nossas fraquezas, que nos podem também assustar repentinamente, e isto não estará longe do que a moderna psicologia chama «a sombra» de cada um. Quantas vezes negámos as nossas convicções, não claramente, mas em actos que ferem a essência dos princípios? Alguns exegetas bíblicos têm visto na negação de Pedro a negação da própria essência do Cristianismo  (pois o apóstolo viria a ser a pedra-angular da chamada Igreja Romana), devido a acontecimentos como a Inquisição e mais recentemente no deboche de certa cúria do Vaticano. Mas este sentido da negação, pela sua extensão, é aqui obviamente ultrapassado.

Quanto ao galo, na Tradição, é um símbolo solar, o despertar, a vigilância,  o que se anuncia entre a noite e o dia. Pitágoras refere-se desta maneira «alimentai o galo e não o imoleis, pois ele é consagrado ao sol e à lua».
Em resumo, o episódio do Apóstolo Pedro deve ser motivo de reflexão, ainda que a natureza tenha sempre um galo pronto a um cantar de alerta, felizmente, pela misericórdia de Deus.

Páscoa de 2015
Eduardo Aroso ©



TRÂNSITO SOLAR

O rosmaninho incita caminhos
Para um cortejo de oferendas
E a Páscoa é o que escorre
Do sonho concreto
Respondendo ao equinócio absoluto,
Porque a seiva e o sémen
São gémeos no amor equivalente.

Ruminância da terra
O chão inadiável e resoluto
Tudo é propulsão
Para escalas de cima abaixo,
Voos de pombas e aromas
Recuperam graciosamente
Linhas perdidas e espaçosas do paraíso
Que ficaram ilegíveis num papiro
Que hoje ninguém tem…

O rosmaninho abriu-se risonho
Numa confissão pública
Que transgride a crosta da terra.
Cresce para negar a morte
Que o duro Inverno
Parecia anunciar.

Eduardo Aroso

Páscoa, 2015

in http://www.triplov.com/espirito/aroso/2015/pascoa.htm

terça-feira, 31 de março de 2015

Hoje
A História de Portugal
É escrita em papel de jornal.
A importação que fica mais cara
É de caixotes de lixo para a pátria.


Eduardo Aroso © 

segunda-feira, 9 de março de 2015

DO CIVISMO (1)

O civismo - vulgarmente conhecido com alguma insuficiência por cidadania - deveria implementar-se a curto prazo com o mesmo rigor de controlo da classe política eleita, como o fisco o faz presentemente em relação ao contribuinte.
A proporção é desejável e urgente. As formas de alienação a que o «mainstream» nos submete, deverão transformar-se no mesmo rigor e verdade de não lesar a confiança política do eleitor, como o de não ser admissível a falta de pagamento na hora certa do que é devido ao Estado.

Eduardo Aroso

sexta-feira, 6 de março de 2015

AFORISMOS DE IMANÊNCIA (33)


Os pássaros sabem, por alguns sinais, pressentindo dias agitados. Não é conveniente ignorar o seu piar. Eles já interpretaram o nosso absurdo silêncio, por um lado, e, de outro modo, o nosso ruidoso escapismo da vida. Seria bom sabermos a linguagem dos pássaros.
Eduardo Aroso, 6-3-2015

sábado, 21 de fevereiro de 2015



Não te espante o riso murcho das esquinas
Os rostos pesados pelo adiamento planeado.
Tudo são cargas sugadoras da alma
Deste povo tão curvado.
O olhar o chão
Vértebra sobre vértebra,
Voto atrás de voto
E o resultado são gritos para dentro
Que sufocam acção e pensamento.
Não te espante: o cinismo é claro e não finge
Mesmo quando inauguram praças e ruas
As mentiras são concubinas nuas
Exaurindo Portugal.
Mas se imitam a esfinge
O que neles predomina e mata
É a pata felina de animal.

 
Eduardo Aroso ©
20-2-2015

sábado, 14 de fevereiro de 2015

CRÓNICA (SAZONAL) DOS FINS DO SÉCULO XXI
 A «Comissão do Beijo» apreciou milhares de beijos, perante um público eufórico, só comparável ao das grandes finais de futebol, e perante as câmaras de televisão e ainda dezenas de fotógrafos. Diz-se que, naquele tempo, só coisas assim despertavam as pessoas da melancolia social e política portuguesa. Foi eleito então o par que esteve mais tempo com as bocas coladas, presumindo nós que o beijo já tinha sido dado (uns segundos bastam) e apenas estavam ali a permutar hormonas e não se sabe que mais.
 Alguns psicólogos da época – os que geralmente iam aos programas televisivos da manhã – consideraram isso como a intensidade máxima do amor, tendo alguns elaborado até uma espécie de escala do tipo da que existia para medir imediatamente a hemoglobina dos diabéticos. O governo de então apressou-se a apoiar a iniciativa como factor de estabilização e até sustentabilidade social (curiosamente o que não disse nada sobre o assunto foi o mais alto magistrado da nação, designado, nesse tempo, por Presidente da República). O governo foi generoso e aos casais e os que de qualquer modo coabitavam, de idades abaixo de 30 anos e acima de 10, fez um desconto no IRS desse ano de 0,2%. Imagine-se que até a imprensa internacional deu eco. Aliás, foi a própria ministra das finanças que veio sublinhar que as boas práticas em Portugal devem ser transparentes e vistas por quem quer que seja, e não às escondidas com sacos azuis.   
O ministro da educação, desse ano da graça de dois mil e quinze, chegou a recomendar a prática nas escolas do beijo demorado (fotografado e filmado, pois a História faz-se com documentos!), como uma pedagogia eficaz contra actos bélicos que estalavam em todo o mundo. Um comentador televisivo disse que era uma prática com boa alavancagem, isto é dar-se nas bocas, contando que não se tirasse dos bolsos! Um deles, mais utópico, via nesse dar a boca, durante minutos e horas, o gesto para, no futuro, tapar as bocas de todos os esfomeados do mundo, acabando assim a pobreza, reafirmando que estes beijos filmados eram, portanto, um bom exemplo. Nesse dia cantou-se o hino nacional e os cinemas abriram as suas portas para quem quisesse ver gratuitamente «As 50 sombras de Grey».
Eduardo Aroso (em viagem no espaço e no tempo) ©  

terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

AFORISMOS DE IMANÊNCIA (32)
 
Todo o passado deve ser corrigido. Porque o acto humano sobre a Terra é sempre imperfeito, e a instintiva ânsia de o tornar melhor é que constitui a razão do presente e do futuro. Talvez por isso, Marx disse que a «História repete-se», mas nãono jeito de uma fotocópia...
 Todos sabemos que, com ou sem «tragédia» da primeira vez e «farsa» da segunda (como queria o pensador germânico), o certo é que o jogo deve ser jogado. Corrigir o passado é jogar melhor agora o jogo. A Grécia ensaia já o tempo futuro para melhores heróis, seja qual for o país onde surja o novo Parnaso. Rectificar o passado é aperfeiçoar o trânsito humano neste mundo.
8-2-2015
Eduardo Aroso